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Últimas publicações do quadro “Crônicas de Ademar Rafael”

Crônica de Ademar Rafael

TEMPOS MODERNOS

Em conversas meu filho Sávio costuma afirmar que sou saudosista. Em parte ele tem razão, tenho preferência pelas coisas do modelo antigo sem desqualificar as modernidades. Convivo com elas sem traumas.

Em dezembro 2018, realizando trabalhos para o SENAR e SEBRAE da Paraíba, fiz várias viagens pela interior do estado utilizando o transporte alternativo em diversas partes do sertão.

Invariavelmente detectei que as pessoas ao entrar nas vans perguntavam imediatamente a senha de acesso à internet, colocavam nos dispositivos moveis e ficavam de olho no sinal para ler e mandar mensagens. Os motoristas também utilizavam seus aparelhos para conversar com usuários dos seus serviços. Ora para identificar locais de entrega de encomendas, ora para confirmar locais onde passageiros estavam.

Sempre que assistia as cenas lembrava das viagens nos anos 70 e 80. A diversão no interior dos carros era a contagem de jumentos na beira das estradas. Ganhava que encontrava mais animais do seu lado. No início
era feito um sorteio para ver quem ficava com o lado direito ou esquerdo. Outra aposta divertida era a contagem dos carros de placas ímpar ou par durante a viagem.

Para os atuais usuários da rede mundial de computadores e das redes sociais as apostas do meu tempo de jovem não apresentam atração nenhuma. Nós que convivemos com as brincadeiras sabemos como elas “encurtavam” os trajetos, apesar das “brigas” que vez por outra aconteciam.

Voltar no tempo é impossível, no entanto, a fixação das pessoas em seus aparelhos de alta tecnologia impedem que vejam as paisagens e o exercício de percepção do cenário em tempo real.

Por:Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

PRECISAMOS DESSA VERDADE

Segundo tradição que nos acompanha desde o século XVI na França, hoje é o dia consagrado à mentira, também chamado dia dos bobos. Mas, nesta data vamos falar de uma verdade que começa a transitar pelas organizações públicas e privadas e busca blindar tais estruturas organizacionais do pratica do suborno.

Trata-se da ISO 37001 um Sistema de Gestão Antissuborno desenvolvido pela ISO – International Organization for Standardization, entidade criada em 1946 em Londres, local onde a sede está localizada em desde 1949. Sua principal finalidade é aprovar normas internacionais e certificar organizações que atendam os rigorosos padrões.

O Brasil que é membro da fundação desde 1947 tem muitas empresas certificadas com as conhecidas ISO 9000, relacionada com “Gestão da Qualidade” e ISO 14000 dedicada a “Gestão do Ambiente”. No momento algumas organizações começam a se habilitar para a certificação ISO 37001, “norma tem em seu escopo o objetivo de fornecer requisitos e orientações para o estabelecimento, implementação, manutenção, análise crítica e melhoria de um sistema de gestão antissuborno.”

O sistema ISO 37001 considera suborno: “Oferta, promessa, doação, aceitação ou solicitação de uma vantagem indevida de qualquer valor (que pode ser financeiro ou não financeiro), direta ou indiretamente, e independente de localização, em violação às leis aplicáveis, como um incentivo ou recompensa para uma pessoa que está agindo ou deixando de agir em relação ao desempenho das suas obrigações.”

Literalmente os certificadores entram no DNA da organização candidata a certificação para criar ambiente propício para treinamento, integração, avaliação das conformidades e propor a certificação. Os ganhos imediatos são: “Reputação perante o mercado e a sociedade, Proteção à saúde financeira da empresa e Credibilidade com as partes interessadas.”

Não é coisa para bobo, nem caberá mentira antes, durante ou depois.

Crônica de Ademar Rafael

SAULO ROBERTO DE MOURA GOMES*

No início dos anos 70 fui apresentado a Saulo Gomes pelo amigo comum Danizete. Naquela oportunidade eu jovem estudante ele filho do ex-prefeito, Possidônio Gomes, e parente do governador, Jose Francisco de
Moura Cavalcanti. Nada disto, porém, inibiu uma forte amizade. Varamos várias madrugadas recitando Augusto dos Anjos e João Batista de Siqueira, o Cancão de São José do Egito.

Nos intervalos dos poemas eu ouvia atentamente suas análises sobre política e suas versões sobre o mundo. Naquele tempo muitos o criticavam por não aproveitar o parentesco com Moura para se arrumar sua vida. Contudo, contra tudo e todos, ele preferiu a independência e a liberdade de expressão. Estudou o que quis e não o que sugeria o “mercado”. Destaca-se como professor ao utilizar o método de não apenas repassar conteúdos e sim criar massa crítica em cada aluno.

