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Crônica de Ademar Rafael

FELIZARDO MOURA NUNES

Na época que Felizardo enfrentou um tratamento de saúde o amigo Danizete enviou-me uma quadra que Zé de Cazuza – uma das mais ricas memórias do Nordeste, poeta fenomenal que nos brindou com o livro “Poetas Encantadores”, cujo conteúdo além da sua magnífica obra cita criações de vários outros poetas – fez após a recuperação do filho.

Eis a obra prima: “O Deus que aos astros deu brilho/Fez vista grossa aos meus erros/Prá evitar três enterros/Do pai, da mãe e do filho.” É sem sombra de dúvida uma belíssima criação, prova que na angústia e no sofrimento o poeta se multiplica.

Felizardo é para este cronista o Rolando Boldrin do Sertão. Um festival de violeiros apresentado pelo poeta da Prata tem outra roupagem. Com estilo próprio, em segundos relata versos e pequena biografia dos artistas. Este método cria uma espiral energética que além de envolver os presentes, inspira os poetas. Cada vez que encontro Felizardo Moura  volto com um novo estoque de versos e causos.

O potencial nato de Felizardo foi aperfeiçoado não apenas com o talento do pai, foi moldado com o que ouviu de Pinto, Zé Marcolino, Lino Pedra Azul, Manoel Xudu, João Furiba, Geraldo Amâncio, Manoel Filó, dos irmãos Batista: Louro, Otacílio e Dimas e tantos outros magistrais poetas. Tenho certeza que Joselito Nunes e tantos outros escritores que narram histórias e “estórias” do sertão buscam matéria prima para seus livros.

Sua inspiração tem como principal insumo a região que nasceu. Naquele terreno até a queda de uma folha tem métrica, o choque dos cascos dos animais nas pedras tem ritmo de um martelo alagoano e o barulho da chuva no telhado da casa sede da Fazenda São Francisco segue a cadência de um sete linhas na toada de Canhotinho. Da mesma fonte bebem os irmãos Luis Homero e Miguel Marcondes, artistas que deram de presente ao Brasil as obras inseridas no álbum “Vates & Violas” – Tudo que é bom, presta”, além de outras gravadas com grandes vozes, dentre as
quais destacamos Val Patriota.

Recentemente, após assistir a partida em que o Afogados – Coruja do Sertão – triturou o Atlético Mineiro, fez o mote “A coruja atrevida do sertão/Fez história na Copa do Brasil”. Vários poetas glosaram sua criação e as estrofes correram o mundo da mesma forma que as reportagens sobre a eliminação do galo mineiro.

Muitos amigos acalentem o sonho de vê-lo como principal gestor público da cidade da Prata – PB. Caso seja para seu bem, para o bem povo e bem da cultura, que aconteça logo.

Adaptada da crônica Pessoas do meu sertão XXVI, publicada em www.afogadosdaingazeira.com.br.


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