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Crônica de Ademar Rafael

PONDERAÇÃO

Em outras oportunidades li o livro “O mundo do Sofia”, de Jostein Gaarder, para utilização em trabalhos acadêmicos na condição de aluno ou de professor. Recentemente fiz nova leitura, desta vez, pelo prazer da leitura. Cada frase foi “degustada” calmamente. Quero, nesta crônica, apresentar um entendimento agora assumido sobre parte do pensamento de Aristóteles e sua falta de sintonia com procedimentos sem ponderação que pratiquei no período pós-adolescência.

E que parte do pensamento do grande filósofo ateniense ignorei? A que trata do “meio-termo de ouro”. Extraído dos seguintes ensinamentos: “Não devemos ser nem covardes, nem audaciosos, mas corajosos”; “Também não devemos ser nem avarentos, nem extravagantes, mas generosos” e “Só através do equilíbrio e da moderação é que podemos nos tornar pessoas felizes ou harmônicas”.

Após a leitura deste texto alguém pode dizer: “O reconhecimento de um erro após os tantos anos serve para algo”? De acordo com meu ponto de vista a resposta é positiva. Toda vez que, em vida, reconhecemos uma atitude tomada como inadequada e dizemos isto sem reservas, no mínimo, estamos contribuindo para outras pessoas não pratiquem o mesmo erro. O reparo do dano é que pode ser tardio.

Por ignorar o sentido exato do “meio-termo de ouro”, cometi excessos, feri pessoas e queimei etapas da vida. Justificar que isto é coisa de jovem, todos nesta idade pensam assim é um caminho simplista, não colabora com o processo de evolução que cada um de nós carece para cumpri bem a missão em cada passagem pelo mundo.

Em nossas relações pessoais, familiares e com a comunidade quando feitas com ponderação e empatia gera a corrente que move o mundo em direção à paz e justiça social. Sejamos, pois, ponderados.

Por: Ademar Rafael

 

 

Crônica de Ademar Rafael

FESTAS DO POVO

Existem duas festas de padroeiros com as quais tenho perfeita identificação e sintonia. A festa de Nossa Senhora dos Remédios em Jabitacá – PE e a festa de Santo Antônio em Barbalha – CE.

Mantidas as devidas proporcionalidades com as populações do Distrito de Iguaraci – PE e da cidade dos verdes canaviais o público de cada festa é garantido pelas comunidades envolvidas e a presença dos visitantes apenas ratifica as cores cosmopolitas das duas manifestações religiosas.

Os versos libertários de Quincas Rafael e de Wilson Vieira, respectivamente, servem de piso para exposição do tecido cultural e devocional de cada festa, retirando delas as restrições impostas aos eventos plastificados pela interferência externa. A comunidade local apoderou-se dos encontros, transformando-os em festejos populares em que o profano e o sagrado convivem harmoniosamente sem agressões ou tentativa de neutralização de um pelo outro.

As bandas de pífanos são as grandes orquestras das festas, as procissões e as cerimônias religiosas nas igrejas e o entrelaçamento entre os membros das comunidades são elementos que dão aos festejos a argamassa de perpetuação.

Em Jabitacá a festa chega neste ano em sua centésima décima quinta edição e em Barbalha foi realizada e festa de número noventa e um, o tempo, em ambas situações, serviu para fortalecer a grandiosidade de cada evento e fincar suas raízes no solo composto pelo trio tradição, comunhão e devoção.

Por ter tido o privilégio de nascer em Jabitacá e ter trabalhado em Barbalha entre os anos de 1982 a 1992 identifico-me e mantenho plena sintonia com referidas manifestações religiosas e culturais. Que assim seja por muitos anos.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

O COMUNICADOR DA MAIORIA

O titular deste blog emprestou a este cronista o livro “O que eu disse e o que me disseram – A improvável vida de Geraldo Freire”, autografado pelo autor no dia 11.05.18, durante o lançamento na cidade de Serra Talhada. Para devolução ao dono, li a obra no período que estive em Juazeiro do Norte – Ceará, cidade próxima a serra de onde partiu o apresentador do programa “Super Manhã”.

A publicação de autoria de Geraldo Freire e Eugênio Jerônimo detalha a saga do comunicador que nas ondas do rádio leva aos seus ouvintes a informação com sua incomparável marca. Fica evidenciado na obra que infância pobre e trabalho não deforma ninguém, pelo contrário, serve de argamassa para formação de um cidadão munido de fibra e dotado elevado censo de responsabilidade solidária.

