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Crônica de Ademar Rafael

AMARO BATISTA DA SILVA – SEU AMARO*

Amaro Pé de Pato permita-me a família do homenageado que o trate pela alcunha que foi conhecido por todos em nossa cidade.

Sua memória privilegiada permitida que os apostadores do jogo do bicho soubessem os números das placas de todos os veículos existentes em Afogados até os anos 70, bem como dos automóveis de usuários dos hotéis de Caranguejo, Dona Milinha ou Pousada Costa e vissem seus sonhos transformados em milhares, centenas e dezenas.

A entrega do secular “Diário de Pernambuco” era feita sob sol e chuva, seguindo uma ordem que apenas ele sabia, acredito que na sequência dos leitores mais apressados.

Torcedor inflamado do Guarany não perdia um treino ou um jogo, sempre disposto e contribuir com o time no que estivesse ao seu alcance.

Brincalhão, divertia-se com a citação da história do “bolo” ocorrida à beira do antigo campo do BAC. Quando alguns atletas, orquestrados por Lulu Pantera, mandaram bater um escanteio enquanto os outros jogadores comeram um bolo que ele levava para uma aniversariante.

Tinha no rosto o sorriso gratuito que apenas os habitantes do Pajeú possuem e exerceu os papéis de cambista e entregador de jornal com exemplar correção. Fazia questão de entregar o prêmio do jogo no mesmo dia e não permitia atraso na entrega do jornal.

Caro amigo Amaro: você faz parte da história de Afogados da Ingazeira, por ter trazido, em cada dia, a história do mundo via “Diário de Pernambuco” e, principalmente, pela sua simpatia e simplicidade.

Por: Ademar Rafael

(*) – Publicada originalmente no site www.afogadosdaingazeira.com.br, Pessoas do meu sertão V e inserida no livro “Afogados da Ingazeira – Memórias”, de Fernando Pires.

Crônica de Ademar Rafael

NOVOS OLHARES

Uma das obrigações que cumpro quando visito um centro de compras é passar por uma livraria. Há pouco dias em João Pessoa folheando o livro “O que lhe move – protagonismo social, uma revolução silenciosa”, do humanista e ativista social Fernando Moraes, deparei-me com um conteúdo capaz de provocar uma reflexão sobre a forma que tratamos os irmãos nesta época de isolamento.

O conteúdo da obra remete o leitor ou a leitora para um ambiente capaz de mudar a forma de olhar para o voluntariado. Provocações do estilo: “Ser bom é bom?”; “Protagonismos revolucionário e coletivo” e “Visão como conceito de totalidade” sugerem que o beneficiário da ação voluntária é muito mais que um carente, é um ser que precisa de amor.

A quarta capa do livro cita outras duas publicações do autor. “A arte de pertencer – os invisíveis do nosso século” e “Renovo: O poder de se reinventar – Qual foi a última coisa inspiradora que você fez?”

No início do livro “A arte de pertencer” encontrei a seguinte frase: “Um homem só tem o direito de olhar outro homem de cima para baixo se for para ajuda-lo e se levantar”, atribuída ao americano e jogador de beisebol Johnny Welch. Para este cronista que toda segunda feira ocupa o tempo de vocês leitores deste espaço a frase acima transcrita seria suficiente para um amplo debate sobre comportamento humano.

Enquanto o primeiro livro o autor sugere reflexões sobre “Fisiologismo social”, “Indiferença”. “Pertencimento” e “Educação”, esta última à luz dos pensamentos de Jean Piaget, Vygotsky, Maria Montessori, Paulo Freire, Antônio Carlos Gomes Costa e tantos outros que enxergam a educação como ato de libertação, em “Renovo” ele demostra que cidadania é muito mais que cumprir leis, pagar impostos, votar e respeitar ou outros por conveniência. Aborda o tema sob o ângulo da integralidade e da inspiração por meio de atitudes positivas e empáticas.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

REDESCOBRINDO RECIFE E OLINDA

Depois de muitos anos distante da capital do nosso Pernambuco e da cidade patrimônio da humanidade estou aos poucos redescobrindo as cidades irmãs que tanto visitei até os vinte e cinco anos.

Recentemente tive a felicidade de passar um final de semana em Recife e como um turista saudoso fui ao Alto da Sé, visitei o Museu de Arte Sacra de Pernambuco, transitei pelas estreitas ruas de Olinda e passei pelo Mosteiro de São Bento. Neste pequeno trajeto pude resgatar um a paixão que tenho pela cidade que Dom Helder Câmara lutou para humanizar.

