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Crônica de Ademar Rafael

CRÔNICA 313

Nossa trajetória neste espaço chega à crônica de número 313. Em cada semana nossos textos são entregues com muito carinho e com o propósito de dialogar sobre assuntos diversos. Nesta oportunidade queremos trazer para dentro deste texto uma figura humana que muito contribui para nossa evolução como ser humano, como cidadão e como profissional. Trata-se de Hélio Noronha de Deus, mineiro da Carmo do Paranaíba que divide seu coração em partes iguais entre o cerrado de Minas Gerais e o sertão de Pernambuco.

Desde que aqui chegou no final dos anos 1970 o “mineirinho” como carinhosamente é chamado adotou o Pajeú como sua segunda pátria e fez muitas amizades. Por questão de limitação deste espaço destaco três. O pai do gestor deste blog Zezito Sá, Totonho Valadares e José Cerquinha da Fonseca, nosso eterno Zé Coió.

Em qualquer lugar que Hélio comigo se encontrava transmitia notícias do meu Pajeú como que aqui estivesse residindo. Se por acaso eu estivesse vindo em direção ao nosso em direção ele fazia um pedido. Dê um abraço em Totonho e visite Coió. A notícia do seu falecimento eu soube através de Hélio.

Para este cronista Hélio foi muito além de um colega de trabalho no Banco do Brasil, foi um grande incentivador para que eu produzisse poemas e crônicas. Sempre viu em mim um talento muito acima do que existe. Como meu superior me fez enxergar que mesmo no mundo das finanças é possível enxergarmos as pessoas e tratá-las com dignidade e respeito. Obrigado meu amigo, obrigados leitores e leitoras deste espaço.

313 é o numero cabalístico que o “mineirinho” carrega consigo. Chegou a ter um carro com esta placa. Por isto queremos encerrar narrando que foi no ano de 313 que Constantino, através do “Édito de Milão”, estabeleceu a neutralidade do Império Romano nas questões cristãs e cessou as perseguições. O imperador filho de Helena implementou a tolerância que Hélio Noronha de Deus sempre defende e aplica.

Por Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

CONTAGEM REGRESSIVA

Os três últimos parágrafos da crônica “O escritor e a biblioteca”, publicada neste espaço em 02.10.2017, discorreram sobre o museu que será instalado na antiga “Casa de Pedra”, em Jabitacá – Iguaraci – PE.

É chegada a hora de iniciarmos o processo. No próximo ano vamos tratar das questões relacionadas com a burocracia, em 2020 realizaremos audiências públicas com o projeto original para receber críticas, ser emendado e colocado em prática. Esta ordem foi invertida uma vez que o entendimento inicial previa as audiências públicas como primeira ação. A previsão é que em 2021, quando comemoramos o centenário do mentor da idéia o poeta Joaquim Rafael de Freitas – Quincas Rafael, faremos a inauguração do espaço com a estrutura disponível e o acervo até então captado e catalogado.

Nesta fase embrionária utilizaremos a massa crítica disponível na Universidade Federal de Pernambuco e em outras entidades com atividades relacionadas do o assunto, existentes em nossa região. Entusiastas da preservação da história de nossa região serão convocados, este museu será de interesse coletivo e como tal a participação será a principal argamassa.

Em 2019, simultaneamente com a solução dos aspectos burocráticos, utilizaremos os espaços dos blogs regionais e das emissoras de rádio da região. Neste ponto merece destaque a plena adesão do comunicador Nill Júnior ao ser abordado sobre o tema durante a festa da Padroeira de Jabitacá, no dia 15.08.2018. Bateremos em muitas portas, as que se abrirem serão plenamente utilizadas.

Sabedores das dificuldades que encontraremos e conscientes da importância do museu para resgate e preservação da nossa história, não mediremos esforços para que o cronograma acima seja cumprido e a contagem regressiva funcione como fator motivacional. Opiniões e sugestões, neste primeiro momento, podem ser enviadas para aherasa@yahoo.com.br, com a epígrafe MUSEU.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

LAURA RAMOS DE BRITO*

Na época de sua morte o poeta João Paraibano escreveu em uma de suas estrofes os seguintes versos “A senhora não deve a Afogados, Afogados é que deve pra senhora”. Além da beleza métrica a mensagem espelha,
com muita nitidez uma verdade: Dona Laura realmente fez muito por Afogados.

Como colega de sala de aula de Bila, amigo de Antônio e de Heleno e funcionário de Aniceto tive a honra de conviver na residência de Dona Laura. Mãe exemplar saiba quem eram os pais dos amigos e das amigas
dos seus filhos e das suas filhas.

