ISCAS EM EXCESSO
O consagrado escritor indiano George Orwell, autor de “1984” e “Revolução dos bichos”, com texto primoroso em “A planta de ferro” narra a luta do poeta Gordon Comstock, ao declarar guerra ao “deus” dinheiro.
A narrativa se desenrola detalhando as angustias do fracassado livreiro e poeta que, submerso em mundo de carência financeira e afetiva, encontra no dinheiro todas as causas para seu insucesso e sua vida miserável.
Da história situada nos primeiros anos da década de 1930 quando trazida para nossa época encontra muita similaridades com o desencanto de jovens e o desalento de desempregados que enxergam na falta do dinheiro todas as causas dos seus problemas.
É impossível desvincularmos o dinheiro das nossas necessidades em um mundo onde o consumismo impera e cria regras. Dando crédito para percepções diferentes, entendemos que sermos escravos do “deus” tira toda nossa capacidade de percebermos quantas oportunidades temos para sobreviver em um mundo de cooperação que também existe, mas que fugimos dele.
As iscas em excesso contidas no infinito volume de informações disponíveis e as indicações de receitas infalíveis para obtenção do sucesso desejado tem, ao nosso juízo de valor, direcionado todos para uma guerra sem fim. Valores são invertidos, fins que justificam os meios desenvolvidos com práticas desprovidas de ética e bom senso.
O sentido de missão e os rituais presentes nos momento de semeadura são variáveis ignoradas nos dias atuais. Abdicar de meios honestos para obtenção de dinheiro suficiente para uma vida digna ou ser escravo de tal bem são posicionamentos que não levam ninguém ao porto seguro.
Precisamos resolver essa equação e não há receita pronta. O mundo sem dinheiro é utopia, o mundo escravo dele é dependência perigosa.