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Últimas publicações do quadro “Crônicas de Ademar Rafael”

Crônica de Ademar Rafael

JOSÉ ANTÔNIO DO NASCIMENTO FILHO*

No início dos anos 80 numa noite de cinco de janeiro na encantadora São José do Egito, em uma rodada de improvisos na casa de Toinzé – também genro de Lourival -, conheci Zeto. No primeiro contato percebi que acabara de conhecer um grande talento. No dia seguinte, na festa de aniversário de Lourival Batista, tive a privilégio de ver Zeto tocando violão e interpretando canções maravilhosamente, ali confirmei a avaliação da noite anterior.

Na época eu trabalhava em Barbalha – CE e meses depois recebi de Hilário Marinho um exemplar autografado do disco da dupla Zeto & Bia Marinho. É, com certeza, um trabalho encantador, expressão verdadeira do homem do interior. Quando voltei para Pernambuco, em 1992, reencontrei-me com o grande músico e tive muitas oportunidades de apreciar sua obra, verdadeira junção do popular com o erudito.

As composições “Forropé”, “Vento Penteado”, “Quadro Pensativo” e “Lá no sertão”, constituem-se páginas coloridas da nossa região. Além de grande poeta e músico Zeto foi um intérprete de primeira linha. Suas apresentações tinham cheiro de sertão e os poemas de Canção na sua voz ganhavam mais brilho, ou seja: lapidava um já valioso diamante.

Arisco-me, no decassílabo a seguir, a sintetizar sua estada neste mundo: “Meu Nordeste está de luto/e o meu Sertão incompleto/depois da morte de Zeto/ agrestino muito astuto/que gostava de matuto/de Canção e de Chudu/de Jó de Zezé Lulu/e que a Louro deu alegria/quando em dueto com Bia/animou meu Pajeú”.

Tenho certeza que seu encontro com Zá Marinho, Lourival, Jó Patriota, Zé Marcolino e Chudu foi uma grande festa onde não faltaram baiões, xotes e “estórias” do Pajeú. Escutaremos os acordes de seu violão e o eco de sua voz todas as vezes que cruzarmos o sertão pernambucano.

(*) – Publicado originalmente no site www.afogadosdaingazeira, como “Pessoas do meu Sertão XIV”

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

A CONQUISTA DO PODER TEM NORMAS?

Em capítulo denominado “O amor ao poder”, inserido no livro “A essência do poder”, o escritor e romancista inglês Michael Korda afirma que “Não há normas para se aprender a conquista do poder: a coisa tem de vir de dentro de nós.” Na seqüência do texto ele diz que a percepção pode vir se seguirmos roteiros, tais enunciados de alguma forma nega o pensamento acima registrado, vamos a elas.

A primeira, “Pratique cada ação como que fosse a única coisa que importa no mundo.” – No universo da administração isto é chamado de foco, Jesus nos chama atenção para impossibilidade de atendermos a dois senhores. Assim sendo, dedicar toda energia para ação praticada é sabedoria.

A segunda, “Nunca reveles aos outros tudo a teu respeito; guarda alguma coisa de reserva, para que eles nunca tenham a certeza de que realmente te conhecem.” – Aqui é necessário separarmos o “não contar tudo” de “mentir”. São coisas distintas, aprendamos a reservar um pouco do que somos como prudência.

A terceira, “Aprende a usar o tempo e pense nele como um amigo, não como um inimigo! Não o desperdices indo atrás de coisas que não desejas.” – Não fazemos isto, na maioria das vezes sem sentir. Saibamos utilizar o tempo disponível para coisas que de fato sejam úteis e que nos tragam paz.

A quarta, “Aprende a aceitar os teus erros. Não sejas perfeccionista a respeito de tudo.” – Reconhecer os limites é uma arte que necessita ser aplicada em nossa vida, não há fraqueza em assumir erros e promover o pragmatismo sadio.

A quinta, “Não faças ondas, move-te suavemente, sem complicar as coisas.” – Criar dificuldade para vender facilidade é uma pratica condenável presente em nosso cotidiano. Vamos simplificar as coisas, sem banalizá-las é claro. Tais recomendações como afirma o autor não devem ser impostas, nascem de dentro para fora. Vamos praticá-las?

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

CORDEL

No dia 19.09.2018 o Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN concedeu por unanimidade o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro para literatura de cordel. O
reconhecimento foi festejado pelos cordelistas pelos amantes do secular estilo. Prepostos da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC e do Ministério da Cultura fizeram presentes no evento.

O site da ABLC apresenta rico conteúdo sobre o tema, do qual destacamos os registros biográficos dos grandes cordelistas e a relação dos membros da Academia. No final de matéria vinculada no G1 traz uma definição que para este cronista retrata com acerto a literatura de cordel. “A expressão cultural retrata o imaginário coletivo, a memória social e o ponto de vista dos poetas a respeito de acontecimentos vividos ou imaginados.”

