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Crônica de Ademar Rafael
UM SENTIDO NA VIDA
Para definir regras indutoras da nossa reflexão desta data a frase a seguir é muito útil. “Se cada um fizer sua parte o todo será construído.” Para que façamos nosso parte é necessário fazermos as escolhas certas e agir.
O festejado filósofo Mário Sérgio Cortella, ao escrever o livro “Qual é a tua obra” há quinze anos, sugere descobrimos o que queremos da vida a partir do ambiente que atuamos. Discorre com extrema habilidade sobre os temas ética, gestão e liderança. As provocações do autor nos leva para reflexões sobre as conquistas que sonhamos.
No ano passado o gestor público e professor de oratória Jean Kulcheski publica o livro “Estamos aqui para quê?”. A obra tem principal objetivo nos estimular a reflexões sobre temas que podem complicar ou facilitar a tarefa para encontrar respostas sobre o sentido da nossa vida.
Referida publicação destaca como impedir que os obstáculos a seguir indicados sejam tropeços em nossa vida. Portanto sugere: “Parar de brincar na ilusão”, “Parar de brigar por coisa pequena” e “Parar de se considerar coitadinho”. Caso estes embaraços façam parte do seu cotidiano remova-os imediatamente.
Para que a remoção ocorra em tempo hábil o autor indica que devemos nos livrar dos seguintes complicadores: “Egoísmo”, “Orgulho”, “Mágoa”, “Revolta”, “Culpa”, “Ansiedade”, “Raiva”, “Medo”, “Inveja” e “Ciúme”. Percebam que são variáveis fáceis de introduzimos em nossa vida e difíceis de nos livrar delas.
Também para removermos os entraves, Jean sugere nos abraçarmos com os seguintes facilitadores: “Caridade”, “Benevolência”, “Indulgência com a imperfeição alheia”, “Perdão”, “Paciência”, “Abnegação”, “Resignação”, “Gratidão” e “Trabalho”. O livro não é uma “receita de bolo” é sim um roteiro para identificarmos nossa OBRA. Façamos NOSSA PARTE.
Crônica de Ademar Rafael
VIDA LONGA
Se percorremos a história da humanidade, com um olhar focado na longevidade, vamos encontrar relatos relativos a porções milagrosas e outros artifícios para prolongar a vida de alguns felizardos. Nos dias atuais, com os avanços da medicina, muitas pessoas tem ultrapassado a díade de noventa anos o que era impossível no início do século passado.
Mas, por força de outros componentes, entra em cena a questões como: “Qualidade de vida”, “Viver com dignidade”, “Velhice saudável” e tantos outras. Para dar conta a estas exigências muitos recorrem a medicamentos classificados como anabolizantes, antidepressivos, estimulantes, calmantes e outros. Tais medicamentos, em sua esmagadora maioria, deixam um rastro de dependência e sequelas inarredáveis.
Como fazer essa travessia então? Existem vários caminhos. Recorrer aos serviços de nutricionista, para mudar os hábitos alimentares; utilizar as habilidades de “Personal Trainer”, para ministrar exercícios no modelo personalizado; praticar esportes sob orientação de profissional habilitado, para doar a carga diária das atividades; etc. Muitas pessoas, por motivos diversos, não dispõem de recursos financeiros e de tempo para seguir uma das hipóteses acima relacionadas e mesmo assim procurar de alguma forma encontrar meios para viver mais e gozando de saúde.
Um dos caminhos são os livros relacionados com o assunto. Um destes é “O milagre da manhã”, que foi escrito pelo americano Hal Elrod, destacado palestrante motivacional. Para ter uma vida produtiva e que nos leve a longevidade o autor sugere uma série de atividades na primeira hora da manhã, as quais podem ser executadas sem custos financeiros e muitos benefícios. Destaco, sem intenção de reduzir a importância de outras sugestões registradas no livro: A prática da meditação, da leitura, da escrita e do exercício físico. Tudo com muita perseverança e assiduidade. Portanto, antes de recorrermos a medicamentos vamos adotar medidas saudáveis como as indicadas pelo escritor?
Crônica de Ademar Rafael
ANTÔNIO BEZERRA DA SILVA
Numa época que uma das atrações do futebol era os esbarrões entre atacantes marrentos e zagueiros truculentos em nossa região se destacava um defensor que, pelo seu porte físico, fugia das disputas corporais com muito êxito e muita competência. Pelo nome acima muitos não identificarão, mas seu disser Serra Pau todos da época lembrarão do eficiente defensor, que atuou nos principais times de Afogados da Ingazeira, em diferentes épocas.
