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Posts tagged as “CRÒNICA DE ADEMAR RAFAEL”

Crônica de Ademar Rafael

A MULETA DOS APROVEITADORES

Por: Ademar Rafael

Que a economia brasileira, antes da pandemia da COVID-19, vinha andando em passos de tartaruga qualquer pessoa sensata tem obrigação de reconhecer. Que a imposição do isolamento social, também conhecido como quarentena, fez estrago numa economia inerte como a nossa também é fato que jamais pode ser ignorado.

Agora que os incompetentes e os aproveitadores lançarão mãos e pés do assunto COVID-19 para pressionar o governo por medidas em seu favor também será constatado no curto, médio e longo prazo.

Nossa criminosa cultura de particularizar os lucros e socializar os prejuízos será aplicada – por muitos meses, talvez até anos -, até a exaustão pelo grupo que sempre conseguiu da União, dos Estados e dos Municípios recursos para neutralizar a incompetência, o individualismo e falta de compromisso com o coletivo.

Nunca perderei a capacidade de sonhar com um país onde cada um, com os recursos disponíveis, possa contribuir com um projeto de nação. Neste quesito temos que incluir a classe política de todas as camadas: União, Estados e Municípios. Este pessoal sempre atirou com pólvora alheia, cujo ônus sempre ficou para os cofres públicos.

Espero não partir para outra dimensão sem ver em nosso Brasil um projeto onde o sacrifício coletivo não seja somente de quem mais sofre, dos menos afortunados e carentes de ajuda.

Por não gostar desta história de elite “x” ou “y” e ter ouvido muito o discurso falso de “deixar o bolo crescer para depois dividir”, sugiro: Vamos colocar fermento juntos, vamos usufruir dos benefícios do crescimento e criar reservas para horas de dificuldades com a participação de todos. Será possível? Não custa esperar que a crise do coronavírus tenha nos ensinado um modo diferente de agir.

Crônica de Ademar Rafael

QUEM DEVE EDUCAR?

Por: Ademar Rafael

Em entrevista para Revista Família Cristã, cujo tema foi “Quais são os rumos de educação e da família no Brasil?” o filósofo e educador Mario Sérgio Cortella assim sintetizou sua visão sobre o assunto: “O processo educativo entendido como educação continuada do ser humano do momento da concepção até o fim da vida, dá-se em todas as instituições sociais. Uma delas é a escola, que o fez de um modo deliberativo, estruturado, organizado. Contudo, a família é a responsável original pela formação das crianças a família do ponto de vista primário, como ponto de partida, e o poder público secundariamente, de forma subsidiária. É muito curioso porque, muitas vezes, diz-se que a família deve ajudar a escola na educação de seus filhos, quando é exatamente o inverso.”

Preferimos não cortar uma única palavra na resposta do grande pensador brasileiro por entendermos que fora dela pouco encontraremos com tanto acerto e contundência sobre o tema.

É inegável que os tempos mudaram, os pais precisam trabalhar para “pagar as contas” e viver com conforto mínimo. É real que a cada dia os filhos são jogados em ambientes denominados de “creches” onde os filhos são criados ao bel-prazer de “cuidadores” que muitas vezes nada cuidam, principalmente por faltar algo que Içami Tiba nos ensinou há muito tempo em “Quem ama educa” e que encontramos também na obra de Frei Leonardo Boff.

Temos certeza absoluta que existem excelentes “creches” e extraordinárias “escolas”, mas, seguimos a linha de pensamento de Cortella, nesta lógica ao fazermos uma analogia com a cobertura de uma casa, diremos com poucas restrições: “As instituições de ensino podem ser, no máximo os caibros e as ripas, jamais poderão ser as linhas”.

A escola pode ser apoio a base obrigatoriamente é a família. É este o enigma que as gerações atuais precisam decifrar, com urgência.

Crônica de Ademar Rafael

BRASÍLIA NÃO CONHECE O BRASIL

Dias antes da troca do Ministro da Saúde ouvi em uma coletiva o titular da pasta informar que estava enviando para cada município brasileiro um documento para que cada Secretário Municipal de Saúde respondesse com a devida urgência o quantitativo de leitos hospitalares e de Unidades de Terapia Intensiva – UTI, públicos e privados da cada município.

Comunicado com o mesmo teor seria remetido para cada Secretário Estadual de Saúde a quem caberia dar conta do quantitativo de leitos e UTI em sua jurisdição.

Este tipo de informação atesta quanto o poder central negligencia assuntos sérios em nosso país. Desde da municipalização da saúde periodicamente tais informações são repassadas pelas secretarias municipais para o Estado e para a União. Tais relevantes variáveis fazem parte dos dados da Programação Anual de Saúde – PAS.

