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Últimas publicações do quadro “Crônicas de Ademar Rafael”

Crônica de Ademar Rafael

É MUITO, MAS NÃO É TUDO

Em nosso querido Brasil temos, entre muitas outras manias, a capacidade de santificar pecadores e satanizar quase santos. Tudo movido pelo comprometedor costume de darmos ouvido a mensagens manipuladas por absoluta preguiça de pesquisarmos ou nos aprofundarmos nos temas. Assim, tem sido com os setores do agronegócio e mineração ao serem promovidos pelo “mercado” e parte da imprensa como salvadores do país. Isto não é por acaso, deriva de uma correta política de comunicação bancada pelos defensores dessas atividades.

Sei e defendo a importância de tais setores para nossa economia por ter tido o privilégio de atuar nas fronteiras agrícolas da região do grande Dourados no Mato Grosso do Sul e no Oeste da Bahia; no Sul e Sudoeste do Pará, forte na pecuária de corte e pesca e no Vale do Aços em Minas Gerais, Teofilândia, na Bahia e região de Carajás no Pará, todas com grande potencial na mineração. Estes fatos, sem a perspectiva de verdade plena, me credenciam para dizer: “Estes setores, de fato, são importantes na geração de emprego e renda, mais não podem e nem devem ser taxados como as estrelas de maior brilho.”

O sucesso na produção de grãos, proteínas animais e minério depende da competência dos operadores nos setores, das quase infinitas riquezas do nosso solo e nosso subsolo e dos incentivos fiscais que historicamente recebem. Se extraímos os benefícios da Lei Kandir, dos juros privilegiados nos bancos oficiais, especialmente nos Fundos Constitucionais operados pelo Banco do Brasil no Centro Oeste, pelo Banco da Amazônia na região Norte e pelo Banco do Nordeste na área de abrangência da SUDENE esta competência seria testada em condições menos favoráveis, sem tais privilégios a margem de lucros e a competitividade não seria a mesma.

Valorizar sim, dar mais crédito do que realmente merece é onde está o perigo. O excesso sempre deixa sequelas tal qual a omissão. O Brasil tem outras estrelas que merecem ser destacadas. Pensem nisto.

Crônica de Ademar Rafael

O TETO DA MALDADE

Tenho uma teoria que, em alguns casos, a informação deturpada e manipulada causa mais estrago do que a ausência da informação. Estatese se aplica no caso do famigerado teto de gastos uma das piores contribuições do governo Temer.

Antes que alguém me acuse de defender a irresponsabilidade fiscal quero deixar claro que não é este o caso. Controle de gastos públicos pode ser feito sem essa invenção que tanto agrada os ditos “mercados”. O que motiva essa defesa? Explico: O mercado é a cara, a cor e o gosto dos especuladores que vivem sugando os recursos das nações. O valor dos juros em seu favor está fora do teto, na hora que incluir o mundo desaba.

Defender o teto de gastos como ferramenta para cumprir a responsabilidade fiscal é uma burrice impossível de ser medida com as métricas existentes. É o mesmo que controlar inflação somente com alta de juros. As duas medidas agradam os agiotas que atuam na legalidade com o suntuoso nome de investidores. Somente um país desprovido de qualquer instrumento relativo à política industrial, política de desenvolvimento sustentável ou projeto estruturante que gere emprego e renda utiliza um artifício tão maléfico para maioria do seu povo e em favor de uma minúscula minoria.

Em troca desta desgraça que é o teto de gastos o governo poderia tributar dividendos, grandes riquezas, remessas para o exterior, extinção dos privilégios fiscais para os ricos e outras mecanismos que são direcionados para esmagar a classe trabalhadora que sobrevive com um salário de fome e cumpre suas obrigações enquanto contribuintes de um sistema tributário injusto.

Com o aumento das receitas advindas com as medidas sugeridas no parágrafo anterior a saúde, a educação e outros setores que alcançam a maioria da população não seriam sacrificados pelo teto da maldade.

Crônica de Ademar Rafael

O PARLAMENTO

Reza a lenda política que o deputado Ulysses Guimarães, presente no parlamento brasileiro de 11.03.151 até 12.10.1992 data do seu falecimento, quando indagado sobre o declínio do parlamento brasileiro respondia: “Você só diz que esse Congresso é ruim porque ainda não viu o próximo”.

Esta frase vem sendo lei a cada legislatura. O nível cai e o fundo do poço sempre está distante da última escavação. Existem várias justificativas para esse fenômeno desabonador, vamos tratar nesta crônica da tese de que o parlamento é o espelho da sociedade que o elege.