Não há um time de nossa cidade que durante sua brilhante carreira Serra Pau não tenha atuado. Uma das suas características principais era que ele mantinha a regularidade em qualquer jogo, em qualquer campo e por qualquer time. Jogava futebol como divertimento, se sentia bem acabando com a alegria de muitos atacantes. Exímio roubador de bolas, foi o zagueiro mais parecido com um volante que vi atuar no futebol de nossa região. Sabia sair jogando e tratava a bola muito bem e não dava pancadas para vencer seus embates.
Mesmo conhecendo boa parte da sua trajetória eu estava equivocado com um detalhe. Para mim ele jamais teria sido expulso. Recentemente ao perguntar para ele ouvi o seguinte resposta: “Fui expulso poucas vezes, todas por reclamação.” Este fato comprova que foi um zagueiro que jogava na bola. Para isto utilizou duas das características dos bons defensores: Colocação e tempo de bola. Com elas eles poucas vezes errou um bote, vi muitas partidas em que literalmente Serra Pau anulou seus as ações dos adversários de forma implacável.
Um outro ponto que merece destaque na vida de Serra Pau é a forma educada que ele trata as pessoas. Da época do menino doido por futebol dos anos 1970 até os dias atuais nas vezes que puxei conversa com ele foi atendido como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo. Com esta forma atenciosa ele atende todos que procuram sua barraca ao lado da Palácio Episcopal. Se em minha vida, profissional principalmente, eu tivesse utilizado essa característica que sobra em Serra Pau teria evitado muitos problemas. Minha impetuosidade e falta de educação criaram-me problemas. Poderia ter aprendido mais com o refinado jogador.
Para mim três outras escolhas de Serra Pau, que nos servem muito nos dias atuais, merecem ser aqui destacadas. A primeira trabalhe com afinco e reclame menos, faca sua parte; a segunda deixe que os outros digam suas qualidades e a terceira não critique ninguém, se puder ajudar ajude. Como pode ser observado esses valores fazem parte da vida dos reais vencedores. Aqui cabe um destaque: “Vencer não é somente ter muito dinheiro, é ter uma vida digna respeitando os outros e ocupando os espaços que a vida lhe reservou.”
No mundo das aparências que coloca foto da primeira páginas que grita, esperneia e agride, pessoas como Serra Pau merecem muito mais, por isto fará parte da galeria “Pessoas do meu Sertão”, por direito. Obrigado amigo.
Crônica de Ademar Rafael
GAMA
O título acima não é dedicado ao time do Distrito Federal nem a letra do alfabeto grego, refere-se a Geração Amazon, Magalu e Americanas – GAMA. Nosso propósito é falar sobre as pessoas inseridas no mundo das três grandes empresas que operam no do varejo brasileiro e disputam quem entrega uma mercadoria em menor tempo.
Portanto, vamos falar sobre pressa. Este fenômeno que está transformando a sociedade em uma legião robôs. Desculpem o exagero, mas é assim que tenho percebido. Recentemente fiquei trinta dias fora da minha residência em João Pessoa, passei por Pernambuco, Ceará e São Paulo. Nesta viagem pude perceber quanto nós estamos movidos por uma pressa exagerada.
Vamos a um exemplo básico: Muitos ao entrarem em um elevador acionam o botão do andar para onde estão indo e na sequência um botão que fecha a porta mais rápido como se essa diferença de frações de segundos fizesse alguma diferença. Estas e outras escolhas podem, levadas para outras práticas do cotidiano, indicar o modo de vida das pessoas.
Sou de uma época que a falarmos com alguém que viria consertar algo em nossa residência perguntávamos: Que dia você vem? Hoje a pergunta é: Quanto tempo você gasta para chegar? Aqui cabe um esclarecimento. Esta palavra “tempo” está no lugar de “minutos” e nas entrelinhas está dizendo “horas” são uma eternidade.
A disputa de tempo entre as empresas acima para ganhar a preferência dos clientes que utilizam vias eletrônicas disponíveis é salutar para o mercado delas. Inserir essa velocidade em nossa prática diária, expondo ao limite seres humanos que carecem de tempo para pensar, decidir e agir é, para este cronista, um caminho de muito risco. Quem pensa diferente tem meu respeito. Fica a indagação: Vale a pena essa correia toda? Responda para você mesmo, a vida é sua e as sequelas também.
Crônica de Ademar Rafael
ISCAS EM EXCESSO
O consagrado escritor indiano George Orwell, autor de “1984” e “Revolução dos bichos”, com texto primoroso em “A planta de ferro” narra a luta do poeta Gordon Comstock, ao declarar guerra ao “deus” dinheiro.