Passei pelo Mercado da Madalena pisei novamente no “marco zero” na zona portuária de Recife. Percebi a transformação dos galpões abandonados em lojas e restaurantes e constatei a restauração de prédios que fizeram parte de cenários com os quais convivi na juventude.

Caminhar pelo esplendoroso espaço de compras que foi transformado o antigo “Paço da Alfandega” fortaleceu minha capacidade para defender nossa terra e provar para qualquer desavisado que a beleza arquitetônica do Recife velho deve muito pouco a outros locais com as mesmas características no Brasil e no mundo. Para um leitor compulsivo a Livraria Cultura ao lado do shopping é um deleite.

Assistir um curta metragem com tomadas no Sertão do Pajeú, e transitar no universo do “Rei do Baião” no Museu Cais do Sertão foi o ponto alto da redescoberta. A interatividade reinante no ambiente devolve ao sertanejo o direito de saber que nossa força cultural é ilimitada, que nosso Luiz Gonzaga não é um cidadão do mundo por acaso.

No final da tarde fui conhecer a arena Pernambuco. Excluídas as mazelas que a Copa do Mundo de 2010 nos deixou e o superfaturamento da obra fica a certeza que nosso Estado possui um espaço esportivo com padrão superior. Tenho muito a redescobrir, tempo não faltará.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

PRESENÇA

Os consultores indianos Raj Sisodia e Nilima Bhat, no livro “Liderança Shakti – O equilíbrio do poder feminino e masculino nos negócios”, dão destaque para três habilidades de liderança que ao nosso ver extrapolam o universo das organizações e que ao transitarem nas relações familiares e informais contribuem para geração de harmonia e benefícios coletivos.

A primeira é a plenitude. Com esta habilidade podemos costurar as partes separadas, unir os fragmentos para promover a integração necessária para construir o universo da totalidade.

A segunda habilidade é a flexibilidade. Com ela podemos ir de um ângulo ao outro sem romper a estrutura, sem comprometer a essência e preservar a originalidade. Neste ponto o bambu nos apresenta a forma ideal ao não enfrentar os ventos e sim ao moldar-se às suas exigências.

A congruência aparece como terceira habilidade destacada. Com ela é possível chegarmos ao nivelamento autêntico, ao alinhamento perfeito. Sua prática promove a integridade, a verdade como ela é e não como é desejável ser.

Os autores apresentam como condição imprescindível para aplicação
simultânea das habilidades acima mencionadas a figura da “presença”. Cabendo a ressalva que não se trata da presença física e sim aquela que carregamos dentro de nós. São os ensinamentos de quem admiramos, são os conselhos dos nossos pais e amigos.

Ao defendermos a prática da plenitude, da flexibilidade e da congruência para o bem coletivo o fazemos por entender que as fragilidades nas relações familiares e com os que nos cercam no convívio cotidiano derivam da ausência de tais habilidade e, principalmente, da presença no formato ideal. Isto é, a presença conectada com o bem coletivo, jamais a presença com o sentido de sufocar, restringir e manipular.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

LUIZ ALVES DOS SANTOS

Quem, como eu, tiver origem em família humilde entenderá melhor este texto sobre o Professor Luiz Alves dos Santos, oriundo de Carnaíba, educador incansável, agropecuarista, jogador de futebol e bom de papo.

Seu Luiz Diretor perpétuo do Colégio Comercial Monsenhor Pinto de Campos, nosso inesquecível Industrial, bateu em muitas portas, recebeu muita resposta negativa para sua luta em favor da entidade que dirigia e que para ela dedicou a vida.

Foi seu ímpeto que deu a Afogados da Ingazeira a primeira quadra de futebol de salão, a anterior – ao lado da cadeia – fora construída para voleibol. Foi sua garra que de sala em sala fez o prédio hoje existente. Contou com a ajuda de alunos, de professores e da sociedade, mas sua tenacidade fez a diferença. Ajudou a mim e a outros estudantes pobres sem interesses distantes da formação que acreditava ser a correta. Nunca ouvi dele um pedido de voto para ele ou candidato de sua simpatia.

Com seu jeito liberal abrandou muitas penas impostas pelo Professor Alberto, por Dona Fátima e pela sua esposa Dona Lucinda. Não os desautorizava, mas encontrava atenuantes e resolvia.

Participou do folclórico time do CEUB e vibrava ao ver a quadra do Ginásio cheia em noites de Barcelona. Vibra com o sucesso de cada ex-aluno com a mesma intensidade que festeja uma vitória de um filho. Cita, com orgulho, o nome dos ex-pupilos que estão bem colocados na vida e procura ajudar os que não tiveram a mesma sorte.

Existirá quem discorde, no entanto, vejo em Seu Luiz um exemplo e ser seguido quando falamos em persistência e dedicação a uma causa.