No livro encontramos um texto que narra uma situação corriqueira na época que Geraldo e sua família moravam na zona do rural do município de Pesqueira. Com a goma fornecida pelos vizinhos, nos dias de farinhada, a tapioca era feita e consumida insossa. Na residência de Seu Lauro, pai do futuro locutor das multidões, não havia sequer o sal. Isto não fez de Geraldo Freire um fracassado, transformou-o no gigante do rádio brasileiro.

Os seis primeiros capítulos do livro tratam da trajetória do comunicador desde a saída de Caririaçu no Ceará, passagem por Pesqueira e chegada ao Recife. Devem ser lidos com extremado zelo por conter muitas lições para vida. O segmento “O que eu disse e que me disseram”, dividido em sete partes, segue a sábia lição de que recado curto e preciso é melhor de entender, absorver e recontar. Os temas sevem para todos os gostos e atendem a multiplicidade de ideias dos ouvintes do grande líder de audiência.

Aos leitores e as leitoras que gostam de extrair lições em biografias afirmo sem medo: “O livro de Geraldo Freire tem muitos ensinamentos”.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

PEDIDO DE CRIANÇA

Esta crônica nasceu por força do atendimento a um pedido da criança que, graças a Deus, insiste em morar dentro de mim. Esta criança considera o Rio Pajeú o seu Rio Ródano e a Barragem de Brotas é o seu Mediterrâneo. Quando estive em Afogados da Ingazeira, na segunda quinzena de maio-2018, a criança que reside em minha carcaça seis ponto um insistiu para que eu fosse ver a Barragem de Brotas novamente cheia com as águas de lendário Pajeú.

No trajeto entre o prédio do Cine São José e a Barragem de Brotas percebi que no final da Avenida Rio Branco somente a Coletoria Estadual e a Igreja Presbiteriana continuam como colunas inabaláveis, que a linha do trem transformou-se em uma vala onde lixo e matagal substituíram trilhos e dormentes e que o antigo campo da estação onde desfilaram craques do Santa Cruz de Ninô, do Náutico da Igrejinha, do União e do Ferroviário atualmente serve para pisoteio de animais.

O melhor, contudo, estava por vir. Ao escutar o canto dos galos e ver a imagem mágica provocada pelos raios solares sobre os pendões de uma roça de milho, descobri: “A criança desejava que a sonoridade do cantar do galo precisava transitar novamente pelos meus ouvidos e a imagem do milharal devia ocupar meus olhos”.

Ao subir na parede da Barragem de Brotas deparei-me com a espetacular imagem da água rente ao sangrador. O contraste da água transparente pelo impacto da luz do sol e o verde das plantas aquáticas, mantida a proporcionalidade, levou-me até uma foto área do baixo amazonas. Parecia que o veio d’água representava o majestoso Rio Amazonas e as plantas aquáticas estavam no lugar da exuberante floresta.

Obrigado meu Deus por ter guiado meus passos para atender a criança que carrego com orgulho. Não devemos permitir que nossas obrigações impeça-nos de atender a criança que existem em nós, o gesto transforma-nos em seres melhores e mais felizes.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

SETE ARTES LIBERAIS

Neste sétimo mês do ano, vamos dar rasante sobre as sete artes liberais, para muitos a soma dos saberes necessários para formação dos homens.

Gramática – Pode ser definida como o estudo ou tratado dos fatos da língua falada e escrita. Uma corrente defende que é a mãe de todas as ciências. Dede Varão (Século II antes de Cristo) tem lugar de destaque.

Retórica – A ferramenta dos debates da oratória. Os sicilianos Corax e Tísias, o romano Cícero e o grego Górgias foram expoentes. Platão negava-lhe a classificação como arte.

Dialética – Da arte do diálogo foi elevada para a arte de demonstrar uma tese por meio de argumentos capazes de convencer os oponentes. Zenon e Sócrates são citados como pais da prática dialética.

Aritmética – Partindo do conceito de ciência ou teoria dos números chegou a arte de calcular. O papiro do Rhind (1.650 a.C.) registra a teoria e a sua aplicação prática.

Música – Segundo Santo Agostinho é a “ciência da boa modulação” e para outros grupos é a “linguagem do inconsciente”. Pinturas da Suméria e do Egito trazem registro da arte há mais de 450 anos.

Geometria – O ramo das matemáticas que trata das propriedades do espaço. Os babilônios já utilizavam a arte no período de 2.000 a 1.600 a. C. Grande evolução na cidade de Alexandria e com Euclides (300 a.C.).

Astronomia – Ciência que estuda os astros e os fenômenos celestes. Desde os assírios (800 a.C.) aos dias atuais a astronomia tem auxiliado cientistas na orientação sobre o futuro através dos astros.

Em quantas delas você se garante?

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

DAR PARA CONFIAR?