A narrativa se desenrola detalhando as angustias do fracassado livreiro e poeta que, submerso em mundo de carência financeira e afetiva, encontra no dinheiro todas as causas para seu insucesso e sua vida miserável.
Da história situada nos primeiros anos da década de 1930 quando trazida para nossa época encontra muita similaridades com o desencanto de jovens e o desalento de desempregados que enxergam na falta do dinheiro todas as causas dos seus problemas.
É impossível desvincularmos o dinheiro das nossas necessidades em um mundo onde o consumismo impera e cria regras. Dando crédito para percepções diferentes, entendemos que sermos escravos do “deus” tira toda nossa capacidade de percebermos quantas oportunidades temos para sobreviver em um mundo de cooperação que também existe, mas que fugimos dele.
As iscas em excesso contidas no infinito volume de informações disponíveis e as indicações de receitas infalíveis para obtenção do sucesso desejado tem, ao nosso juízo de valor, direcionado todos para uma guerra sem fim. Valores são invertidos, fins que justificam os meios desenvolvidos com práticas desprovidas de ética e bom senso.
O sentido de missão e os rituais presentes nos momento de semeadura são variáveis ignoradas nos dias atuais. Abdicar de meios honestos para obtenção de dinheiro suficiente para uma vida digna ou ser escravo de tal bem são posicionamentos que não levam ninguém ao porto seguro.
Precisamos resolver essa equação e não há receita pronta. O mundo sem dinheiro é utopia, o mundo escravo dele é dependência perigosa.
Crônica de Ademar Rafael
JOSÉ ANDELSON DOS SANTOS
Entra para galeria “Pessoas do meu sertão”, o personagem acima, conhecido como Dedé de Ninô. Amigo desde 1973 quando o saudoso Luiz Alves, diretor de Ginásio Industrial resolveu juntar as duas turmas do terceiro ano, unificando as aulas para este grupo no período noturno.
Desde o primeiro momento ficamos amigos. Eu já o conhecia como jogador do segundo time do Santa Cruz de Ninô ao assistir os treinos no campo do União e ver os jogos nas manhãs de domingo. Formamos dupla nas molecagens no Ginásio e com seu primo Bartó criamos o grupo musical “Trio Lorivá”, especialista em mudar as letras de músicas consagradas, criando versões hilárias. A paródia mais famosa foi a letra criada para música “Dona Teresa”, dos compositores Elias Soares e Clovis Dos Santos Matias e gravada por muita gente. Os versos criados pelo trio do ginásio narrava um incidente ocorrido durante uma aula de matemática do nosso querido Durval Galdino, os detalhes devem ser preservados em nome do respeito com nossas leitoras e nossos leitores.
No futebol, nas versões campo ou quadra, Dedé de Ninô foi um jogador habilidoso, detetor de muita raça e um potente chute. Na primeira derrota do time do Barcelona (1×2), entrega de faixas de campeão afogadense, fez os dois gols da equipe vencedora, formada por jogadores destaques do certame que não atuavam pelo time campeão. Este fato o credenciou para integrar o Barcelona no ano seguinte e ser bicampeão.
Dentro da sala de aula Dedé de Ninô foi um aluno brilhante, tirava boas notas nas disciplinas consideradas “bicho-papão”, esta característica aliada à sua dedicação o qualificou para ser aprovado em concorrido concurso do BANDEPE instituição financeira que serviu com zelo e competência chagando ao cargo de gestor de agência. No famigerado plano de adequação do banco perdeu o emprego por estar numa das agências a serem fechadas. O banco, em nome de um planejamento baseado em critérios contestáveis sobre todos os aspectos, perdia um dos seus melhores quadros. O capital vencia o talento, o dinheiro superou o ser humano, a lógica privatista vencia a lógica de desenvolvimento.
No quesito ser humano Dedé ganha as melhores notas. Ao perder injustamente seu emprego não ficou remoendo o fato. Passou a atuar como empreendedor na área de transporte de passageiros e com esta atividade criou com dignidade sua família. Hoje reside em Tabira e na chácara no “Travessão de Zé Lourenço” recebe amigos para comemorar a vida com muita fartura, belas histórias, músicas e poesias de primeira qualidade.
Dedé é um amigo com o qual passei alegres momentos na vida. As vaquejadas de Tavares e as festas que fizemos visando angariar recursos para festas de formatura e excursões na turma do Ginásio, em João Pessoa e Técnico de Contabilidade, em Fortaleza são registros inesquecíveis. Não integra esta galeria por ser meu amigo e sim por representar muito bem nossa região em diversas áreas, é muito maior do que aqui está registrado.