É possível deduzir que os informes repassados ao Ministério de Saúde não recebem o tratamento adequado quanto à composição de uma base de dados com defasagem de um período anual. Este mesmo desconhecimento do que ocorre em nosso país advém da insistência com uma falida política pública baseada no modelo tecnocrático onde o poder central impõe regras sem ouvir os beneficiários.

Fernando Guilherme Tenório há 17 anos publicou o livro “Um espectro ronda o terceiro setor – O Espectro do Mercado” com ensaios sobre Gestão Social. Nele são apontados caminhos que solucionariam boa parte dessa nefasta centralização. Mas, o gestor público brasileiro, com raríssimas exceções, é democrático somente em época de campanha. Depois de eleito não suporta qualquer sugestão que possa retirar poder ou reduzir o peso da sua caneta. Uma pena sabermos que Brasília não conhece o Brasil e que para um país continental temos autoridades que enxergam, quando muito, a extensão de sua refrigerada sala.

Crônica de Ademar Rafael

JOB PATRIOTA DE LIMA

Acredito que é impossível alguém definir Job Patriota com a plenitude que o fez Saulo dos Passos em seu testemunho no livro “A senda do lirismo”: “Lírico, dramático, amoroso, criança perdida num mundo quase sem Deus, em função da poesia que o consome e represa nas pálpebras cansadas de seus olhos, a solução aquosa daquilo que se chama lágrima.”

Sobre o lirismo, sua marca registrada Saulo assim escreveu: “O lirismo toca com tanta força a emoção à sua alma, à semelhança do vento que chamega a porta da casa solitária, quando a reentrância do ferrolho está folgada.” Sobra pouco espaço para falar algo sobre o lirismo de Job Patriota.

Terezinha Costa, no livro “São José do Egito – Musa da poesia” destaca que Jó Patriota pegando a deixa de Canhotinho “Quanto mais o tempo passa/diminui minha alegria”, disse: “Mágoa, pranto e agonia/É tudo do mesmo tanto/Felicidade completa/Só existe em quem é santo/Porque num gole de riso/Há cem mil doses de pranto”.

No livro “Poetas Encantadores” Zé de Cazuza menciona, entre outras, a seguinte estrofe de Job: “É falta de caridade/Expulsar um peregrino/Bater na cara de um cego/Cortar o corda de um sino/Negar cachaça a poeta/Tomar o pão dum menino.”

Jó Patriota além de capacidade extrema de transformar o nada em tudo tinha um estilo peculiar de bater no corpo da viola com as pontas do dedo agregando um ritmo diferente ao baião. Com esta variação a toada de Canhotinho ficava mais bonita ainda. Tive o privilégio de conviver com Job e com seus filhos. Didi nos deixou precocemente e Noe, continua nos premiando com lindas produções poéticas dele e do pai.

Adaptado de crônica publicada no site “afogadosdaingazeira.com”, com Pessoas do meu sertão XXIV

Crônica de Ademar Rafael

QUARENTENA ENSINA

Quando recebi as primeiras informações sobre a necessidade de ficarmos em quarentena, sem tirar os pés de dentro de casa, fique apreensivo e com pouca vontade de cumprir as recomendações da Secretaria Municipal de Saúde, em consonância com posicionamento da Organização Mundial de Saúde. Mesmo assim, por insistência da família e em função dos sessenta e três anos bem vividos, permaneci em casa, saindo somente para tomar a vacina contra gripe, também por recomendação do poder publico municipal.

Em casa, para ocupar o tempo, passei a cuidar de plantas, consertar pias, ralos, portas, tomadas e outros itens que clamavam por um afago. Tudo isto porque a determinação era para ficar em casa, nada falava sobre a impossibilidade de trabalhar. Depois do quinto dia vi que nada mais havia para fazer no pequeno apartamento onde resido e antes de ser invadido pela angustia, que sempre aparece em casos da espécie, dei novo rumo ao descanso forçado.

Agarrei bons livros e como eles tenho cruzado manhãs, tardes e madrugadas. Com muita satisfação voltei a exercer o sábio e bom hábito da leitura. Tudo devidamente conciliado com uma boa música. Quando passar tudo isto posso até está com um pouco de peso a mais, mas, com certeza junto aos quilos virão muitas informações e principalmente a consciência de que tempo livre é para ser bem aproveitado.

O que mais tem desagradado durante a reclusão? Pautas das redes de televisão, canais abertos e por assinatura. Poderiam mesclar a programação relativa a cobertura da pandemia com exibição de bons filmes, documentários e outros atrativos. Preferem publicações repetidas sobre notícias sensacionalistas e com informações desencontradas, muitas delas com cheiro e cor de posições ideológicas.

Quando passar a pandemia da COVID-19, precisamos retornar a rotina anterior preservando o que reaprendemos de bom durante a quarentena. Agenda cheia de compromissos sem importância, correria e outras práticas nocivas à saúde e ao bem estar devem seguir o mesmo caminho do surto: Algum lugar no passado.