Os genros e noras eram tratados como filhos e filhas, ai de quem fizesse uma injustiça com um dos seus. Com respeito, porém com muita veemência, ela defendia sua família.

Era o ponto de equilíbrio e o calmante para Zé Mariano na hora em que ele pretendia punir um dos filhos caso cometesse um desvio, sob sua ótica.

No comércio conhecia pelo nome todos os clientes e sempre perguntava por outro membro da família ao encontrar um amigo. Tinha invariavelmente uma palavra de apoio para quem a procurasse. Desconheço um caso de uma pessoa que tenha batido em sua porta e ficado ao relento.

Foi a grande conselheira e confidente de Antônio Mariano, falecido em agosto último. Em 83 levei uns amigos do Ceará para conhecer Afogados e Antônio, após uma bela rodada de cerveja no clube campestre, nos levou a sua casa para que os cearenses conhecessem Dona Laura, apresentando-a como o grande esteio da sua carreira política.

Em suas compras de presentes, ao final de cada de ano, Dona Laura incluía todos os seus funcionários, com os quais dividia sua farta mesa.

Assim defino a eterna Dama da Manoel Borba.

*) – Originalmente publicada no site www.afogadosdaingazeira.com.br, como Pessoas do meu sertão XI.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

MAIS UM CICLO

Por: Ademar Rafael

Com esta crônica se encerra o sexto ciclo neste espaço. Tudo começou em 04.11.2012 com o primeiro texto que opinava sobre a manipulação das pesquisas eleitorais. Neste período procurei melhorar a cada dia, no
sentido contrário girou os levantamentos de apuração das tendências eleitorais.

Os resultados dos pleitos foram ficando distantes das sinalizações dos principais institutos de pesquisas e a credibilidade de outrora caminhou em direção ao nível de degradação que alguns gestores públicos levaram
suas atividades.

Neste momento cabe-me, como prestador do serviço, agradecer a cada leitor e a cada leitora que semanalmente prestigia nossas produções. Os críticos, em contatos diretos ou por meio eletrônico, estão fazendo a
parte deles. A minha parte no latifúndio é acatar as sugestões e procurar atender as expectativas.

É gratificante poder dividir minhas opiniões sobre os assuntos que julgo conveniente abordar e, principalmente, nunca achar que tenho a verdade plena comigo. A discordância sobre determinados assuntos é legítima e
serve como base para formação de juízo de valor que nos levem a convergência de idéias, sem conflitos.

Na próxima semana novo ciclo será iniciado. Com a mesma dedicação espero contribuir com este espaço, sem apontar o dedo em direção de qualquer pessoa. Procuro comentar fato, sem intenção de julgar quem os
pratica. Não fico em cima do muro, apresento-me na janela para receber pedradas.

Desejo os conteúdos produzidos não entrem regime de exaustão e continuem aparecendo nas manhas do primeiro dia útil da semana e merecendo a atenção dos leitores e das leitoras contumazes. Obrigado!

Crônica de Ademar Rafael

PERDAS IRREPARÁVEIS

Por: Ademar Rafael

Para os amantes da leitura e frequentadores assíduos de livrarias o dia 06.07.2018 não será lembrado como a data da eliminação da Seleção Brasileira da Copa do Mundo da Rússia, pela Bélgica.

Para este grupo a grande perda da data foi o encerramento das atividades da “Livraria Cultura do Paço Alfândega”, localizada no Recife Velho. Tomei conhecimento do fato através de uma postagem do amigo Daniel
Bueno, artista de primeira grandeza, de origem na cidade de Zé Dantas, nossa querida Carnaíba.

Circula na internet uma versão que o fechamento da livraria ocorreu por força de uma disputa judicial que envolve antigos e atuais donos da empresa, questão que alcançava até a locação do imóvel onde estava instalada a empresa. É impossível descartar que a crise econômica e a nossa incapacidade de perceber que compra de livros é investimento contribuíram para o triste desfecho. O pedido de Recuperação Judicial noticiado no final de outubro corrobora com este sentimento.

O fato nos remete ao fechamento da “Livraria Livro 7”, espaço localizado na Boa Vista e muito frequentado pelos adeptos da boa e salutar leitura. Tal livraria, com espaço superior a mil metros quadrados, foi classificada
como a maior livraria do Brasil. Sua privilegiada localização permitia a assiduidade de estudante e leitores contumazes durante todo horário de atendimento. Sua grandiosidade inspirou o escritor mineiro Fernando
Sabino a denominá-la de “Maracanã do Livro”. A “Livro 7” fez tanto sucesso que era entendida como um ponto turístico da capital pernambucana. Foi e será a livraria onde eu me sentia gratificado por ter o vício da leitura.