Em emissoras de rádio da região atua à frente de programas de entrevistas e cultura geral. Em tais programas faz as perguntas que quer e não as que os entrevistados – principalmente os políticos – gostariam que fossem feitas. Temos muitas coisas em comum e aqui destaco o encantamento por Zá, por Canção e por Augusto dos Anjos.

A lente com que Saulo vê o mundo tem um zoom raro, conversando com ele podemos notar o seu alcance além de percebermos, com suas intervenções, o imperceptível ao olho nu. É, sem exagero, uma fonte inesgotável de cultura e rebeldia. Saulo, como todos que cultuam as regras libertárias, provoca o contraditório e dele faz o fermento para
construção do seu pensamento. Sem novelas é o nosso Dias Gomes, sem filmes é o Glauber Rocha do Pajeú e com o existencialismo, ao seu modo, é o Sartre do Sertão.

(*) – Publicado originalmente no site afogadosdaingazeira como “Pessoas do meu sertão XIV”.

Crônica de Ademar Rafael

RESPEITO AO INDIVÍDUO

O ativista político Henry David Thoreau, que foi fonte de inspiração para Leon Tolstoi, Gandhi e Martin Luther King Jr escreveu em 1949, ou seja, há 170 anos o livro “Desobediência Civil”, onde registra os principais pontos da sua forma de entender e agir no mundo.

As três figuras acima citadas ao beberem na fonte do idealista americano sugerem, com pouca margem de erro, que o pensamento de Thoreau é aplicável todas as vezes que o indivíduo precisa respirar fora do cubículo que o Estado obriga que ele permaneça.

O jurista Daniel Moreira Miranda em texto sobre as teses de Thoreau nos apresenta as seguintes ponderações: “… A maioria governa porque é o grupo mais forte, não o mais legítimo. Por este motivo, as pessoas devem seguir as regras da consciência sempre que as lei lhes pareçam injustas…”; “… Votar por justiça não é o mesmo que agir para obter justiça…” e “… A maioria acabará votando a favor de seus interesses. Uma pessoa com princípios deve seguir sua consciência.”

Nos momentos que o Estado para controlar os indivíduos utiliza invariavelmente as leis Thoreau faz questionamentos e afirmativas, a seguir transcrevemos um minúsculo resumo de tais ponderações: “Deve o cidadão, mesmo que por um instante, ou em menor grau, entregar sua consciência ao legislador?” “Não é desejável cultivar um respeito pela lei maior do que um respeito pelo que é correto”; “Em um governo que aprisiona qualquer um injustamente, o verdadeiro lugar de um homem justo também é a prisão” e “O progresso de uma monarquia absoluta para um limitada e de uma limitada para uma democracia é o progresso em direção ao verdadeiro respeito pelo indivíduo.”.

Que tal o novo governo e a comunidade, sem a pratica de excessos por nenhuma das partes, travem um diálogo verdadeiro em favor de um país onde as leis, a justiça e os direitos individuais caminhem juntos.

Por: Ademar Rafael

Crônica de Ademar Rafael

O REI DO RITMO

Nas minhas andanças pelo interior do nordeste detectei que a cidade de Alagoa Grande, no brejo paraibano de forma exemplar presta homenagem para seu ilustre filho José Gomes Filho, o famoso Jackson do Pandeiro, em vários formatos.

Ao entrarmos na cidade pelo acesso BR-230 encontramos um portal onde um pandeiro gigante nos recebe. Em seguida a casa de show “Pandeiro Hall”, a “Pousada do Pandeiro” e a “Churrascaria Panderiar” dão ritmo ao reconhecimento e a gratidão pela obra do filho que imortaliza acolhedora cidade.

Nascido em 31.08.1919, neste ano será comemorado o centenário de Jackson do Pandeiro. O prefeito municipal por meio do Decreto 83/2018, de 07.11.2018, instituiu 2019 como o “Ano Cultural Jackson do Pandeiro”. Com certeza o São João de Alagoa Grande terá um tempero especial. Bom seria que Campina Grande desse destaque em sua festa maior ao gênio do Engenho Tanques.

Segundo dados disponíveis na rede mundial dos computadores a discografia do artista alagoa-grandense teve início em 1955 com o trabalho “Jackson do Pandeiro”, pela Gravadora Copacabana e seu último álbum data de 1981, com o disco “Isso é que é forró”, da Gravadora Polygram.

Este espaço é minúsculo para destacar seus sucessos, enumero somente seis, da minha preferência: “Sebastiana”, “A mulher do Aníbal”, “O canto da ema”, “Chiclete com Banana”, “Casaca-de-couro” e “Como tem Zé na Paraíba”.

A lição de Alago Grande pode ser copiada por outras cidades brasileiras que ignoram os feitos de filhos ilustres e em nome de “modismos” jogam no lixo sua historia e sua cultura.

Por:Ademar Rafael