Crônica de Ademar Rafael
PARA ONDE ESTAMOS INDO?
Amanhã com muita gratidão e fé em Deus estarei completando sessenta e cinco anos de idade. Excluídos os excessos praticados na juventude, tenho a esperança de ter contribuído de alguma forma para um mundo melhor, ter ajudado mais que atrapalhado.
Não cabe a mim essa análise. Sempre carregamos a tinta em nosso favor nos julgamentos, faz parte da natureza humana. Em nossos diálogos semanais procuro deixar uma mensagem para reflexão. Cada leitora e cada leitor tira suas conclusões, neste campo não cabe imposição de teses, jogamos no ar e a sua aplicação fica a cargo de cada pessoa.
A indagação que serve como título desta crônica não caiu de paraquedas em minha vida, tem sido um questionamento feito com muita assiduidade nos últimos anos. Honestamente não sei para onde vamos com tanta
intolerância, despeita e discriminação.
Perto da tempestade dos despropósitos que correm nas redes sociais as fofocas de antigamente foram transformadas em leves brisas. Por mais estapafúrdia que seja a mensagem publicada o público que com ela se
identifica curte, compartilha e comenta. Uma insanidade é transformada em verdade e segue fazendo estragos.
Nos últimos três anos, por força da pandemia e dos trabalhos em casa, tenho sido seletivo nas leituras para tentar neutralizar os impactos negativos que determinadas mensagens das redes sociais. Tenho conseguido em parte. Não é fácil se livrar da carga nociva que compõem os textos e as figuras. Perdemos nosso censo de ridículo? Estamos sendo levados pela tempestade?
Como já afirmei em outras oportunidades, em temas complexos, não tenho as respostas. Tento me preservar com as ferramentas disponíveis, a poesia tem ajudado muito. Que Deus nos ajude a sair dessa enrascada.
Crônica de Ademar Rafael
É O AMOR…
A leitura direta do título acima pode nos levar na direção da música que turbinou a carreira dos irmão cantores sertanejos Zezé de Camargo e Luciano, contudo, nesta crônica é utilizado como base de sustentação da linha de pensamento sugerida.
Este assunto é trazido ao nosso diálogo semanal por estarmos em ano de eleição, época que os políticos gostam de manifestar seu apoio quanto a importância do tema para o país. Depois de eleitos os educadores são jogados para os últimos lugares nas filas das prioridades.
Em virtude de alimentar o sonho de ser um deles vejo que os educadores são imprescindíveis para formar as gerações futuras sem as amarras da dependência e da alienação. Para tanto precisam lançar mãos de uma habilidade única para mudarmos o mundo: O AMOR.
Do livro “E o verbo se fez parábola”, de autoria do juiz do Direito Haroldo Dutra Dias, retiro um fragmento que narra com extrema clareza os benefícios advindos com a utilização de tal habilidade, vejamos: “…O verdadeiro educador é aquele que está imbuído de sabedoria. Ninguém destituído de experiência de vida pode educar. Ensinar requer experiência no trato como assunto em pauta. Para que alguém se torne um verdadeiro educador é preciso amar os educandos. … O educador que não tem amor pelo educando pode transformar a verdade em um bastão. Pode humilhar o educando com sua sabedoria e constranger o aprendiz com sua experiência.” O pensamento do escritor mineiro nos aproxima do que escreveu o educador Içami Tiba, em seu famoso livro “Quem Ama, Educa!”.
Que o maior educador da história de humanidade, Jesus Cristo, nos ilumine na difícil tarefa de encontrar no esgoto da política brasileira algo menos putrefato. Quando alguém, movido pelo princípio aqui destacado, assumir cargos de comando nosso maior gargalo começará a ser destravado. Os educadores precisam ser amados pelos governantes.
Crônica de Ademar Rafael
A FEIRA LIVRE
Tenho por hábito, desde a infância, visitar o espaço das feiras livres é grande a minha identificação com o que ali acontece. Trabalhei em feiras. Inicialmente ajudando feirantes nas montagens das barracas e na arrumação das mercadorias nos domingos em Jabitacá e depois como vendedor nas feiras de Afogados da Ingazeira e Tavares, como empregado do saudoso Aniceto Mariano nos tempos do Bazar das Miudezas.
