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Crônica de Ademar Rafael

MAIS UM CICLO

Por: Ademar Rafael

Com esta crônica se encerra o sexto ciclo neste espaço. Tudo começou em 04.11.2012 com o primeiro texto que opinava sobre a manipulação das pesquisas eleitorais. Neste período procurei melhorar a cada dia, no
sentido contrário girou os levantamentos de apuração das tendências eleitorais.

Os resultados dos pleitos foram ficando distantes das sinalizações dos principais institutos de pesquisas e a credibilidade de outrora caminhou em direção ao nível de degradação que alguns gestores públicos levaram
suas atividades.

Neste momento cabe-me, como prestador do serviço, agradecer a cada leitor e a cada leitora que semanalmente prestigia nossas produções. Os críticos, em contatos diretos ou por meio eletrônico, estão fazendo a
parte deles. A minha parte no latifúndio é acatar as sugestões e procurar atender as expectativas.

É gratificante poder dividir minhas opiniões sobre os assuntos que julgo conveniente abordar e, principalmente, nunca achar que tenho a verdade plena comigo. A discordância sobre determinados assuntos é legítima e
serve como base para formação de juízo de valor que nos levem a convergência de idéias, sem conflitos.

Na próxima semana novo ciclo será iniciado. Com a mesma dedicação espero contribuir com este espaço, sem apontar o dedo em direção de qualquer pessoa. Procuro comentar fato, sem intenção de julgar quem os
pratica. Não fico em cima do muro, apresento-me na janela para receber pedradas.

Desejo os conteúdos produzidos não entrem regime de exaustão e continuem aparecendo nas manhas do primeiro dia útil da semana e merecendo a atenção dos leitores e das leitoras contumazes. Obrigado!

Crônica de Ademar Rafael

PERDAS IRREPARÁVEIS

Por: Ademar Rafael

Para os amantes da leitura e frequentadores assíduos de livrarias o dia 06.07.2018 não será lembrado como a data da eliminação da Seleção Brasileira da Copa do Mundo da Rússia, pela Bélgica.

Para este grupo a grande perda da data foi o encerramento das atividades da “Livraria Cultura do Paço Alfândega”, localizada no Recife Velho. Tomei conhecimento do fato através de uma postagem do amigo Daniel
Bueno, artista de primeira grandeza, de origem na cidade de Zé Dantas, nossa querida Carnaíba.

Circula na internet uma versão que o fechamento da livraria ocorreu por força de uma disputa judicial que envolve antigos e atuais donos da empresa, questão que alcançava até a locação do imóvel onde estava instalada a empresa. É impossível descartar que a crise econômica e a nossa incapacidade de perceber que compra de livros é investimento contribuíram para o triste desfecho. O pedido de Recuperação Judicial noticiado no final de outubro corrobora com este sentimento.

O fato nos remete ao fechamento da “Livraria Livro 7”, espaço localizado na Boa Vista e muito frequentado pelos adeptos da boa e salutar leitura. Tal livraria, com espaço superior a mil metros quadrados, foi classificada
como a maior livraria do Brasil. Sua privilegiada localização permitia a assiduidade de estudante e leitores contumazes durante todo horário de atendimento. Sua grandiosidade inspirou o escritor mineiro Fernando
Sabino a denominá-la de “Maracanã do Livro”. A “Livro 7” fez tanto sucesso que era entendida como um ponto turístico da capital pernambucana. Foi e será a livraria onde eu me sentia gratificado por ter o vício da leitura.

Dia 30.10.18 Daniel Bueno replica reportagem de Maria Fernandes Rodrigues do “Estadão” que narra o fechamento de vinte lojas da Livraria Saraiva em todo país. Perdas irreparáveis.

Crônica de Ademar Rafael

FRANCISCO

O historiador londrino Rob Howells, com base em seus vastos estudos sobre a história da Igreja Católica, publicou no livro “O último Papa” profecias atribuídas a São Malaquias. Estas previsões sugerem que Francisco será o pontífice, que testemunhará o fim do papado e o declínio da Igreja Católica Romana. O tempo e a vontade soberana de Deus dirão se as previsões serão reais, parciais ou irreais.

Uma coisa já é certa. Francisco é de fato um papa diferente. Desde o inicio do seu papado ele tem tomado atitudes que nenhum pensador ou estudioso do Vaticano ariscaria profetizar. Da sua maneira, tem enfrentado temas considerados “tabus” e manifestado opiniões sobre assuntos que sempre foram ignorados pelos seus antecessores.

