O difícil retorno
Há algum tempo fui procurado por uma mãe que solicitava uma cadeira de rodas para seu filho que em função de um tiro ficou paraplégico. Durante a conversa a mãe angustiada fez o seguinte relato: “Meu filho era uma pessoa comportada, temente a Deus e trabalhadora. Não sei como, passou a consumir das drogas, alterou seu comportamento e chegou a envolver-se com o crime, através de pequenos furtos. Deixou de trabalhar e passou a agredir toda família. Segundo a polícia apurou foi baleado numa guerra entre grupos rivais.”.
Em seguida a sofrida mãe desabafou: “Seu Ademar, pode parecer uma loucura, mas, eu prefiro ver meu filho numa cadeira de rodas perto de mim do que curado no mundo das drogas.”.
Na época debati o assunto com algumas mães que trabalhavam comigo e todas foram unânimes em afirmar que para uma mãe o sofrimento de ver um filho “desgarrado socialmente” e longe dos seus ensinamentos pode leva-la a ter um comportamento supostamente egoísta. Tudo é feito em nome de um amor impossível de ser medido.
Em novembro estive em Brasília, fiquei hospedado em um hotel próximo do Conjunto Nacional e tive oportunidade de assistir terríveis cenas de degradação de seres humanos. Durante a madrugada é comum ver grupos de usuários de drogas transformados em verdadeiros farrapos humanos; no decorrer do dia podemos ver alguns deles “desmaiados” pelas ruas.
As cenas levaram minha lembrança para o diálogo travado com a mãe do cadeirante e uma certeza tomou conta da minha consciência: Enquanto nossas autoridades ficarem discutindo se o flagelo das drogas é um problema de saúde pública ou um problema social a solução não virá.
O retorno difícil do mundo das drogas será possível quando houver uma união entre o carinho extremado dos familiares, uma política pública séria e a vontade dos viciados. Algo fora disto é pregar no vazio. Ação imediata.