Além de ser umas das maiores e mais prestigiadas feiras do Pajeú a feira de Tabira foi fonte de inspiração para o magistral poeta Dedé Monteiro criar o poema “Fim de feira”. São estrofes que definem com brilhantismo as cenas verificadas nos momentos finais de uma feira livre. A grande feira da capital do agreste pernambucano inspirou o poeta para com compor a música “A feira de Caruaru”, um dos inúmeros sucessos de Luiz Gonzaga. Sobre o tema o paraibano Sivuca e a paraibana Glorinha Gadelha fizeram a extraordinária música “Feira de mangaio”, que a mineira Clara Nunes interpretou com maestria. A letra merece todos os aplausos e a melodia é um das obras primas do grande instrumentista de Itabaiana.
Na condição de funcionário de funcionário do Banco do Brasil trabalhei em duas cidades baianas cujas feiras são dignas de registros a de Serrinha e de Vitória da Conquista, no bairro Brasil. Sobre a primeira fiz esta estrofe em 2002: “Aqui existe uma feira/ Que lembra Caruaru/ Tem farinha, tem beiju/Foice, facão e peixeira/ Balde, panela e peneira/Tem coentro e cebolinha/Tem bode, frango, sardinha/E pomada para unguento/ Se você quer sortimento/Venha a feira de Serrinha.”
Recentemente li o livro “Dias de feira”, do blogueiro Júlio Bernardo, que decifra em detalhes o entorno de uma feira livre. Narra as regras entre os feirantes, a relação de confiança entre feirantes e clientes, as rotinas do antes, durante e após feiras. Quem gosta o assunto fica encantado com a narrativa do filho de um feirante e, principalmente, com as lições que a feira livre nos dar gratuitamente.
Crônica de Ademar Rafael
DIMAS BESERRA DE LIMA
Nesta primeira crônica do ano, relacionada com o tema “Pessoas do meu sertão”, vamos falar sobre um personagem conhecido em Afogados da Ingazeira como Dimas Pai Véi, Dimas de Ernesto ou Dimas. É detentor de carisma diferenciado, dono de estilo próprio e de ironia inigualável. Conheci Dimas assim que cheguei em Afogados da Ingazeira em 1972. Era obrigatório passar em frente a sua residência na Manoel Borba, ao lado da Serralheria de Mestre Biu, sua fama de bom dorminhoco deve ter origem na capacidade de dormir com o barulho da serras e lixas nas peças confeccionadas na serralheria.
Nesta época aprendi com Dimas habilidade de manter o controle da situação, mesmo com a chapa pegando fogo, tento utilizar sem o mesmo êxito. Esta habilidade foi captada durante as jornadas de partidas de sinuca que Dimas travava com George de Zé Daca. Vi muitas vezes Dimas perder uma partida por errado um bola considerada fácil para o nível dele e ao controlar os nervos, não sei como, na partida após a saída do adversário ele deixava somente a “carambola” em cima da sinuca, as demais bolas estavam devidamente encaçapadas.
Jogando futebol Dimas foi um jogador tipicamente “chato”, um pequeno deslise de um defensor era por ele transformado num lance de perigo em milésimos de segundos. Se fazia de morto para dar o bote e como maribondo da capote nunca errava. Nas vezes que o enfrentei na condição ode treinador do Barcelona eu sempre avisava aos meus jogadores: “Cuidado com Dimas Pai Véi, do nada ele aparece criado confusão para nossa defesa.” Este alerta evitou muito problemas.
Enveredou pela política e foi vereador em sua terra por um mandato. Não se adaptou ao regime da vereança e foi cuidar da vida. Depois de andar pelo mundo Dimas criou um dos mais antigos bares de Afogados da Ingazeira, muita gente boa bate o ponto regularmente no seu estabelecimento. É, de fato, muito bom ser atendido por Dimas e Marinês.
Para narrar as histórias engraçadas de Dimas seria necessário um livro. Vou pular essa parte e registrar que ele domina como pouco a arte de brincar um artigo criado na China e aperfeiçoado na França. O Rei dos Trocadilhos Lourival Batista, em verso antológico assim qualificou tal brinquedo: “Baralho tem quatro ases/Quatro duques, quatro três/Quatro quatros, quatro cincos/Quatro oitos, quatro seis/Quatro noves, quatro setes/Quatro dez, quatro valetes/Quatro damas, quatro reis.”
Em fevereiro de 2020, no encontro dos antigos funcionários do Banco do Brasil de Afogados da Ingazeira conversávamos na AABB e ele me perguntou se eu já tinha netos. Respondi que não, ele prontamente disse: Pense num troço bom. O minha neta é louca pelo velhinho aqui e deu a sua gargalhada peculiar. Aqui cabe um registro: “Além da sua neta, caro amigo, muita gente gosta de estar com você.” Valeu amigo, vida longa.