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Posts tagged as “CRÒNICA DE ADEMAR RAFAEL”

Crônica de Ademar Rafael

JOSÉ LOPES NETO

Por:Ademar Rafael

Em todas as profissões existem pessoas que mereciam ter chegado ao topo e por questões diversas não alcançaram os degraus mais altos do pódio. Recentemente em conversa com um grande nome da cantoria ele
me falava sobre este fenômeno e citava vários colegas que em função de um marketing correto tinham agenda cheia e outros com maior potencial fechavam cada mês com um número menor de apresentações.

O homenageado nesta crônica é um destes casos em que o artista merecia ter ocupado um lugar de destaque. Zé Catôta como ficou conhecido em todo nordeste foi um violeiro que com justiça Antônio José de Lima no livro “Legado Fisiológico de Poetas e Repentistas Semi-analfabetos” assim qualifica: “… poeta repentista de primeira categoria”. Em referida obra cita esta bela sextilha do poeta do Sítio Riachão – São José do Egito em resposta a uma provocação: Na deixa “Por favor, não me ameace” disse Zé Catôta: “Se fiz o bem me abrace/Se fiz o mal me perdoe/Eu vou bem devagarinho/Nessa pisada de boi/Mas, se quiser vou a canto/Que cantador nunca foi.”

Teresinha Costa, no livro “São José do Egito – Musa da poesia” (p. 158) descreve esta pérola de Zé Catôta em deixa de Pinto “Vou na raça de Catôta/Não deixo um pra veneno”, A resposta: “Puxo o pescoço e depeno/Serro o bico, aparo o pé/Sendo da raça de Pinto/Só fica se eu não der fé/Pato, ganso, frango, franga/Galo, galinha e guiné”.

O possível que a falta de divulgação tenha negado ao poeta Zé Catôta um assento na primeira fila, talvez sua forma de encarar o mundo tenha contribuído com isto, no entanto, jamais foi falta de talento. Um livro com parte de seus versos recuperados de apologistas está no prelo, ao ser lido muitos descobrirão que eu e Antônio José de Lima temos razão em enaltecer merecidamente Zé Catôta.

Adaptada da crônica “Pessoas do meu sertão XXIV”, publicada no site “www.afogadosdaingazeira.com.br”.

Crônica de Ademar Rafael

LIVROS

Registros disponíveis na internet apontam que o livro mais lido em todos os tempos é a “Bíblia” e que “Dom Quixote” é a obra literária recordista de vendas na história. Com esta informação, lanço meu olhar para as três frases a seguir visando dar nobreza a esta narrativa. “Eu sempre imaginei que o paraíso seria um tipo de biblioteca” – Jorge Luis Borges; “Eu acho a televisão muito educativa. Toda vez que alguém liga o aparelho, eu vou para a outra sala e leio um livro” Groucho Marx e “Livros dão alma ao universo, asas para a mente, voo para a imaginação, e vida a tudo” – Platão. . As autorias estão indicadas em arquivos disponíveis na rede mundial de computadores, site “poemese.com”.

Por concordar plenamente com as três quero aqui registrar a preocupação que passei a carregar após o diálogo com dois escritores residentes em Afogados da Ingazeira.

O primeiro relatou que estava expondo seus livros em determinado local e um “leitor” aproximou-e e perguntou o preço. O autor respondeu que o livro custava R$ 20,00. O potencial comprador indagou: “Dar para fazer R$ 10,00?” O autor ao receber a proposta afirmou: “Não amigo, estou vendendo um livro pelo preço justo”.

Ao segundo perguntei quando sairia um novo romance, ele desabafou: “Caro amigo, tenho três romances em editoras diferentes. Cada uma apresenta uma desculpa sobre a necessidade de esperar uma melhor oportunidade para publicação.” Encerrou nosso diálogo sobre o assunto dizendo: “Com este cenário perdi o ímpeto para concluir um quarto romance”.

O que vemos em relação a falta de interesse pela leitura e a banalização do mercado de livros não seria uma das causas do individualismo e da ignorância que campeia pelo mundo? Quem tiver a resposta grite. Minha sugestão é “Vamos ler gente, faz bem, educa e humaniza.”

Crônica de Ademar Rafael

PREPOTÊNCIA MÁXIMA

É muito difícil engolirmos os discursos daquele que se acha dono do mundo, que se coloca acima de tudo e de todos para aplicar sua corrosiva política do “tudo pela América”. Enganamo-nos quando avaliamos que existem limites para loucuras de Donald Trump.

Em seu pronunciamento durante a reunião anual de Davos além de defender com unhas, armas e dentes o petróleo e o gás da “sua América” disse que nenhum país da Europa ficará vulnerável se passar a ser consumidor dos produtos americanos e sobre os alertas dos que condenam o uso indiscriminado dos combustíveis fósseis afirmou: “Precisamos rejeitar os perenes profetas da desgraça e suas previsões do apocalipse”.