Neste tempo de aprendizado falho é salutar percebermos que poetas de gerações recentes estão levando a metodologia do cordel às escolas. Alexandre Moraes, Zé Adalberto, Raulino Silva e tantos outros utilizam os
benefícios da computação gráfica para ilustrar suas histórias e estórias, tornando-as mais atrativas para jovens estudantes.

O trabalho que o poeta pajeuzeiro Maviael Melo realiza em todo nordeste com apresentações e oficinas, dando asas ao sonho de Nenen Patriota, é digno de premiação e reconhecimento. O produtor cultural e poeta Jorge Filó, ratificando o que narra o professor e ficcionista Gilmar de Carvalho no livro “Publicidade em cordel”, empresta seu talento e o estilo eternizado por Leandro Gomes de Barros e vários outros cordelistas para fazer publicidade e propaganda.

Percebe-se que antes do reconhecimento do IPHAN a literatura de cordel já havia deixado o nobre espaço das feiras livres e ingressado e outros universos. Diferente do petróleo que queima na fogueira do capitalismo o cordel é nosso e por muito tempo será útil para sociedade.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

SEBASTIÃO DIAS FILHO

A primeira que o ouvi cantar foi no antigo Cine Bom Jesus, na Av. Manoel Borba, durante o intervalo de uma cantoria entre Moacir Laurentino e Zé Feitosa, ao fazer um “baião” com Moacir falando sobre o céu e inferno.
Naquela oportunidade meu querido pai sentenciou: “Este rapaz vai ser um grande cantador”. A previsão do velho Quincas Rafael realizou-se: Sebastião Dias tornou-se um dos melhores cantadores do Nordeste.

Dono de um estilo inconfundível, detentor de um domínio destacável nunca vi Sebastião Dias perder a compostura antes de enfrentar qualquer cantador. Formou com João Paraibano uma das mais perfeitas duplas de cantadores e juntos realizaram feitos indescritíveis pelo Nordeste.

Seus poemas “Conselho ao filho adulto”, “A voz do Eito” e “Súplica dos Ecólogos” são obras de altíssimo nível. Em “Cenários do Pajeú” ele retrata o nosso rio com uma riqueza de detalhes comparável às obras de José de Alencar e Machado de Assis. Na recente “Canção da Paz” ao escrever: … “Levantem todos que estão caídos/nem todos os sonhos foram destruídos/novos caminhos temos que seguir/chegou à hora de ferir os ombros/somar esforços, remover escombros/que ainda é tempo de reconstruir” deixa brilhante recado contra a violência.

Além de poeta extraordinário Sebastião Dias é inovador. Levou a sanfona para seus poemas, dando-lhes uma roupagem nova com uma coragem encontrada apenas nos mitos. Conhecido como o Chico Buarque da viola
Sebastião faz por merecer tal deferência. Afirmo, contudo, que suas criações podem ser pintadas nas “Aquarelas” de Toquinho e recitadas com a delicadeza dos poemas de Vinícius.

O filho de Ouro Branco – RN é um pajeuzeiro por adoção e por devoção. Pela vontade do povo de Tabira está no segundo mandato de prefeito, compatibiliza a ação do político com a arte da viola.

(*) Publicado originalmente no site www.afogadosdaingazeira, como “Pessoas do meu sertão XIII”

 

Crônica de Ademar Rafael

DESCULPAS ESFARRAPADAS

Sem a necessidade de recorrermos ao livro “1001 desculpas esfarrapadas”, de Guca Domenico, vamos encontrar em nosso cotidiano uma imensa relação de desculpas para justificar deslizes praticados.

Uma das campeãs é que a nossa tendência de praticar e aceitar transgressões deriva da “qualidade moral” dos nossos colonizadores. Indagam os defensores da cultura das transgressões: “Como uma sociedade que foi instalada por segregados dos reinos europeus pode ser exemplo de moral e bons costumes?”

A historia registra que de fato recebemos parte da escória de Portugal, no entanto, menciona com exaustão que também vieram muitas pessoas do bem.

Para começar demolindo a justificativa acima teremos que fazer uma nova indagação: “O que nos levou a copiar os procedimentos da parte podre dos colonizadores e abandonar as praticas de honrados professores, cientistas, comerciantes e religiosos que por aqui atracaram na época do descobrimento e da colonização?” Outra pergunta que cabe: “Como explicar o caminho seguido pelo povo da Austrália que também recebeu prisioneiros, falsários, estupradores e ladrões?”

No índice de percepção da corrupção de 2017, medido pela Transparência Internacional, o Brasil está em nonagésimo sexto lugar e a Austrália ocupa a décima terceira posição.

Talvez para justificar o injustificável tenhamos que recorrer às forças da natureza. Vai ver que o solo da Oceania é propício para boas práticas e o das terras da América do Sul é fértil para propagação de deslizes. Precisamos agir, individualmente e coletivamente, para mudarmos de lugar. Ação imediata, as gerações futuras agradecerão.

Por: Ademar Rafael