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ESPAÇO DA POESIA

dioVai Chudu, Deus te aguarda em alvos seios!
Deixa o mundo terráqueo, sem amores,
Lá no espaço terás regatos cheios,
De cristais aurorais, furtando cores.

Viverás sem os falsos devaneios,
Que nublaram teus olhos sonhadores,
Acharás no luar dóceis enleios,
Num altar divinal, bordado em flores.

Flores virgens, com ceiva e vida nova,
E não iguais as que pus na tua cova,
Arrancadas por mim entre os abrolhos.

Como tu, foram mortas, mas estão,
Em silêncio, cobrindo teu caixão,
Salpicadas com prantos dos meus olhos.

Diniz Vitorino.

ESPAÇO DA POESIA

dioDurante as cenas da noite,
A lua nasce sorrindo,
O vento enlarguessa o furo,
De um cobertor se puindo,
Numa tipóia de saco,
Que um pagão caiu dormindo.

Matuto que impôs respeito,
Aos doutores graduados,
Com seus repentes tirados
Da caixa preta do peito,
O poeta mais perfeito,
Que vi em cima do chão,
Não vejo na profissão,
Quem assuma o lugar seu,
A POESIA MORREU,
DEPOIS DA MORTE DE JOÃO.

É sanfona, instrumento principal,
Pra quem busca na música a sua meta,
A viola é parceira do poeta,
Vaquejada é esporte original,
A VIOLA me lembra Lourival,
A SANFONA me lembra Gonzagão,
VAQUEJADA me lembra Tadeuzão,
Malassombro dos bois qaendo corria.
É FORRÓ, VAQUEJADA E CANTORIA,
A CULTURA DO POVO DO SERTÃO.

Diomedes Mariano.

ESPAÇO DA POESIA

dioOs dois jumentos;

Numa triste manhã de quarta feira,
Assisti uma cena horripilante,
Dois jumentos subindo uma ladeira,
Conduzindo uma carga extravagante.

O de cima batia a todo instante,
Açoitando a chibata estaladeira,
O de baixo açoitado e ofegante,
Sem poder, suportava a carga inteira.

Eu tomado de pena do de baixo,
Disse ao jegue de cima, moço eu acho,
Que tem peso demais, indagou ele.

O senhor é alguma autoridade?
Tá com pena do bruto de verdade,
Então venha assumir o lugar dele.

Dedé Monteiro.

ESPAÇO DA POESIA

dioVIDÊNCIA

Neste palco verdasco, escuro arranjos!
Duma orquestra que encanta o campanário.
Tenho a clara impressão de ouvir os anjos,
Num latente teatro imaginário.

Mas não são querubins tocando banjos,
No selvático tapete solitário,
São espíritos de luz chamando arcanjos,
Para um dócil concerto relicário.

Como ser oriundo de outras vidas,
Ouço sons de sonatas emitidas,
Por arautos da crença em serenata.

Comprovando num canto de doçura,
Que a caveira é efémera, é lama pura,
Porém a alma é suprema, Deus não mata.

Diniz Vitorino.

ESPAÇO DA POESIA

dioAmei a muitas pequenas,
Brancas, pretas e mulatas,
Umas mansas como gatas,
Outras bravas como hienas,
Loiras, sardentas, morenas,
Boas de papo e de cama,
Fiz tudo que foi programa,
A solidão continua,
NÃO HA QUEM SUBSTITUA,
A MULHER QUE A GENTE AMA.

Raimundo Asfora.

Na vida senti abalos,
E desesperos medonhos,
Sonhos, sonhos e mais sonhos,
Sem poder realizá-los,
Na frente senti os halos,
Da áurea da juventude,
Mas nunca tive a virtude,
De dormir entre dois seios,
NÃO TIVE AMORES, SONHEI-OS,
MAS DESFRUTÁ-LOS NÃO PUDE.

Lourival Batista.

ESPAÇO DA POESIA

dioDé, ao ser transferido a Deus pedi,
Oh meu Deus, encurtai esta distância,
Deus estava guiando a ambulância,
Tava em cada detalhe da UTI,
Deus estava por trás do bisturi,
Que cortou do joelho até o pé,
Tava até nas ações de amor e fé,
Dos doutores vestidos de almas boas,
DEUS OPERA MILAGRE NAS PESSOAS,
E OPEROU UM MILAGRE EM NEGRO DÉ.

