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Crônica de Ademar Rafael

MEUS CAMINHOS, MEU SERTÃO.

Forçado pelo abandono que o governo de Pernambuco tem dado nos últimos anos às estradas da região do Pajeú na última semana de setembro-2020 preferi utilizar a estrada de chão que liga Iguaraci a Monteiro, em minha volta para João Pessoa – PB.

O que poderia ser um desconforto transformou-se em um belo reencontro com minha infância. No trajeto tive o privilégio de passar pelos riachos que lavaram meus pés, pelos poços e barragens que lavaram meu corpo e
pelos cenários que lavaram minha alma.

Transitar pelos caminhos que me levaram à escola na Fazenda Caiçara e posteriormente em Jabitacá e tomar um café com meu sobrinho no alpendre da casa onde nasci promoveram correntes de sentimentos que não podem ser descritas em palavras. Quando a emoção encanta o espírito o mundo material não define.

No sertão podemos até mudar a estética das casas e alterar o formato das cercas e essência do ambiente ninguém do planeta terra altera. Os locais onde pastorei as ovelhas e as vacas de leite, os campos onde busquei lenha seca para o fogão e para fogueira de São João pereciam esperar pela minha visita. Estavam nítidos e plenos como nos tempos idos.

Depois de muito tempo pude rever as casas da Quixaba, Caiçara, Serra Branca, Caroá e tantas outras fazendolas da região que moldou minha capacidade de suportar desafios e entender que o sertão está acima do país. Suas regras começam com coragem, trabalho e perseverança. Quando retornamos ao sertão a energia nele gerada nos desliga do mundo exterior, sua fornalha natural aquece do fio de cabelo ao tutano do osso.

Para decifrar “os sertões” precisamos estar nele. O que escreveu Guimarães Rosa e Euclides da Cunha servem de senha de entrada, a posse e o domínio exigem nossa presença. Viva o sertão, viva o Pajeú.


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Marconi de Albuquerque Urquiza
4 anos atrás

Muito bom. Sensível.

Hayton Rocha
4 anos atrás

O olhar saudoso sobre as coisas do seu Sertão não tem como não lembrar Guimarães Rosa: “…o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”