O economista e professor universitário Marcus Pestana, de Minas Gerais, atesta em artigo: “… em tese o Congresso é o espelho da sociedade, já que ninguém chega lá sem ser eleito por ela, no ambiente da mais completa liberdade. É uma questão instigante discutir porque a população, ao mirar o que seria o seu reflexo no espelho, tem a sensação de incômodo e decepção. Salta aos olhos que as regras de nosso sistema não ajudam a construção de uma relação de proximidade, identidade e controle entre representante e representado, entre eleitor e eleito”. Um pouco mais na frente destaca: “…é evidente que o poder econômico, o baixo nível de informação e consciência, o populismo, entre outros vetores, distorcem a representação.”

Concordo com as ponderações do parlamentar mineiro e adiciono que além do “… baixo nível de informação e consciência, o populismo.” A degradação que a sociedade experimenta diuturnamente também é fator predominante nestas escolhas malditas. Tudo sustentado em pilares muito bem fincado em solo lamacento pelo fajuto sistema político que impera em nosso país.

A cada pleito valores que deveriam decidir os votos são trocados por anomalias criadas por “alquimistas do mal”, transvestidos de marketeiros e formadores de opinião no obscuro mundo das redes sociais, ambiente em que bugalho é vendido como alho e falsos brilhantes se transformam em joias raras. Bons nomes são triturados pelas máquinas dessas mídias malditas.

Crônica de Ademar Rafael

RETALHOS DA VIDA

Recentemente em uma mensagem do Padre Ênio Marques de Oliveira vi a frase “Pai tecelão, obrigado pelos muitos retalhos que compõem minha vida.” Esta frase, que inspira esta crônica, remeteu minha atenção para um mote que criei a algum tempo: “O todo da nossa vida/É feito de fragmentos”. Em contextos diferentes o tema é o mesmo, ou seja, nossa vida é constituída pelos seus diversos momentos.

A pergunta que faço é a seguinte: “Como você está ordenando os múltiplos retalhos da sua vida?” Neste assunto uma peça do nosso artesanato, que inclusive foi tema de linda música de Cascatinha e Inhana e carrega seu nome “Colcha de retalhos” nos dar uma aula que nenhum livro de sociologia ou de filosofia foram capazes.

Em referida peça cada retalho com tamanho, cor e de tecidos distintos prova que é possível a convivência entre os diferentes. O mosaico formado pela multiplicidade de cores e formatos sugere que ser diferente não é sinônimo de ser inimigo, que ter origem distinta não significa ser o adversário e ser abatido.

Que possamos aprender com a frase do Padre, com meu mote e com a “Colcha de Retalhos” que devemos buscar até a exaustão os motivos para viermos em paz com os que pensam diferentes e tem outras
preferência divergentes das nossas.

A intolerância segrega, discrimina e mata. A tolerância junta, abraço e dar vida. Precisamos, de forma indolor, praticar atos que harmonizem a convivência e multipliquem os valores que nos levam a paz.

Na peça do artesanato a chita, o brim, a mescla, o linho, a seda e tantos outros tipos de tecidos se unem e formam algo majestoso aos olhos de quem possui sensibilidade. O que nos impede de copiar esse fenômeno no nosso convívio? Procuro e não encontro resposta, alguém sabe?

Crônica de Ademar Rafael

ADESISMO

Ao publicar o terceiro livro de trilogia Escravidão o escritor Laurentino Gomes além de expor a parte cruel da natureza humana, aquela que nos coloca abaixo do mais irracional dos animais, apresenta de forma clara uma doença crônica que grassa em nosso país desde o descobrimento.

Que patologia é essa Ademar? Respondo prontamente: ADESISMO. Uma doença que corrói as riquezas da nação em favor dos eternos beneficiários de verbas, poder, cargos e outras benesses que um estado insano fornece aos seus vampiros.

O recorte a seguir atesta o que houve nas últimas décadas do século XIX e que treze décadas depois continua ocorrendo: “Em pouco tempo, recém-convertidos à causa republicana, os mesmos antigos barões do café, senhores de engenho, charqueadores, pecuaristas e outros senhores escravagistas – eles próprios ou seus famílias -, que até pouco antes mandava me desmandavam no Império, passaram a dar as cartas no novo regime…”

Para não forçarmos muito a memória vamos lembrar que muitos que lambiam as botas dos generais aderiram ao bloco que elegeu Tancredo, seguiram com Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e o atual presidente, em janeiro abraçarão o novo mandatário. Figuras públicas e privadas carregam o vírus do adesismo e transferem aos seus descendentes.

Nos adesistas de hoje sem muito esforço será identificado DNA de pessoas que estavam nas caravelas de Cabral, na época das capitanias Hereditárias, na chegada de Dom João VI, na Independência e outros momentos cujos fatos históricos viraram uma página na perspectiva de criar um novo enredo. Os governantes usam tais figuras para se sustentarem e justificam a convivência com a desculpa da governabilidade que representa nitidamente a falta de um projeto isento de vampiros. Atrair tais figuras e menos custoso que criar alternativas de independência.