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Posts tagged as “CRÒNICA DE ADEMAR RAFAEL”

Crônica de Ademar Rafael

SILÊNCIO

Nesta crônica que encerra o conjunto de textos do décimo ano deste blog, buscamos inspiração para falarmos sobre o silêncio na frase: “Lembre-se da sabedoria da água: ela nunca discute com seus obstáculos, ela simplesmente os contorna.”, extraída do o site “Frases do bem”.

A escolha tem como base a certeza de que nela está inserida o sustentáculo da minha decisão em recorrer ao silêncio todas as vezes que percebi que minha ponderação, por mais adequada perante meu juízo de valor, criaria mais embaraços do que soluções para cada momento. Não nego, fugi do debate para evitar desgastes com parceiros em negócios e amigos.

Outras frases maravilhosas existem dando ao silêncio o status de sabedoria e prudência. Por outro lado a frase a seguir também é revestida de verdades: “O silêncio somente não é bom quando objetiva ferir o outro com a indiferença ou o desprezo.” Esta frase foi extraída de texto publicado pelo site “Mundo espírita.” Defendo a tese que não podemos, por omissão, nos calar diante de uma injustiça praticada contra nós ou terceiros.

O silêncio trazido para essa reflexão não é o silêncio amparado pelo inciso “LXIII” do Artigo 5º da nossa Constituição Federal nem no Artigo 186 do Código de Processo Penal do nosso país. Estamos falando sobre o silêncio que evita discursões intermináveis, que leva ao tumulto e desarmonia. Este é o que tenho ensaiado com a pretensão de chegar ao ponto ideal. É um exercício contínuo para colocar limite em nossa vocação para nos “metermos em tudo”, para ouvirmos mais do que falarmos e, principalmente, avaliamos antecipadamente o tamanho do estrago causado por nossa ponderação.

Que saibamos transformar essa escolha em um bem salutar para nós, para a comunidade que habitamos e para o mundo. Seguirei tentando, convido cada leitora e cada leitor a fazer o mesmo. Topam?

Crônica de Ademar Rafael

AMIGOS DE QUINCAS RAFAEL – IV

Em 1972 quando viemos residir em Afogados da Ingazeira meu pai sugeriu que em qualquer dificuldade imediata eu deveria procurar os seus amigos de infância, entre estes estava Décio Campos da Silva, seu Décio como era conhecido.

De onde vinha esta certeza do apoio? Da confiança que meu saudoso pai tinha no grupo de que estamos divulgando na última segunda feita de cada mês, neste semestre. Não houve necessidade e urgência para recorrer a estes amigos, mas a certeza da existência desses anjos da guarda dava certa segurança para o jovem advindo de Jabitacá.

Seu Décio foi uma liderança em Afogados da Ingazeira, construída com solidez pela forma como tratava todos. Como Inspetor de Trânsito ou empreendedor ele tinha enorme capacidade de criar soluções e ser bom conselheiro. Nos deixou com menos de 50 anos, na vida entre 1923 e 1972 deixou exemplos a serem seguidos. Ficaram conosco seis filhos, sendo três homens e três mulheres e Dona Zabezinha.

Lembro do dia que fui com meu pai esperar o cortejo com o corpo de Seu Décio, nas imediações do Sítio Barro Branco em Iguaracy. No trajeto Quincas Rafael falava emocionado sobre a salutar amizade entre os dois, nesta viagem tive mais um incentivo para criar a manter amizades.

Tenho o privilégio de ter convivido e ser amigo de Reginaldo, que também nos deixou, Ednaldo e Luciano. A eles nas vezes que recorri foi plenamente atendido, a amizade do nossos pais teve a sequência lógica.

A prepotência encontrada em muitos gestores e funcionários públicos com atuação na área de trânsito quer nas ruas, estradas ou unidades de atendimento – nos dias atuais -, é diametralmente oposta aos
procedimentos de Seu Décio. Era respeitado pelos pares em função do carinho que tinha por cada colega.

Crônica de Ademar Rafael

SEPSE

O título desta crônica pode remeter a atenção da leitora ou do leitor para um órgão público do estado de Sergipe, contudo, não se refere a esse assunto e sim ao nome dado para “infecção generalizada”.

Mas, hoje não vamos falar sobre a maior causa de mortes evitáveis no mundo. Falaremos sobre o sistema político brasileiro que sob o olhar deste modesto cronista se encontra com alto nível de infecção. Não existe medicamentos capazes de combater os danos causados ao país, ao seu povo e aos interesses coletivos.

Que fique claro e evidente que não podemos nem devemos culpar cidadãs e cidadãos que disputam os pleitos eleitorais e são eleitos, concorrendo aos cargos pretendidos sob o manto da legislação vigente.

Qualquer brasileira ou brasileiro que resida no espaço compreendido entre a nascente do Ailã, no Monte Caburaí estado de Roraima, ao Arroio do Chuí, no Rio Grande do Sul e entre a Ponta do Seixas na capital do estado da Paraíba e a Serra da Contamana, na nascente do Rio Moa no estado do Acre sabe que com os mecanismos atuais jamais reduziremos o fosso social e a lama em estado de putrefação do nosso sistema.