Algumas pessoas em conversas informais ou em encontro de trabalho perguntam o que eu acho do mercado de moedas virtuais. Invariavelmente eu respondo: “Estude bem o assunto, faça testes e desconfie de notícias isoladas sobre o tema”. O que motiva não emitir uma opinião segura sobre a famosas “criptomoedas”? O cuidado que devemos ter ao emitir uma opinião sobre algo que possa trazer prejuízo ao interlocutor e as dúvidas que envolve a questão.

E o que é palpável sobre o assunto? Que o tema começou a ser debatido ainda nos anos 80 quando a criptografia entrou na pauta mundial. Que a impotência dos órgãos de controle para detectar tempestivamente os procedimentos inadequados que provocaram a crise de 2008 nos Estados Unidos e que se espalhou pelo mundo nos anos seguintes foi determinante para o surgimento das bases técnicas de um “protocolo” para cuidar das transferências de valores entre pessoas sem controle de governos ou operadores dos sistemas financeiros.

Os conceitos criados por Satoshi Nakamoto, na proposta do “Bitcoin”, foram ampliados, o assunto virou moda e a expansão foi com a velocidade da luz. Numa busca rápida na rede mundial de computadores a popular “internet” encontraremos situações em que os ganhos para os investidores são superiores de mil por cento em curto espaço de tempo. Mesmo com a garantia que as plataformas utilizadas nas operações são confiáveis, que a rentabilidade publicada é real muitas dúvidas permanecem. Precisamos vencer o medo com prudência. Investimentos com moeda virtual é um processo sem volta.

O folclore bancário narra que um fazendeiro tinha quantia significante aplicada numa agência do interior e todo final de mês exigia que o gerente fosse com ele até o cofre o mostrasse onde estava o seu rico e suado dinheiro. Para não perder o cliente o gerente atendia a exigência do correntista. Quem assim pensa e age ficará longe do mercado virtual.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

JOÃO PEREIRA DA LUZ

João Paraibano, um dos maiores talentos da cantoria de viola, é o que poderemos chamar de joia rara, cuja lapidação deu-se sob o sol escaldante das barrancas do Rio Pajeú. Quem conheceu o início de sua carreira, como reserva do programa “Quando as violas se encontram” viu que os titulares Raimundo Borges e Moacir Laurentino lhe davam o papel de coadjuvante.

Com uma perseverança invejável João foi ocupando seu espaço até chegar ao maior parceiro: Sebastião Dias. Teve como principais incentivadores meu pai, seu compadre Jotinha, Beijo e João Ézio. O alpendre da casa sede na fazenda Humaitá, de Zezinho Moura, foi palco onde amolou sua guilhotina. Sentar ao lado de João, num pé de parede ou em um congresso é das mais difíceis missões para qualquer cantador. Tive oportunidade de ver muitos poetas, que antes torciam o nariz para João, apanhar dele em todos os baiões de uma cantoria, isto, porém nunca lhe deu força para pisar em alguém, pagou, sempre, as injustiças com versos.

Citar suas maiores estrofes é missão impossível. As seguintes, retiradas do livro “Roteiro de velhos cantadores e poetas populares do sertão”, de Luís Wilson, tem o intuito de embelezar esta crônica. Na deixa de Sebastião Dias: “No meu lar criamos muito/pato, peru e galinha”, Paraibano respondeu: “Me lembro de uma vaquinha/num curral sem ter cancela/comendo uns troncos de palma/cortados numa gamela/eu arriava o bezerro/mãe tirava o leite dela”. Em outra oportunidade ele disse: “Um pé de jerimunzeiro/que a água no tronco empoça/cria força na raiz/bota flor à rama engrossa/travessa a cerca do dono/via vingar na outra roça”.

A letra P acompanha João há muito tempo. Nasceu pobre no sítio Pica-pau de Princesa Izabel na Paraíba, ganhou a alcunha de Paraibano, mora no Pajeú, e é Poeta. Portanto, peço permissão para parar.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

ESQUECIDOS PELA HISTÓRIA

É sabido que a história é contada pelos vencedores e nela cabe, quase que exclusivamente, os “amigos do rei”. Na história do Brasil existem fatos poucos relevantes que mereceram destaque assim como fatos com relevância que são levados para planos inferiores e até esquecidos.

Se fizermos uma pesquisa sobre a vida e a obra de José Lourenço Gomes da Silva – Zé Lourenço do Caldeirão (1872-1946), junto ao um grupo de alunos preparados para o ENEN poucos deles terão algo a responder.