Ainda em Davos teve a cara de pau de dizer que os Estados Unidos são reiteradamente prejudicados por decisões na Organização Mundial do Comércio – OMC, quando o organismo internacional garante preferências para os países em desenvolvimento e nega as mesmas regalias ao seu país.

Neste ponto não precisava gastar saliva uma vez que os EUA de forma unilateral sempre “não dar ousadia”, como dizem os baianos, para resoluções ou outras deliberações de órgãos mundiais e cria normas que os favorecem.

A prova disto foi a norma publicada em 10.02.2020 que retira Brasil, Argentina, Índia, Colômbia e outros quinze países da lista de nações consideradas em desenvolvimento, negando-lhes os “privilégios comerciais” estabelecidos em regras internacionais, definidas no Sistema Geral de Preferências – SGP.

Nivelar os EUA com os países excluídos é uma agressão que não apenas pune os excluídos com o “embargo disfarçado” como novamente cria situações favoráveis para ganância ianque. O que mais assusta não é a
prepotência americana é a omissão subserviente e o silencio sepulcral de quem deveria defender os interesses dos banidos da lista.

Crônica de Ademar Rafael

ELZA SOARES

Nesta semana comemora-se o “Dia Internacional de mulher” e nesta crônica quero render homenagens para uma mulher para a qual não apenas tiro o chapéu, bato palmas e presto continência.

Elza da Conceição Soares prestes a completar 90 anos no dia 23.06.2020 continua cantando com intensidade. No final de janeiro último, no programa Sr. Brasil da TV Cultura, apresentado por Rolando Boldrin, a filha da favela “Moça Bonita” interpretou canções de Lupicínio Rodrigues, Herivelto Martins, Ary Barroso e outros consagrados compositores de forma exemplar.

De acordo com informações disponíveis na rede mundial de computadores e discografia de Elza Soares teve início em 1960 com o álbum “Se acaso você chegasse”, gravado pela Odeon. Entre este trabalho e o último “Planeta fome”, da Descdisc, mais de trinta discos foram gravados em uma dezena de gravadoras. Constam ainda as seguintes coletâneas: Grandes Sucessos de Elza Soares (1978); Salve a Mocidade (1997); Meus Momentos – Volumes 1 & 2 (1994); Elza Soares – Raízes do Samba (1999); Sambas e mais sambas – vol. 2 (Raridades)
(2003); Deixa a nega gingar – 50 anos de carreira (2009).

Mesmo tendo recebido o “Grammy Latino” nos anos de 2003, 2016 e 2018, ganho vários prêmios no Brasil e no exterior, sido homenageada por blocos carnavalescos e escolas de samba, inclusive com o samba enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel em 2020, julgo que o samba “Bola pra frente”, feito para ela por Luiz Ayrão tem simbologia marcante. Fala da sua origem, da sua garra e do seu amor por Garrincha.

Poucas pessoas no mundo suportariam os solavancos impostos pela vida, as injustiças e o preconceito que Elza suportou e teria fôlego para ser eleita a cantora brasileira do século pela BBC de Londres, em 1999.
Viva a “Deusa da Vila Vintém”.

Crônica de Ademar Rafael

QUINCAS RAFAEL

Com a devida vênia dos leitores e das leitoras deste blog hoje falarei sobre Quincas Rafael, meu saudoso pai que nos deixou há 243 meses e que nesta data faria 99 anos.

Nasceu em Afogados da Ingazeira e ainda jovem mudou-se para o Sítio Quixaba em Jabitacá em companhia do seu pai Antônio Rafael da Cruz e da sua mãe Ana Rafael de Freitas, filha do lendário Quincas Flor.

Morou na casa sede da Quixaba até o final dos anos 1960 época que passou a residir no povoado de Jabitacá na famosa Casa Amarela. Nos anos 1970 residiu em Iguaraci e em Afogados da Ingazeira para acompanhar os filhos nos estudos. No final dos anos 70 mudou-se definitivamente para Jabitacá e passou a residir na histórica Casa de Pedra aonde veio a falecer na noite de 28.11.1999.

Era detentor de três grandes habilidades: Escrever poesias, contar histórias e colocar apelidos. Em Jabitacá tem muita gente que perdeu o nome de batismo e assumiu o apelido dado por Seu Quincas, tendo em vista e coerência entre “nome novo” a figura de quem o recebia.

Sobre as duas primeiras habilidades nos deixou dois livros “Afogados deu de tudo” e “JABITACÁ Segundo Quincas”. Do poema “Cinquenta anos completa que minha mãe faleceu”, escrito em 23.01.1997, inserido no segundo livro, registro: “O céu não tem endereço/Só vai lá quem é chamado/O retorno não é dado/Lá não tem fim nem começo/A caridade é o preço/Que ajuda no transporte/Só depois da nossa morte/Deus traça nosso destino/No tabernáculo divino/Tem nosso nome e a sorte”.

Nos próximos 360 dias vamos dar vida a uma associação com seu nome, que será a mantenedora de um espaço cultural na Casa de Pedra, tudo para honrar um sonho que ele acalentou em vida.