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Crônica de Ademar Rafael

DUPLO APRENDIZADO

Sempre que me recolho para lembrar boas coisas do passado dou de cara com dois programas radiofônicos apresentados por Dom Francisco, pela Rádio Pajeú de Afogados da Ingazeira – PE e Dom Hélder Câmara, por meio da Rádio Olinda.

Ouvir “A nossa palavra” na emissora de Afogados da Ingazeira ou “Um olhar sobre a cidade” na rádio de Olinda era um duplo aprendizado. Os dois, fiscalizados pelo regime da época, expressavam seus pontos de vista sem medo de represálias.

Aos textos de Dom Francisco nunca tive acesso após sua morte, parte das crônicas de Dom Hélder estão no livro publicado pela editora Civilização Brasileira, estes últimos reli no início da quaresma e sobre eles focarei esta crônica.

Dom Hélder indaga na crônica “Lua crescente, lua cheia e lua minguante…”: “Porque, então, não temos paciência uns com os outros e não nos ajudamos mutuamente?” e encerra com “Faz escuro, mas eu canto”, extraído de livro de Thiago de Melo. Na meditação “Vencer e convencer” é assim iniciada: “Mais difícil, mais humano e mais belo que vencer, é convencer. Vencer está ao alcance dos animais, convencer, não…”. Em “Falar, arte difícil” o Arcebispo de Olinda nos manda ler “Domínio sobre a língua”, terceiro capítulo de Tiago e afirma: “Como aprecio quem é capaz de conversar animada e alegremente, sem alfinetadas, sem tesouradas e, claro, sem golpes de foice”.

Herdando o termo da obra de Zé Marcolino, garanto que “nesta vida humana” não encontrei uma pessoa capaz de se aproximar de Dom Hélder no quesito “humanamente tão perto das pessoas e espiritualmente tão perto de Deus”. Nós que tivemos a oportunidade de usufruir da sabedoria destes dois homens de Deus temos a obrigação de publicar, sempre que possível, o que aprendemos com eles.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

TRIPÉ CRUEL

Depois de muito lermos e ouvirmos definições sobre o tema globalização daremos o título da melhor definição ao que escreveu o jornalista e escritor Jorge da Cunha Lima no capítulo “Da solidariedade”, do livro “Caminhos de Solidariedade”, a seguir transcrito e comentado.

Assim escreveu o paulista “A globalização baseia-se num tripé tão cruel como irresistível: a velocidade de uma informação centralizada nas mãos de uma dezena de proprietários em todo mundo, um sistema financeiro que amplia seus ganhos ociosamente com o endividamento rotativo e progressivo das nações e um sistema produtivo que põe em risco a própria sobrevivência da Terra pela violência sistemática promovida contra os limites suportáveis do meio ambiente.”

Em proporções diferentes encontramos esse tripé na era do descobrimento, na revolução industrial, no reordenamento do mundo após a segunda guerra mundial, no surgimento dos “tigres asiáticos” e nos eventos a seguir identificamos as digitais do tripé, cada leitor e cada leitora têm todo direito de fazer seu julgamento e aplicar sua medida.

A manipulação das pautas jornalísticas em todo mundo e os impactos das redes sociais nas eleições francesas e americanas, na votação sobre a saída do Reino Unido da Zona do Euro e nas eleições brasileiras.

Em 2018 o lucro dos quatro maiores bancos Itaú (R$ 25,7 bilhões), Bradesco (R$ 21,5 bilhões), Banco do Brasil (R$ 13,5 bilhões) e Santander (R$ 12,1 bilhões) alcançou a cifra de R$ 72,8 bilhões, 12,3 % acima do resultado de 2017. Isto em um país falido e endividado como o Brasil, cuja inflação no período ficou em 3,75% e o crescimento do PIB em 1,1%.

Boicotes ao Protocolo do Kyoto, ao Acordo de Paris, a Rio 92, os acidentes de Mariana e Brumadinho e a liberação de defensivos agrícolas pelo governo brasileiro.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

CLÓVIS AUGUSTO RABELO DOS SANTOS

Este texto é o primeiro de uma trilogia adaptada da crônica “Pessoas do meu sertão XVII”, publicada no site www.afgadosdaingazeira.com, sobre Clóvis de Dóia, Jucá Neto e Paulo Rato.

Clóvis de Dóia, afogadense da gema, zagueiro de altíssimo nível e líder nato. Descrevendo sua atuação em campo, o colega do Banco do Brasil e seu companheiro em jornadas memoráveis, Célio registrou: “Baixinho que subia quase da altura das nuvens”.  Nesta verdade acrescento que poucos jogadores no futebol mundial tiveram a perspicácia de Clóvis em relação ao tempo da bola e a rapidez na recuperação caso perdesse o primeiro bote, fato raro.