(Diomedes Mariano).

O cego de Jericó,
Curado por Jesus Cristo,
Na hora que abriu os olhos,
Disse meu Deus, que é isto?
Assustado com um claro,
Que ele nunca tinha visto.

(Roque Machado).

 

ESPAÇO DA POESIA

dioNos cabelos de sol de uma menina,
Jurou ele aquecer-se a vida inteira,
Ela ainda inocente e pequenina,
Palma nascente da caudal abeira.

Mais tarde ela cresceu ágil e franzina,
Desiludida da feição primeira,
O seu amor a nenhum homem se inclina,
Ele casou-se, ela ficou solteira.

Quando um sobrinho pequerrucho e lindo,
Lhe perguntava entre chorando e rindo,
Conte uma história tia, conte aquela.

Ela repete qual se um conto fora,
Era uma vez uma criança loira,
E ninguém sabe se essa história é dela.

(Autor desconhecido)

ESPAÇO DA POESIA

dioQuanto é triste se ver um nordestino,
Receber mil reais por quatro reses,
A esposa gestante de oito meses,
Sem poder com o peso do menino,
Muitas vezes caminha sem destino,
Com a ponta de um pau riscando o chão,
Como quem tá caçando uma ilusão,
Que perdeu na poeira da estrada,
Vi a planta morrer esturricada,
Na quentura do fogo do verão.

Um pedaço do bife do maciço,
Nunca passa na boca da infeliz,
Quando pede uma esmola o rico diz,
Quer morar lá em casa, tem serviço.
Por que é que os ricos fazem isso?
Tanta grana que tem depositada,
Nega um Taco de pão a esta coitada,
Depois paga com juro a natureza,
Vê-se sombras visíveis de tristeza,
No olhar da criança abandonada.

Saudoso João Paraibano

ESPAÇO DA POESIA

dioVocê que ama o repente,
Cantado de improviso,
Faço através deste aviso,
Um convite inteligente,
Venha sábado ouvir a gente,
Numa noite de alegria,
Transformando em poesia,
A história do sertão,
PIZZARIA ESTAÇÃO,
SÁBADO VAI TER CANTORIA.

Amigos Nilo e Nelsinho,
Convidam os apologistas,
Para assistirem os artistas,
Cantarem ao som do pinho,
Zé Viola um passarinho,
Que o Piaui prestigia,
Com Diomedes, “a cria”
Do ventre de Solidão,
PIZZARIA ESTAÇÃO,
SÁBADO VAI TER CANTORIA.

Diomedes Mariano.

ESPAÇO DA POESIA

dioHino Enfermo;

O Ipiranga que ouviu nas margens plácidas,
Heroísmos de brados retumbantes,
Hoje escuta gemidos de almas flácidas,
Esfaimados de amor, agonizantes,
E os reflexos dos céus da liberdade,
Já não brilham com tanta intensidade,
Nos céus pátrios que ainda são tão vastos.
Mas não são tão poéticos como antes,
Nodoados por gosmas nauseantes,
De palermas, corruptos e nefastos.

Quando alguém desafia a própria morte,
Nunca é pelo penhor dessa igualdade,
É revolta, excomunga a negra sorte,
Suicida-se na vil sociedade.
Com uma bala de aço o peito fura,.
No declínio de tudo ainda murmura,
Vou fugindo da fome e do desprezo,
Salve, salve, Brasil oh pátria amada,
Mãe gentil dos vilões, terra adorada,
Por quem rouba, escraviza e não vai preso.

Raio vívido que nunca resplandece,
Sol intenso em fantasma transformado,
Céu límpido e risonho que hoje tece,
Véu escuro na flâmula do passado,
O perfil verde louro do cruzeiro,
Que antes foi puramente brasileiro,
E o orgulho de exímios patriotas,
Tá com seu resplendor ameaçado,
Brevemente será privatizado,
Leiloado nas mãos dos agiotas.

Diniz Vitorino.