No dia 07.07.2018, na cidade de Bari, sul da Itália, o Papa Francisco patrocinou um encontro que é um marco na história. O encontro ecumênico direcionado para uma “oração pela paz no oriente Médio”, com a participação do Santo Padre e representantes de igrejas cristãs católicas e ortodoxas do Oriente, reuniu na cidade italiana líderes
religiosos que representam partes da igreja, separadas nos séculos iniciais do cristianismo, com ênfase no Concílio de Éfeso no ano 341 d. C.

Na presença do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, do Papa Copta do Egito, do Patriarca Vigário de Constantinopla, do Patriarca Ortodoxo de Jerusalém e do Ministro de Assuntos Exteriores do Patriarcado
Ortodoxo do Moscou o anfitrião, após o gesto simbólico de libertação de pombas brancas, afirmou: “Nós nos comprometemos a caminhar, rezar e trabalhar e imploramos que a arte do encontro prevaleça sobre as
estratégias do confronto, que a ostentação de ameaçadores sinais de poder seja substituída pelo poder de sinais esperançosos”.

Caso ações como estas representem o fim do papado e o declínio da Igreja Católica de Roma a humanidade agradecerá e mundo ficará melhor.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

MARIA DA PAZ SOUZA*

Os que tiveram oportunidade de assistir Paizinha, nos matinês do Cine São José, viam naquela linda menina um diamante em fase de lapidação. Seu talento superava os concorrentes.

Veio o conjunto “Os Unidos”, maravilhoso invento de Seu Dino. Ali nossa grande cantora ao lado de Toinho Tarê, João do Baixo, Chagas e Edson Pilão trouxe alegria às tertúlias do Pajeú.

Foi levada para Marajoara de Sertânia onde, em parceria com Charuto, levou muitas pessoas aos bailes. Suas intervenções eram um espetáculo à parte. O sucesso extrapolava os limites do Pajeú, tornava-se, portanto,
um nome regional. Seu primeiro trabalho em disco trouxe uma interpretação de Súplica Cearense que o mais radical crítico dificilmente achará um ponto falho.

No velho continente reforçou seu potencial artístico. Na volta, com a mesma voz doce, agreste e bela presenteou o mundo da música com dois belos CD. O nome Maria da Paz é agora conhecido em todo país. Com inteligência rara defende as bases musicais que acredita. O asfalto não matou a Paizinha de Afogados.

Não vende de mesmo tanto das musas do axé. Não é sócia do programa do Faustão. Sua química é outra. Ouvir Maria da Paz é dar um presente para alma.

Quando deixei Afogados em 1982 recebi como presente de Leni, colega de Banco, uma fita com as músicas do primeiro LP de Maria da Paz. Foi durante muitos anos o único remédio que abrandava minha saudade. Sua
ida para outra dimensão deixa um vaco em nossos corações.

(*) – Publicado originalmente no site www.afogadosdaingazeira.com.br, e como Pessoas do meu Sertão X e no blogpenotícias à época do seu falecimento em julho-2018.

Crônica de Ademar Rafael

CÍRIO DE NAZARÉ

A fé, o carinho e a devoção impressa no rosto de cada participante do Círio de Nazaré em Belém do Pará não podem ser avaliados através de fotos ou de textos escritos. Somente se estivermos presente poderemos
medir a intensidade de tais manifestações.

Na massa humana que cobre o trajeto entre a Basílica Santuário de Nazaré e a Catedral de Belém, na Trasladação no sábado à noite, ou no trajeto entre a Catedral de Belém e a Basílica Santuário de Nazaré, no Círio na manhã do domingo não há ricos ou pobres; pretos, pardos ou brancos; altos ou baixos. Naquele espaço apenas existe devotos. Todos igualam-se neste nível.

A primeira procissão ocorreu em 08 de setembro de 1793. Poderíamos classificar como principais símbolos o manto, a berlinda e a corda. No entanto, com a devida vênia dos estudiosos do assunto, na minha avaliação a guarda da santa, os devotos comuns e os promesseiros trazem o calor humano que dá ao Círio a grandiosidade e gera a indescritível fonte de energia que nele impera.

Em um gesto de extrema intimidade os belenenses chamam carinhosamente a Virgem de Nazaré de “Nazinha”. Este tratamento, para mim exclusivo dos nativos da cidade das mangueiras, traz consigo a certeza que a misericórdia da padroeira da Amazônia permite tal aproximação.

Marabá e outras cidades do estado do Pará também realizam seus círios e a participação dos devotos, em número bem menor é claro, mantém a intensidade quanto à fé, o carinho e a devoção.