Por: Ademar Rafael

(*) – Publicada originalmente no site www.afogadosdaingazeira.com.br, Pessoas do meu sertão IV.

Crônica de Ademar Rafael

JOGADO AOS LEÕES

Um alto executivo do Banco do Brasil, com quem trabalhei nos anos do século passado, tinha uma tese que quando um grupo lançava alguém para determinado cargo vago antes do tempo era para queimar seu nome.

Na política brasileira isto é comum, muitos casos de fato é validando a tese da “queima” e também o para testar a densidade eleitoral no campo das especulações.

Desde o segundo semestre do ano passado alguns setores da imprensa, grupos partidários e segmentos da sociedade já “torraram” vários nomes assim como deixaram outros na pauta por semanas. Roberto Justus, Luciano Huck e Sérgio Moro foram figuras públicas que viram seus nomes lançados como candidatos à presidência.

Para o governo dos estados a lista é infinita e seguem a mesma lógica aplicada para os candidatos ao cargo máximo do executivo brasileiro. As intenções são diversas, no entanto a “queima” e o teste da densidade eleitoral aparecem como principais motivos para os lançamentos intempestivos. A legislação eleitoral permite tais aventuras, proíbe apenas que os supostos candidatos assumam tal condição antes dos prazos previstos nas normas. Desta forma a prática contempla muito interesses.

Na eleição de 1989 foram vinte e dois candidatos: Affonso Camargo, Afif, Aureliano Chaves, Brizola, Celso Brant, Collor, Correia, Enéas, Eudes Mattar, Gabeira, Lívia Maria, Lula, Maluf, Manoel Horta, Mário Covas, Marronzinho, P. G., Pedreira, Roberto Freire, Ronaldo Caiado, Ulysses Guimarães e Zamir. Outros foram “chamuscados”.

Em mensagem que recebi do titular deste blog, nesta semana, a lista de postulantes ao cargo de Presidente no pleito de 2018 já supera e marca de 1989. Teremos muitos figurantes e poucos com capacidade de chegar perto? Vamos aguardar as cartas serem jogadas à mesa em agosto.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

SERTÃO INFINITO

No período pós-páscoa, em meio a um monte de notícias nocivas à alma,aparece o sertão que amamos com seu infinito potencial de cultura e arte.

Para começo de história os sertanejos Val Patriota e Luizinho de Serra apresentaram-se no Bessa Grill de João Pessoa em projeto do também sertanejo Orlando Camboim, que abordou os temas “Seresta e Tributo a Dominguinhos”. Quem tive o privilégio de comparecer foi brindado com o talento da dupla do Pajeú, cada um com sua banda. Val trouxe sua inconfundível voz e Luizinho apresentou melodias de Dominguinhos e outros imortais do mundo do forró.

Na sequencia o apresentador Rolando Boldrin recebeu, em seu programa dominical da TV Cultura, Vital Farias e Paulo Matricó, crias de Taperoá – PB e Tabira – PE, respectivamente.

O filho de Taperoá apresentou a extraordinária música “Saga da Amazônia”, cuja letra é um lamento que com pequeno esforço ultrapassa o vasto território da Amazônia Legal e alcança o mais insensível ser que habita no mundo onde o resultado financeiro e o imediatismo esmaga pessoas e ambientes naturais.

O poeta de Tabira cantou duas músicas relacionadas com a preservação do meio ambiente, uma delas com letra do também poeta tabirense Dedé Monteiro. Após sua apresentação Matricó fez breve e denso comentário sobre sua região, citando Afogados da Ingazeira, Tabira e São José doEgito como ambientes poéticos. O veterano apresentador, ao lado do mineiro Décio Marques, fez registro destacando o potencial da região.

Para fechar o final de semana sertanejo a paraibana de São José de Piranhas Eduarda Brasil venceu o “The Voice Kids”, da Rede Globo e após o resultado cantou a música “Forró do Xenhenhém”, da também paraibana Cecéu. Nosso sertão é de fato: INFINITO.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

POESIAS FILOSÓFICAS

Toda vez que um visitante sentar para uma roda de conversa com Antônio José de Lima, egipsiense de primeira grandeza, sairá da reunião com pelo menos um “verso ou causo novo” sobre um poeta nordestino.

Com o lançamento do livro “Legado filosófico de poetas e repentistas semianalfabetos” Toinzé, como o autor e conhecido no universo pajeuzeiro, traz ao mundo versos e causos de poetas conhecidos e anônimos.

No prefácio o também poeta Antônio Marinho do Nascimento disseca o
título da obra dando-lhe uma amplitude que apenas os seres dotados de alto brilho podem fazer. Compatibilidade total entre prefaciador e autor.