Tenho na lembrança um duelo travado por Clóvis e Edmilson Barbudo em jogo entre o Guarany e Comercial de Carnaíba. Em tal partida os dois titãs disputaram cada bola com valentia e sagacidade, como o atacante não fez
gol o baixinho venceu a disputa.

Além das habilidades como jogador Clóvis exerceu, com extrema maestria, a liderança em campo, seu grito era uma ordem, os treinadores tinham nele a sua voz no decorrer das partidas.

Fora das quatro linhas é uma companhia agradável, um “papo cabeça” e um sertanejo completo por gostar de cantorias de viola, de vaquejada e de ser admirador da nossa caatinga, de preferência toda verde com gado
pastando.

Por opção, Clóvis transformou sua casa numa trincheira onde recebe amigos para conversar, jogar cartas e tomar uma quando é possível. Sempre que encontro o amigo Elias Mariano pergunto por Clóvis, o baixinho foi referência para este cronista e para minha geração quando direcionávamos nosso olhar para sua dedicação e compromisso com tudo que era convocado para fazer.

Por:Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

CASAS DE CARIDADE

Como dissemos na crônica anterior as “Casas de Caridade” podem ser consideradas como a maior obra do Padre Ibiapina. Na concepção do projeto, na atração das irmãs de caridade e no seu funcionamento são
visíveis as características do pensamento do padre sobralense.

No período de 1860 a 1872 o Padre Ibiapina construiu vinte e duas Casas de Caridade, sendo: Três no estado de Pernambuco, três no Rio Grande do Norte, seis no estado do Ceará e dez no estado da Paraíba, entre elas a
Casa de Caridade de Santa Fé, no município de Solânea, local que o missionário veio a falecer no dia 19.02.1883.

A atração das irmãs de caridade era feita na própria comunidade, sem observar critérios da igreja que centralizava suas ações com base em ações de freiras vinda da Europa.

A principal função das Casas de Caridade era receber meninas órfãs dando-lhes educação completa, para serem esposas, mães e desenvolverem uma vida ativa. As internas eram também qualificadas para exercícios ligados a cozinha, cultivo de lavouras destinadas para alimentação e artesanatos para venda e obtenção de recursos.

Entre as regras definidas nos regimentos das Casas de Caridade podemos destacar os direcionamentos para evitar a preguiça, a ociosidade e as conversas e incentivar o trabalho e o entendimento sobre o amor de Deus.

A administração das Casas de Caridade era feita pelas superioras com fiscalização presencial, por meio de visitas e através de cartas do seu fundador. Após sua morte entraram em declínio por falta de apoio da
comunidade e principalmente da igreja que discordava com o formato. A Casa de Caridade de Santa Fé em cada dia 19 recebe uma legião de devotos e no dia 19.02 de cada ano há grande evento religioso.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

PADRE IBIAPINA

Os traços de comportamento e as práticas presentes nas transcrições abaixo, extraídas de livro de Padre José Comblin, provam que nosso país padece de doenças crônicas há muito tempo.

A primeira: “Sempre chamou a atenção pelas suas qualidades profissionais e morais. Assumiu a defesa dos injustiçados com paixão. Acreditava no direito e na justiça e queria que reinassem na sociedade nordestina e brasileira. Entrou em conflito com uma sociedade elitista e tradicional, ode as relações sociais tradicionais eram mais fortes do que do que as leis ou a justiça que se aprende na faculdade.” A segunda: “A sua palavra era incisiva, até mesmo agressiva. Ele não aceitava a ilegalidade, a corrupção, os abusos, as manobras dos governantes para
contornar a lei. Era rígido na aplicação das normas morais e jurídicas. Não aceitava o jogo tradicional dos poderes. Queria uma reforma moral do governo.”

Estes fatos ocorreram entre os anos de 1830 e 1850 e foram os motivos que levaram cearense de Sobral José Antônio Pereira Ibiapina a abandonar as atividades jurídicas nos exercício dos cargos de advogado e juiz e política na condição de Deputado Federal e tornar-se José Antônio de Maria Ibiapina, o Padre Ibiapina.