Cada templo mariano tem característica própria, contudo, a energia positiva que é gerada nos eventos aqui citados só acontece em função do poder ilimitado da nossa IMACULADA MÃE.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

BRICS, PARA QUE SERVE?

Na última semana de julho-2018 novamente os governantes de Brasil,Rússia, China, Índia e África do Sul se reuniram em Joanesburgo para jogar conversa fora justificando estudo e a adoção de medidas conjuntas para enfrentar a política protecionista do dono da terra, senhor Donald Trump.

A pergunta sem resposta é: Por que o resultado de tais encontros tem peso ZERO na solução dos problemas dos países e no atendimento dos objetivos do grupo?

Apesar de ser o caminho da lógica, não encontramos resposta ao considerarmos que conforme dados de 2017 o PIB dos países que formam o BRICS (22,8 trilhões de dólares) é superior ao PIB dos EUA (20,0 trilhões de dólares) e que os consumidores dos BRICS somam mais de 3 bilhões enquanto e nos EUA são 325,7 milhões.

As respostas começam a aparecer quando detalhamos os comportamentos dos países que compõem o bloco econômico idealizado pelo economista Jim O’Neill em 2001. Em um grupo onde cada um age olhando para seu umbigo o resultado coletivo será sempre pífio.

O Brasil teima em continuar sendo uma colônia dos EUA; a Rússia busca usar o grupo para superar disputas internas e melhorar sua relação com a União Européia; a Índia quer atrair para seu país todo que possa gerar
emprego e renda para sua imensa população; a China tem como meta principal empurrar suas “bugigangas” em toda face da terra e a África do Sul, mesmo com os estragos causados durante a época da segregação
racial, pensa com a cabeça de europeu.

Desta forma os governantes continuarão torrando dinheiro e gastando tinta e saliva para produzir documentos e intenções conjuntas sem qualquer eficácia e o BRICS será sempre sinônimo de quase nada.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

INTOLERÂNCIA

Desde que comecei a convier em ambientes coletivos ouvi que “política”, “religião” e “futebol” são assuntos cujas discussões não chegam ao consenso e que os debates podem gerar conflitos intermináveis.

Assim fui tocando o vida. Sempre que referidos temas surgiam em debates eu tentava fugir, mas dependendo do ambiente sempre apresentava minha versão sem esperar ser entendido.

Ao ultrapassar as barreiras dos sessenta anos, com o poder de argumentação em declínio, não entro em discussões sobre os três assuntos. No entanto, percebo que a cada dia as opiniões conflitantes sobre “política”, “religião” e “futebol“ ganharam a companhia da “intolerância”.

Com adição deste novo ingrediente os debates estão sendo conduzidos para um universo onde a incapacidade de convergência é instalada previamente e o caldo extraído tem gosto amargo.

Por motivos diversos estamos perdendo a capacidade de, pelo menos, tentar ouvir o pensamento alheio. Entramos nas disputas verbais e escritas com juízo de valor formado e a intolerância grassa nos contatos pessoais e nos meios virtuais.

O fenômeno de comunicação popularmente chamado de “redes sociais” tem colocado tempero perigoso nas relações entre os debatedores que,munidos dos arsenais cibernéticos, apontam jatos de venenos perigosos
em todas as direções.

Uma palavra destoante do pensamento de alguém é suficiente para propagação de ofensas que extrapolam qualquer perspectiva de convivência harmoniosa entre seres da mesma espécie, classificados como humanos.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

MANOEL JERÔNIMO NETO

Nos carrancudos anos 60/70, em Iguaraci, destaca-se Manoel Jerônimo Neto, agricultor, autodidata, poeta e sindicalista por excelência.

Antecipou-se e começou a desenvolver um trabalho de organização no meio rural, fazendo ressurgir o movimento esfacelado e sufocado pela revolução de 64.

Sua voz estridente dispensava megafone e suas idéias libertárias enfrentavam a ira de proprietários de terras que viam na figura de Manoel Jerônimo uma ameaça para seu estilo de gestão, baseado no favorecimento dos grupos dominantes e na exploração de mão-de-obra barata.

No campo poético Manoel Jerônimo travava embates com outros poetas da região no memorável programa no “Terreiro da Fazenda”, comandado por Waldecy Menezes.

Convivi com ele na qualidade de estudante em Iguaraci e posteriormente como funcionário do Banco do Brasil. Nesta segunda fase nas suas defesas para o atendimento dos pequenos produtores com crédito na hora certa e sem burocracia era visível o alto grau de inteligência. Suas veementes ponderações tinham sempre o viés social e eram dosadas de muita coerência.