Na leitura da coletânea encontramos estrofes maravilhosas, produzidas por poetas e repentistas tidos como semianalfabetos, mas, detentores de poderes ilimitados para jogar ao mundo poético e filosófico um rico estoque de poesias.

Na linguagem virtual o termo “viralizar” significa a ação de fazer com que algo se espalhe rapidamente, semelhante ao efeito viral. No mundo da poesia nordestina quando um “verso grande” corre de boca em boca podemos dizer que “viralizou”. Muitas estrofes inseridas no livro passaram por este fenômeno.

Na condição de amante da poesia popular fui gratificado ao encontrar entre poemas inseridos na pesquisa a obra de Elísio Félix da Costa – Canhotinho, intitulada “O remorso falando ao avarento” e ao descobrir que o magistral poema foi salvo por uma transcrição de Dona Helena, esposa de Lourival Batista e sogra do pesquisador.

O livro dá vida e voz a poetas anônimos e a versos registrados somente nas memórias dos apologistas. Vivia a poesia popular.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

PARA CHAMAR DE SEU

Esta história dos governantes ambicionarem um jornalista ou grupo de comunicação para “chamar de seu” é antiga. Steve Forbes e John Prevas no livro “Poder, ambição e glória” atestam que Alexandre (356-323 a.C.) e Aníbal (247-183 a.C.) levaram historiadores gregos para cobertura das suas vitórias durantes as batalhas que enfrentaram.

Em nosso Brasil Getúlio Vargas contou com o escudeiro Samuel Wainer e com o jornal “Última Hora” para enfrentar Carlos Lacerda e sua “Tribuna da Imprensa”.

JK, nosso presidente “bossa nova” foi abraçado pela turma ligada a Adolpho Bloch, as páginas da revista “Manchete” davam cores e brilho a vitoriosa careira política do filho de Diamantina.

O regime militar contou com o irrestrito apoio do trio Roberto Marinho, Antônio Carlos Magalhães e José Sarney para ampliar o que bom foi feito e reduzir a pó o que não era de agrado dos presidentes militares.

Sarney, enquanto presidente, manipulou em seu favor todos os grupos da comunicação a ele ligados e ligados aos “aliados”. Roberto Marinho foi seu maior consultor.

O príncipe FHC manteve debaixo dos seus pés “Folha de São Paulo”, “Estadão” e “Globo”. A revista “Primeira Leitura”, criada ao seu feitio por Reinaldo Azevedo, parou de circular após o fim do segundo mandato.

Os presidentes petistas contaram com os afagos da revista “Carta Capital” e “Caros Amigos”. A primeira continua em banca com os esforços de Mino Carta e a segunda parou sua publicação na edição nº 248.

Estes relatos provam que a “liberdade de expressão” requisitada por alguns jornalistas muitas vezes não é sinônimo de “independência”.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

WALDECY XAVIER DE MENEZES

Apesar de não ter nascido no sertão, os seus feitos e sua eterna defesa das causas do Pajeú capacita-o para figurar nesta coluna.

Waldecy Menezes figura de destaque nos anos 60 a 80 em nosso Afogados, foi um professor admirável. Viu antes de muitos educadores que a tênue linha do saber é tecida muito mais pela interface entre mestre e aprendiz do que por meio de provas em finais de períodos. Uma aula sua era o que podemos chamar de uma viagem ao desconhecido, porém, na bagagem de volta estava contida a sapiência, sua eloquência de doutrinador não deixava dúvidas.

Nos memoráveis desfiles de sete de setembro, seu ímpeto patriota estava presente. Por diversas vezes testemunhei lágrimas dos seus olhos, ao ver “seus” alunos cantarem o Hino Nacional na Praça Mons. Arruda Câmara.

Nas ondas da Pajeú, através do programa “No terreiro da fazenda”, deu voz e vez aos talentos da região. Poetas, sanfoneiros, pifeiros e cantadores apresentaram-se naquele espaço. Os poemas lidos por Waldecy ganhavam roupagem que apenas sua voz inconfundível era capaz de dar.

Quando podia, ele passava férias em Bonfim, na fazenda do amigo Luizinho Nunes. Ao passar em Jabitacá sempre dava um abraço em Quincas Rafael, poeta que a seu pedido compôs o poema “Sesquicentenário” incluso no livro “Afogados deu de tudo”.

Caro mestre, Deus não lhe poupou de ver as riquezas do nosso Brasil serem entregues, para abrandar a usura do capital especulativo, a segregação social e a injusta distribuição de rendas. Feitos que deixarão uma marca tão profunda quanto à escravidão, que você tanto condenava.

Por: Ademar Rafael