Dia 30.10.18 Daniel Bueno replica reportagem de Maria Fernandes Rodrigues do “Estadão” que narra o fechamento de vinte lojas da Livraria Saraiva em todo país. Perdas irreparáveis.

Crônica de Ademar Rafael

FRANCISCO

O historiador londrino Rob Howells, com base em seus vastos estudos sobre a história da Igreja Católica, publicou no livro “O último Papa” profecias atribuídas a São Malaquias. Estas previsões sugerem que Francisco será o pontífice, que testemunhará o fim do papado e o declínio da Igreja Católica Romana. O tempo e a vontade soberana de Deus dirão se as previsões serão reais, parciais ou irreais.

Uma coisa já é certa. Francisco é de fato um papa diferente. Desde o inicio do seu papado ele tem tomado atitudes que nenhum pensador ou estudioso do Vaticano ariscaria profetizar. Da sua maneira, tem enfrentado temas considerados “tabus” e manifestado opiniões sobre assuntos que sempre foram ignorados pelos seus antecessores.

No dia 07.07.2018, na cidade de Bari, sul da Itália, o Papa Francisco patrocinou um encontro que é um marco na história. O encontro ecumênico direcionado para uma “oração pela paz no oriente Médio”, com a participação do Santo Padre e representantes de igrejas cristãs católicas e ortodoxas do Oriente, reuniu na cidade italiana líderes
religiosos que representam partes da igreja, separadas nos séculos iniciais do cristianismo, com ênfase no Concílio de Éfeso no ano 341 d. C.

Na presença do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, do Papa Copta do Egito, do Patriarca Vigário de Constantinopla, do Patriarca Ortodoxo de Jerusalém e do Ministro de Assuntos Exteriores do Patriarcado
Ortodoxo do Moscou o anfitrião, após o gesto simbólico de libertação de pombas brancas, afirmou: “Nós nos comprometemos a caminhar, rezar e trabalhar e imploramos que a arte do encontro prevaleça sobre as
estratégias do confronto, que a ostentação de ameaçadores sinais de poder seja substituída pelo poder de sinais esperançosos”.

Caso ações como estas representem o fim do papado e o declínio da Igreja Católica de Roma a humanidade agradecerá e mundo ficará melhor.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

MARIA DA PAZ SOUZA*

Os que tiveram oportunidade de assistir Paizinha, nos matinês do Cine São José, viam naquela linda menina um diamante em fase de lapidação. Seu talento superava os concorrentes.

Veio o conjunto “Os Unidos”, maravilhoso invento de Seu Dino. Ali nossa grande cantora ao lado de Toinho Tarê, João do Baixo, Chagas e Edson Pilão trouxe alegria às tertúlias do Pajeú.

Foi levada para Marajoara de Sertânia onde, em parceria com Charuto, levou muitas pessoas aos bailes. Suas intervenções eram um espetáculo à parte. O sucesso extrapolava os limites do Pajeú, tornava-se, portanto,
um nome regional. Seu primeiro trabalho em disco trouxe uma interpretação de Súplica Cearense que o mais radical crítico dificilmente achará um ponto falho.

No velho continente reforçou seu potencial artístico. Na volta, com a mesma voz doce, agreste e bela presenteou o mundo da música com dois belos CD. O nome Maria da Paz é agora conhecido em todo país. Com inteligência rara defende as bases musicais que acredita. O asfalto não matou a Paizinha de Afogados.

Não vende de mesmo tanto das musas do axé. Não é sócia do programa do Faustão. Sua química é outra. Ouvir Maria da Paz é dar um presente para alma.

Quando deixei Afogados em 1982 recebi como presente de Leni, colega de Banco, uma fita com as músicas do primeiro LP de Maria da Paz. Foi durante muitos anos o único remédio que abrandava minha saudade. Sua
ida para outra dimensão deixa um vaco em nossos corações.

(*) – Publicado originalmente no site www.afogadosdaingazeira.com.br, e como Pessoas do meu Sertão X e no blogpenotícias à época do seu falecimento em julho-2018.

Crônica de Ademar Rafael

CÍRIO DE NAZARÉ

A fé, o carinho e a devoção impressa no rosto de cada participante do Círio de Nazaré em Belém do Pará não podem ser avaliados através de fotos ou de textos escritos. Somente se estivermos presente poderemos
medir a intensidade de tais manifestações.