Após curto espaço de tempo atuando como padre, vigário-geral e professor em Recife e Olinda o Padre Ibiapina embrenhou-se pelo sertão para realizar a sua grade obra, as Casas de Caridade, além da construção de hospitais, cemitérios e igrejas. Por não rezar na cartilha da igreja romanizada foi perseguido. Os benefícios das suas ações alcançaram muitos nordestinos. Mesmo com processo de beatificação em andamento poucos conhecem sua história, outra doença crônica: “Não valorizamos quem deveríamos valorizar e enaltecemos quem deveria ser esquecido.” Fabricam heróis falsos e compramos como verdadeiros.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

DANOS IRREPARÁVEIS

São alarmantes os números apresentados por organismos dedicados a soluções para da poluição mundial, especialmente a presença de plásticos nos oceanos. O braço da Organização das Nações Unidas – ONU, que trata do tema assegura que anualmente são jogadas em torno de oito milhões de toneladas de plásticos em águas marítimas.

Os pescadores de redes manuais, arrastões e os que atuam em alto mar denunciam que o plástico está substituindo os peixes. Heloisa Schürmann professora, escritora e navegadora que já deu várias voltas no mundo pelos mares está numa cruzada contra tal poluição.

A revista Família Cristã de fevereiro de 2019 apresenta entrevista com o Consultor Ambiental Anderson Castanho Gatti. Nela ele faz uma alerta sobre os desafios que a humanidade tem para evitar que em 2050 os oceanos contenham mais plásticos do que peixes, ratificando as observações dos pescadores e aponta como grande dificuldade a demorada decomposição do material.

Na publicação de janeiro de 2019 a Época Negócios traz a matéria “Nosso futuro é circular” sobre iniciativas do italiano Giulio Bonazzi no Grupo Aquafil. O caro chefe é um produto feito através de uma fibra composta de materiais reciclados, cuja origem principal vem de material é recolhido nos oceanos.

O inglês Alexander Parkes, o americano John Wesley Hyatt e o belga Leo Hendrik Baekeland, cada um com suas descobertas nos deram o plástico, mas, nada podem fazer para nos ajudar com o problema atual.

Cabe a cada morador da terra fazer suas opções e escolhas. A omissão pode custar muito mais caro do que pensamos e os danos impactarão cada vez mais os nossos destinos. O uso limitado, o descarte correto e
a reciclagem seria um bom inicio. Quem topa?

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

TURBULÊNCIAS?

Desde 1985, época que passei a utilizar os serviços de transporte aéreo, vi sucumbir várias empresas de viação em nosso país. Na lista encontramos as grandes VASP e VARIG e as medianas CRUZEIRO DO SUL, TRANSBRASIL e TABA.

Para identificarmos os motivos das falências em um mercado como o nosso não encontramos respostas satisfatórias para várias indagações. São os preços praticados? Os altos custos operacionais? As intervenções do Estado? As relações trabalhistas?

Cada um tem um elenco de motivos para justificar o fracasso. Nos últimos anos a TAM e a GOL passaram por dificuldades, no caso da TAM sanadas com a flexibilização de capital externo. Recentemente a AVIANCA ficou na iminência de parar suas operações caso o pedido de Recuperação Judicial não fosse acatado na forma que foi solicitado.

Não pretendemos neste espaço esgotar o assunto, nosso propósito e fazermos uma reflexão sobre o nosso modelo. Se os preços são altos, os serviços de qualidade inferior, principalmente nos quesitos pontualidade e no atendimento dentro dos aeroportos e no fornecimento de bebidas e comidas durante os vôos o que promove tantos problemas financeiros nas companhias?

Sabemos que foi a força das operadoras junto a ANAC e demais órgãos fiscalizadores que impuseram as restrições às bagagens e a cobrança de volumes excedentes sem a prometida redução nos preços das passagens. Então o que justifica as seguidas crises do setor, mesmo com as aeronaves lotadas na maioria dos trajetos?

Duas coisas são reais nesta história. Nós usuários somos reféns do sistema imposto e novas falências estão rondando o mercado da aviação comercial no Brasil. Abrir este mercado será a solução? Não sei.

Por:Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

TEMPOS MODERNOS

Em conversas meu filho Sávio costuma afirmar que sou saudosista. Em parte ele tem razão, tenho preferência pelas coisas do modelo antigo sem desqualificar as modernidades. Convivo com elas sem traumas.

Em dezembro 2018, realizando trabalhos para o SENAR e SEBRAE da Paraíba, fiz várias viagens pela interior do estado utilizando o transporte alternativo em diversas partes do sertão.

Invariavelmente detectei que as pessoas ao entrar nas vans perguntavam imediatamente a senha de acesso à internet, colocavam nos dispositivos moveis e ficavam de olho no sinal para ler e mandar mensagens. Os motoristas também utilizavam seus aparelhos para conversar com usuários dos seus serviços. Ora para identificar locais de entrega de encomendas, ora para confirmar locais onde passageiros estavam.