Ideais defendidos por Manoel Jerônimo fortaleceram-se com o arremedo de volta da democracia, contudo, sofreram com ações dos governos entreguistas, no tocante a divisão de rendas. A subida do PT ao poder com certeza deu-lhe alegrias, a ruptura da mesma forma trouxe tristezas.O eco de qualquer grito do campo e em toda ação pelo direito a um pedaço de terra terá fragmentos da voz do nosso líder sindical.

(*) – Publicada originalmente no site www.afogadosdaingazeira.com.br, como Pessoas do meu sertão IX

Crônica de Ademar Rafael

AFOGADOS 109 ANOS

Ao participarmos das comemorações dos cento e nove anos de Afogados da Ingazeira, além de revermos amigos, contatamos que nove pontos merecem maior destaque. Tais fatos serão agrupados em blocos de três em virtude da correlação.

No primeiro grupo gostaríamos de destacar a parte relacionada com a décima quarta Expoagro. O zelo com área de exposição dos animais, o padrão racial do rebanho e a integração entre os organizadores e expositores são pontos que saltam à vista do observador exigente.

No grupamento dois destacamos a entrega dos títulos de cidadão afogadense para Professora Luiza Tadeia, educadora com relevantes serviços prestados na cidade no tocante e educação, e para o casal Patrícia Queiroz Farias e Sebastião Duque Cajueiro, com dedicação exemplar na área de administração de unidades de saúde na média e alta complexidades; a outorga da Medalha Dr. Orisvaldo Inácio para seguintes personalidades: Professor Luiz Alves, comunicador do Programa “Vida de Gado” Antônio Martins, radialista José Tenório, responsável pela Pastoral Carcerária Lourdes Leandro e comerciante Aniceto Elias de Brito e a participação ativa dos vereadores nos eventos, demonstração que Executivo e Legislativo superam os conflitos naturais quando o assunto é de interesse da comunidade.

Os três últimos pontos que merecem destaque são: a atenção data aos artistas locais e regionais na grade de shows, poucos eventos no nordeste deram tanto espaço para música de raiz como foi dado na festa de nossa cidade; a entrega da Unidade de Saúde para comunidade do Bairro Sobreira e da primeira parte da reforma da área de passeio na Avenida Rio Branco.

Parabéns para Afogados da Ingazeira, para os expositores e organizadores da Expoagro e para ao poder público.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

OS SANTOS, OS ZÉS E UMA MUSA.

Na noite de São João, no bairro Santo Antônio, no Pátio de São Pedro uma “nativa” de São José do Egito cantou divinamente músicas dos compositores Zé Dantas e Zé Marcolino. Bia Marinho encantou os presentes com uma apresentação digna de aplausos intermináveis.

De pés descalços, soltou os cabelos e a incomparável voz em favor da autêntica música nordestina. A banda, cujos filhos Greg e Miguel faziam parte, serviu de espaço para que o “o arco íris musical do Pajeú” demonstrasse toda sua exuberância e brilho.

Depois do show, em Afogados da Ingazeira, este cronista em conversas com amigos amantes da boa música afirmou o que ratifico nesta crônica. Temos salvação: “Enquanto vozes como a de Bia Marinho estivem ecoando pelos palcos de vida a música de raiz será eternizada”.

Na abertura do show a nossa “sabiá” interpretou a música “Caldeirão dos mitos” com uma intensidade tão elevada que se Bráulio Tavares e Elba Ramalho estivem na plateia teriam chorado de emoção. A beleza da interpretação não cabe em uma crônica composta somente de adjetivos.

A revoada sobre obras de Zé Dantas e Zé Marcolino ratificou a escolha que o dona da linda voz do Pajeú fez desde o início da sua carreira, ao lado de Zeto: “Defesa da nossa música com a garra que uma mãe defende seu filhote das garras de um predador”.

Foi ao Pátio de São Pedro com a certeza que assistiria a um espetáculo superior, não apenas por causa do reconhecido talento de Bia. Numa postagem que ela fez pela manhã do dia 23.06.18, carregando as baterias com o neto Zé, ficou evidente que a atmosfera estava pronta. Seria outra apresentação onde os não iluminados teriam somente que aplaudir e agradecer a Deus por está ali, naquele momento. Bia, que São José, São Pedro, São João e Santo Antônio protejam você e seus Zés.

Por: Ademar Rafael