Mas, afinal quem foi Zé Lourenço do Caldeirão? Trata-se caro leitor e cara leitora de um paraibano de Pilões de Dentro que ao chegar em Juazeiro do Norte – CE nos anos finais do século XIX passa a seguir Padre Cícero, participa de um grupo de penitentes e torna-se beato.

Conquista a confiança do Padre Cícero e dele recebe a missão de fundar uma comunidade agrícola nas imediações da cidade do Crato – CE, inicialmente no “Sítio Baixa Grande” e posteriormente no “Caldeirão”. Despertou a ira de fazendeiros locais e preocupação dos governantes pelas similaridades com a comunidade que Conselheiro criou em Canudos – BA e pelo êxito que a comunidade alcançou. Na grande seca de 1932 a fome passou longe do “Caldeirão”.

A morte do Padre Cícero, a reivindicação da área da comunidade pelos Salesianos e medo dos governos com a surgimento de um novo “Canudos” sacramentaram e total destruição da comunidade. Com expedições em setembro de trinta e seis e maio de trinta sete, a última com uso de bombardeio aéreo, a comunidade foi destruída.

Zé Lourenço que não ficou entre os mortos mudou-se para fazenda “União” região Exu – PE onde veio a falecer. Sua história precisa ser resgatada, ignorar seus feitos é negar outro massacre do poder.

Historiadores e pesquisadores da ativa, eis aí um tema a ser plenamente estudado.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

LEVADOS PELOS OUTROS

O palestrante José Luiz Tejon Megido, no primeiro capítulo do seu livro “Guerreiros não nascem prontos” apesenta uma tese de Daniel Goleman, autor da obra “Inteligência Emocional”, na qual fica evidenciado que apenas onze por cento das pessoas são engajadas; que dezenove por cento tendem a acompanhar o primeiro grupo; que cinquenta por cento são “turistas”, levam a vida na mesmice e que vinte por cento torcem agem para nada avance, são os “detonadores”.

O escritor e humanista Fernando Moraes no capitulo cinco do livro “O que te move”, cita a Teoria da Espiral do Silêncio, defendida pela socióloga alemã Elisabeth Neumann, que assegura a adesão das pessoas a uma opinião da maioria para evitar serem taxadas de ignorantes e não ficarem isoladas.

Ao juntarmos e teoria de Neumann com a tese de Goleman chegaremos fácil ao entendimento de que é maior a tendência para que as pessoas façam adesão ao pensamento dos “turistas” e dos “detonadores” do que dos engajados.

Não ficam muitas dúvidas sobre a convergência entre a lógica dos
manipuláveis pelas ideias da maioria com o pensamento dos que vivem na mesmice. A acomodação é a base da ação destes grupos.

A materialização da tendência joga o mundo para a vala comum. Os que preferem a sombra jamais ficarão expostos, seu lema é seguir a correnteza fugindo das corredeiras e principalmente das cachoeiras, o universo de alto risco e alta movimentação é exclusivo dos engajados.

Sabedores disto os manipulados de plantão agem nas redes sociais e nos meios de comunicação de massa atraindo os que nadam de braçadas na Teoria Espiral do Silêncio e deles fazendo o atrativo para novas adesões. Os levados pelos outros crescem em escala maior que os realizadores.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

SOM QUE INCOMODA E AGRIDE

Na engraçada versão de Erasmo Carlos a música “Calhambeque” fala sobre o conserto do “cadilac” e do sucesso que fez o “calhambeque”. Em cada estrofe há o registro do puro e elegante “bip bip”.

Nos dias atuais a sonora e convidativa buzina transformou-se em tragédia para dos ouvidos alheios e ferramenta para medição do alto grau de estresse dos motoristas.

Para utilização exagerada do equipamento não há respeito nem nas situações de descida ou subida de um idoso ou uma mãe com um filho de colo no veiculo parado, segundos são suficientes para acionamento da buzina.

A prática não deve ser vista somente como falta de capacidade de convivência em ambiente coletivo, no popular: “Falta de educação”, é também uma infração de trânsito.

O Código de Transito Brasileiro em seu artigo quarenta e um define que o uso da buzina deve ocorrer em situações de advertência a pedestres e/ou condutores, com a finalidade de evitar acidentes.

O mesmo marco regulatório, no artigo duzentos e vinte sete, que trata a infração como leve e estipula o valor da multa, esclarece que o acionamento deve ser breve, em horários específicos, longe de locais que careçam de silêncio e em altura compatível com a legislação.

O que vemos nas cidades e nas estradas é um festival de som que incomoda e agride. Muitas vezes parece uma disputa para ver quem buzina mais alto e por maior espaço de tempo.

Este, como outros casos de cidadania invertida, não será resolvido com leis e multas. O remédio é educação, educação e educação.

Por: Ademar Rafael