O livro de Maciel Melo
Desde seu aparecimento o livro traduz muitas vertentes de pensamento. Existe livro imprescindível, “Bíblia”; livro que foi transformado em filme, “Olga”; livro que virou novela, “Tieta do Agreste” e assim por diante.
O livro “A poeira e a estrada”, de Maciel Melo é um livro diferente porque tem cheiro. Cheiro de coentro tirado do canteiro de cima da cerca de faxina e colocado na panela de feijão, cheiro da caieira de tijolo imortalizada por Sebastião Dias, no poema “Cenário do Pajeú”, cheiro de terra molhada, cheiro do povo do sertão, conforme receita de Heleno Louro, pai do autor e outros cheiros sertanejos.
As poesias inseridas no texto são equivalentes a esmeraldas espalhadas sobre uma joia de alto valor, estão ali para realçar o brilho, agregar valor e não como concorrentes.
O conteúdo do livro atesta que um pequeno “veio d’água” transformou-se numa imensa Itaparica em homenagem a represa que no Velho Chico – através do Rio Pajeú – recebe as águas que banharam o Neguinho. Águas que lavaram os pés do caboclo sonhador, deixando marcas da poeira das estradas.
Os relatos da obra dão relevo a paisagens do interior, narráveis somente por quem habitou uma terra que racha durante as estiagens e que nas primeiras chuvas cura os rachões e faz brotar frutos cujo gosto só é perceptível por quem descansou na sombra de um juazeiro, ouvindo o som ambiente emitido por um galo da campina e conhece um ninho de fura barreira.
Maciel, que inovou o ritmo magistralmente difundido por Luiz Gonzaga, presenteia os amantes da boa leitura com uma obra capaz de demonstrar para João Guimarães Rosa que no interior de Pernambuco, na pequena Iguaraci, existem muitas veredas, um grande sertão e um poeta múltiplo.
O devoto de São Sebastião não é guerreiro por acaso, suas armas são poemas, textos e músicas unidas pela mesma cola que uniu o lirismo a Jó Patriota, o trocadilho a Lourival Batista e mentira a João Furiba, talvez até extraída do leite de aveloz.
Por: Ademar Rafael