Na massa humana que cobre o trajeto entre a Basílica Santuário de Nazaré e a Catedral de Belém, na Trasladação no sábado à noite, ou no trajeto entre a Catedral de Belém e a Basílica Santuário de Nazaré, no Círio na manhã do domingo não há ricos ou pobres; pretos, pardos ou brancos; altos ou baixos. Naquele espaço apenas existe devotos. Todos igualam-se neste nível.

A primeira procissão ocorreu em 08 de setembro de 1793. Poderíamos classificar como principais símbolos o manto, a berlinda e a corda. No entanto, com a devida vênia dos estudiosos do assunto, na minha avaliação a guarda da santa, os devotos comuns e os promesseiros trazem o calor humano que dá ao Círio a grandiosidade e gera a indescritível fonte de energia que nele impera.

Em um gesto de extrema intimidade os belenenses chamam carinhosamente a Virgem de Nazaré de “Nazinha”. Este tratamento, para mim exclusivo dos nativos da cidade das mangueiras, traz consigo a certeza que a misericórdia da padroeira da Amazônia permite tal aproximação.

Marabá e outras cidades do estado do Pará também realizam seus círios e a participação dos devotos, em número bem menor é claro, mantém a intensidade quanto à fé, o carinho e a devoção.

Cada templo mariano tem característica própria, contudo, a energia positiva que é gerada nos eventos aqui citados só acontece em função do poder ilimitado da nossa IMACULADA MÃE.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

BRICS, PARA QUE SERVE?

Na última semana de julho-2018 novamente os governantes de Brasil,Rússia, China, Índia e África do Sul se reuniram em Joanesburgo para jogar conversa fora justificando estudo e a adoção de medidas conjuntas para enfrentar a política protecionista do dono da terra, senhor Donald Trump.

A pergunta sem resposta é: Por que o resultado de tais encontros tem peso ZERO na solução dos problemas dos países e no atendimento dos objetivos do grupo?

Apesar de ser o caminho da lógica, não encontramos resposta ao considerarmos que conforme dados de 2017 o PIB dos países que formam o BRICS (22,8 trilhões de dólares) é superior ao PIB dos EUA (20,0 trilhões de dólares) e que os consumidores dos BRICS somam mais de 3 bilhões enquanto e nos EUA são 325,7 milhões.

As respostas começam a aparecer quando detalhamos os comportamentos dos países que compõem o bloco econômico idealizado pelo economista Jim O’Neill em 2001. Em um grupo onde cada um age olhando para seu umbigo o resultado coletivo será sempre pífio.

O Brasil teima em continuar sendo uma colônia dos EUA; a Rússia busca usar o grupo para superar disputas internas e melhorar sua relação com a União Européia; a Índia quer atrair para seu país todo que possa gerar
emprego e renda para sua imensa população; a China tem como meta principal empurrar suas “bugigangas” em toda face da terra e a África do Sul, mesmo com os estragos causados durante a época da segregação
racial, pensa com a cabeça de europeu.

Desta forma os governantes continuarão torrando dinheiro e gastando tinta e saliva para produzir documentos e intenções conjuntas sem qualquer eficácia e o BRICS será sempre sinônimo de quase nada.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

INTOLERÂNCIA

Desde que comecei a convier em ambientes coletivos ouvi que “política”, “religião” e “futebol” são assuntos cujas discussões não chegam ao consenso e que os debates podem gerar conflitos intermináveis.

Assim fui tocando o vida. Sempre que referidos temas surgiam em debates eu tentava fugir, mas dependendo do ambiente sempre apresentava minha versão sem esperar ser entendido.

Ao ultrapassar as barreiras dos sessenta anos, com o poder de argumentação em declínio, não entro em discussões sobre os três assuntos. No entanto, percebo que a cada dia as opiniões conflitantes sobre “política”, “religião” e “futebol“ ganharam a companhia da “intolerância”.

Com adição deste novo ingrediente os debates estão sendo conduzidos para um universo onde a incapacidade de convergência é instalada previamente e o caldo extraído tem gosto amargo.

Por motivos diversos estamos perdendo a capacidade de, pelo menos, tentar ouvir o pensamento alheio. Entramos nas disputas verbais e escritas com juízo de valor formado e a intolerância grassa nos contatos pessoais e nos meios virtuais.

O fenômeno de comunicação popularmente chamado de “redes sociais” tem colocado tempero perigoso nas relações entre os debatedores que,munidos dos arsenais cibernéticos, apontam jatos de venenos perigosos
em todas as direções.

Uma palavra destoante do pensamento de alguém é suficiente para propagação de ofensas que extrapolam qualquer perspectiva de convivência harmoniosa entre seres da mesma espécie, classificados como humanos.

Por: Ademar Rafael