Por meio do voto poderíamos mudar algo se não continuássemos votando nos mesmos, elegendo os de sempre. Se colocarmos os eleitos para os cargos de governador, senador, deputado federal e deputado estadual em ordem alfabética encontraremos nomes de famílias que estavam nos cartazes preto e branco da época dos nossos avós.

Isto mesmo, famílias que receberam votos dos nossos avós continuam recebendo nossos votos. A proliferação de familiares na política ganha das duplas sertanejas no Centro Oeste do Brasil e é páreo duro para o cupim “coptotermes gestroi”, que povoa o mundo. Em resumo: “Votando nos mesmos, vamos continuar na mesma.” Que venham 2024, 2026…

Crônica de Ademar Rafael

REMÉDIOS AMARGOS

Ainda na ressaca das eleições vamos refletir hoje sobre algo com complexidade no nível da retirada do nosso país da crise moral e institucional em que se encontra, falaremos sobre a crise climática.

O capitalista americano, John Doerr, acredita que para cumprimos desafios que permitam atender propostas inseridas no Acordo de Paris precisamos mergulhar em direção a objetivos que se encontram submersos nos interesses de alguns países que seguem ignorando acordos feitos no encontro realizado na capital francesa. Em livro lançado no final no ano de 2021, ainda sem tradução para português, o autor relaciona dez objetivos. Dentre estes o consultor Leandro Franz nos apresenta seis em recente publicação da HSM Management.

São estes os pontos destacados: Eletrificar o transporte, por meio da produção de carros elétricos em troca de veículos que usam combustíveis fosseis; descarbonizar o sistema, com utilização massificada dos sistemas eólicos e solares; consertar nossa alimentação, através da redução dos desperdícios e consumo seletivo; proteger a natureza, com abandono de práticas que agridem fauna e flora; limpar o indústria, especialmente cimento e aço com a troca dos modelos atuais por plantas que inovem os processos em direção à redução de emissões de carbono e recapturar carbono da atmosfera via inovações tecnológicas ou reflorestamento.

São posicionamentos que alteram regras que imperam no mundo há muito tempo. Três indagações ficam no ar. A indústria do petróleo vai aceitar passivamente a troca dos automóveis atuais por carros elétricos? Os “donos” das indústrias poluentes estão dispostos a investir altas somas para mudar o sistema em uso? Os indivíduos estão dispostos a alterar a forma de consumo de alimentos em favor da sociedade? Como tais perguntas não serão respondidas as teses de Doerr ficarão no livro e na cabeça dos que as defendem, os remédios sugeridos são amargos. Sem ação essas boas intenções ficam apenas como teses salutares.

Crônica de Ademar Rafael

AMIGOS DE QUINCAS RAFAEL – III

Fechando a primeira parte desta série de seis crônicas sobre os amigos do poeta Quincas Rafael, com os três residentes nos município de Iguaracy, vamos falar sobre Gonçalo Severo Gomes. Diferente dos outros dois amigos, José Lopes Torres e Francisco Vicente Sobrinho, Gonçalo não adicionou a carreira política em seu currículo. Viveu e criou a família com muita dignidade como agropecuarista e vaqueiro por excelência.

Como os demais, carregou consigo valores como lealdade, compromisso suas obrigações e um caráter digno de ser copiado. Aos domingos passava em frente a nossa residência na Quixaba montado em um animal cujos arreios figurariam na capa de qualquer revista que abordasse o tema: “Harmonia entre arreios e animal.”

Sobre o vaqueiro Gonçalo a estrofe abaixo, feita por mim para Festival de Poesia realizado anualmente pelo poeta Iranildo Marques em Serra Talhada, cairia como um luva. Sem tirar uma vírgula e adicionando muitas reticências chegaríamos ao seu perfil perfeccionista: “É o vaqueiro um amante do forró/Tem as mãos marcadas pelos calos/Seus parceiros nas lutas são cavalos/Seus redutos, Cariri e Moxotó/Espinharas, Pajeú e Seridó/Para honrar sua nobre profissão/Sofre mais com a falta de ração/Do que com a falta de dinheiro/Desce o pranto no rosto do vaqueiro/Quando a seca se hospeda no sertão.”

Seu zelo aos animais da sua Fazenda Santa Tereza era comentado em qualquer rodada de conversas sobre fazendeiros da região. O dilema entre ração para os animais x dinheiro talvez tenha sido a maior
preocupação do sertanejo aqui citado, foi um devotado para causas criar e cuidar bem.

Tenho a obrigação de mencionar ainda outras duas características de Gonçalo. A primeira, a forma educada que ele tratava todo mundo e a segunda, mesa farta. Da sua casa ninguém saia com fome. Seu carisma e sua capacidade de juntar amigos para uma boa conversa fazem falta.