SAULO ROBERTO DE MOURA GOMES*
No início dos anos 70 fui apresentado a Saulo Gomes pelo amigo comum Danizete. Naquela oportunidade eu jovem estudante ele filho do ex-prefeito, Possidônio Gomes, e parente do governador, Jose Francisco de
Moura Cavalcanti. Nada disto, porém, inibiu uma forte amizade. Varamos várias madrugadas recitando Augusto dos Anjos e João Batista de Siqueira, o Cancão de São José do Egito.
Nos intervalos dos poemas eu ouvia atentamente suas análises sobre política e suas versões sobre o mundo. Naquele tempo muitos o criticavam por não aproveitar o parentesco com Moura para se arrumar sua vida. Contudo, contra tudo e todos, ele preferiu a independência e a liberdade de expressão. Estudou o que quis e não o que sugeria o “mercado”. Destaca-se como professor ao utilizar o método de não apenas repassar conteúdos e sim criar massa crítica em cada aluno.
Em emissoras de rádio da região atua à frente de programas de entrevistas e cultura geral. Em tais programas faz as perguntas que quer e não as que os entrevistados – principalmente os políticos – gostariam que fossem feitas. Temos muitas coisas em comum e aqui destaco o encantamento por Zá, por Canção e por Augusto dos Anjos.
A lente com que Saulo vê o mundo tem um zoom raro, conversando com ele podemos notar o seu alcance além de percebermos, com suas intervenções, o imperceptível ao olho nu. É, sem exagero, uma fonte inesgotável de cultura e rebeldia. Saulo, como todos que cultuam as regras libertárias, provoca o contraditório e dele faz o fermento para
construção do seu pensamento. Sem novelas é o nosso Dias Gomes, sem filmes é o Glauber Rocha do Pajeú e com o existencialismo, ao seu modo, é o Sartre do Sertão.
(*) – Publicado originalmente no site afogadosdaingazeira como “Pessoas do meu sertão XIV”.