Sempre que assistia as cenas lembrava das viagens nos anos 70 e 80. A diversão no interior dos carros era a contagem de jumentos na beira das estradas. Ganhava que encontrava mais animais do seu lado. No início
era feito um sorteio para ver quem ficava com o lado direito ou esquerdo. Outra aposta divertida era a contagem dos carros de placas ímpar ou par durante a viagem.

Para os atuais usuários da rede mundial de computadores e das redes sociais as apostas do meu tempo de jovem não apresentam atração nenhuma. Nós que convivemos com as brincadeiras sabemos como elas “encurtavam” os trajetos, apesar das “brigas” que vez por outra aconteciam.

Voltar no tempo é impossível, no entanto, a fixação das pessoas em seus aparelhos de alta tecnologia impedem que vejam as paisagens e o exercício de percepção do cenário em tempo real.

Por:Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

PRECISAMOS DESSA VERDADE

Segundo tradição que nos acompanha desde o século XVI na França, hoje é o dia consagrado à mentira, também chamado dia dos bobos. Mas, nesta data vamos falar de uma verdade que começa a transitar pelas organizações públicas e privadas e busca blindar tais estruturas organizacionais do pratica do suborno.

Trata-se da ISO 37001 um Sistema de Gestão Antissuborno desenvolvido pela ISO – International Organization for Standardization, entidade criada em 1946 em Londres, local onde a sede está localizada em desde 1949. Sua principal finalidade é aprovar normas internacionais e certificar organizações que atendam os rigorosos padrões.

O Brasil que é membro da fundação desde 1947 tem muitas empresas certificadas com as conhecidas ISO 9000, relacionada com “Gestão da Qualidade” e ISO 14000 dedicada a “Gestão do Ambiente”. No momento algumas organizações começam a se habilitar para a certificação ISO 37001, “norma tem em seu escopo o objetivo de fornecer requisitos e orientações para o estabelecimento, implementação, manutenção, análise crítica e melhoria de um sistema de gestão antissuborno.”

O sistema ISO 37001 considera suborno: “Oferta, promessa, doação, aceitação ou solicitação de uma vantagem indevida de qualquer valor (que pode ser financeiro ou não financeiro), direta ou indiretamente, e independente de localização, em violação às leis aplicáveis, como um incentivo ou recompensa para uma pessoa que está agindo ou deixando de agir em relação ao desempenho das suas obrigações.”

Literalmente os certificadores entram no DNA da organização candidata a certificação para criar ambiente propício para treinamento, integração, avaliação das conformidades e propor a certificação. Os ganhos imediatos são: “Reputação perante o mercado e a sociedade, Proteção à saúde financeira da empresa e Credibilidade com as partes interessadas.”

Não é coisa para bobo, nem caberá mentira antes, durante ou depois.

Crônica de Ademar Rafael

SAULO ROBERTO DE MOURA GOMES*

No início dos anos 70 fui apresentado a Saulo Gomes pelo amigo comum Danizete. Naquela oportunidade eu jovem estudante ele filho do ex-prefeito, Possidônio Gomes, e parente do governador, Jose Francisco de
Moura Cavalcanti. Nada disto, porém, inibiu uma forte amizade. Varamos várias madrugadas recitando Augusto dos Anjos e João Batista de Siqueira, o Cancão de São José do Egito.

Nos intervalos dos poemas eu ouvia atentamente suas análises sobre política e suas versões sobre o mundo. Naquele tempo muitos o criticavam por não aproveitar o parentesco com Moura para se arrumar sua vida. Contudo, contra tudo e todos, ele preferiu a independência e a liberdade de expressão. Estudou o que quis e não o que sugeria o “mercado”. Destaca-se como professor ao utilizar o método de não apenas repassar conteúdos e sim criar massa crítica em cada aluno.

Em emissoras de rádio da região atua à frente de programas de entrevistas e cultura geral. Em tais programas faz as perguntas que quer e não as que os entrevistados – principalmente os políticos – gostariam que fossem feitas. Temos muitas coisas em comum e aqui destaco o encantamento por Zá, por Canção e por Augusto dos Anjos.

A lente com que Saulo vê o mundo tem um zoom raro, conversando com ele podemos notar o seu alcance além de percebermos, com suas intervenções, o imperceptível ao olho nu. É, sem exagero, uma fonte inesgotável de cultura e rebeldia. Saulo, como todos que cultuam as regras libertárias, provoca o contraditório e dele faz o fermento para
construção do seu pensamento. Sem novelas é o nosso Dias Gomes, sem filmes é o Glauber Rocha do Pajeú e com o existencialismo, ao seu modo, é o Sartre do Sertão.

(*) – Publicado originalmente no site afogadosdaingazeira como “Pessoas do meu sertão XIV”.