DIMAS BESERRA DE LIMA
Nesta primeira crônica do ano, relacionada com o tema “Pessoas do meu sertão”, vamos falar sobre um personagem conhecido em Afogados da Ingazeira como Dimas Pai Véi, Dimas de Ernesto ou Dimas. É detentor de carisma diferenciado, dono de estilo próprio e de ironia inigualável. Conheci Dimas assim que cheguei em Afogados da Ingazeira em 1972. Era obrigatório passar em frente a sua residência na Manoel Borba, ao lado da Serralheria de Mestre Biu, sua fama de bom dorminhoco deve ter origem na capacidade de dormir com o barulho da serras e lixas nas peças confeccionadas na serralheria.
Nesta época aprendi com Dimas habilidade de manter o controle da situação, mesmo com a chapa pegando fogo, tento utilizar sem o mesmo êxito. Esta habilidade foi captada durante as jornadas de partidas de sinuca que Dimas travava com George de Zé Daca. Vi muitas vezes Dimas perder uma partida por errado um bola considerada fácil para o nível dele e ao controlar os nervos, não sei como, na partida após a saída do adversário ele deixava somente a “carambola” em cima da sinuca, as demais bolas estavam devidamente encaçapadas.
Jogando futebol Dimas foi um jogador tipicamente “chato”, um pequeno deslise de um defensor era por ele transformado num lance de perigo em milésimos de segundos. Se fazia de morto para dar o bote e como maribondo da capote nunca errava. Nas vezes que o enfrentei na condição ode treinador do Barcelona eu sempre avisava aos meus jogadores: “Cuidado com Dimas Pai Véi, do nada ele aparece criado confusão para nossa defesa.” Este alerta evitou muito problemas.
Enveredou pela política e foi vereador em sua terra por um mandato. Não se adaptou ao regime da vereança e foi cuidar da vida. Depois de andar pelo mundo Dimas criou um dos mais antigos bares de Afogados da Ingazeira, muita gente boa bate o ponto regularmente no seu estabelecimento. É, de fato, muito bom ser atendido por Dimas e Marinês.
Para narrar as histórias engraçadas de Dimas seria necessário um livro. Vou pular essa parte e registrar que ele domina como pouco a arte de brincar um artigo criado na China e aperfeiçoado na França. O Rei dos Trocadilhos Lourival Batista, em verso antológico assim qualificou tal brinquedo: “Baralho tem quatro ases/Quatro duques, quatro três/Quatro quatros, quatro cincos/Quatro oitos, quatro seis/Quatro noves, quatro setes/Quatro dez, quatro valetes/Quatro damas, quatro reis.”
Em fevereiro de 2020, no encontro dos antigos funcionários do Banco do Brasil de Afogados da Ingazeira conversávamos na AABB e ele me perguntou se eu já tinha netos. Respondi que não, ele prontamente disse: Pense num troço bom. O minha neta é louca pelo velhinho aqui e deu a sua gargalhada peculiar. Aqui cabe um registro: “Além da sua neta, caro amigo, muita gente gosta de estar com você.” Valeu amigo, vida longa.