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CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELCORRUPTOS, AS REGRAS MUDARAM.

Lendo com atenção redobrada a matéria “Escritório dos EUA consolida ações coletivas contra a Petrobras” vinculada em 30.03.2015 no site http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/03 cheguei a uma inédita conclusão: Antes de praticar um ato nocivo ao erário o gestor público deve levar o fato ao conhecimento da imprensa, dos investidores e da Comissão de Valores Mobiliários, caso a corrupção envolvam empresa com papéis negociados em bolsas de valores.

Fico, no entanto, com algumas dúvidas de ordem prática. Como antecipar uma ação corrupta? A comunicação será feita individualmente em coletivamente? Quem anunciará o fato o corruptor ou o corrupto?

Cheguei à exótica conclusão ao ler que segundo o escritório de advocacia Pomerantz LLP – que já havia ingressado com ação coletiva em dezembro de 2014 –, a Petrobras e seus altos executivos estão envolvidos em um esquema bilionário e com duração de “muitos anos” de “lavagem de dinheiro e pagamento de propinas que foi ocultado de investidores”. Alegam os juristas que a petroleira violou normas do mercado de capitais norte-americano e brasileiro.

Novas dúvidas. Se os executivos – entre eles os ex-presidentes da estatal Sérgio Gabrielli e Graça Foster –, dessem publicidade aos atos ilícitos seus alegados crimes seriam abrandados? A comunicação seria via “Fatos Relevantes”?

Defendo uma tese que nenhum americano, em virtudes de práticas vigorantes nos E. U. A, tem estatura moral para criticar países ou empresários que pratiquem deslizes éticos em seus negócios. Abaixo fatos reais que corroboram com minha avaliação.

Laurence G. Mcdonald – ex-vice-presidente do Lehman Brothers, em conjunto com o renomado escritor Patrick Robinson, escreveu “Uma colossal falta de bom senso”.

Referido livro traz os detalhes da crise de 2008, gerado e alimentado no seio da famosa Wall Street. Destaca a obra que dirigentes da instituição financeira foram alertados em três oportunidades diferentes, a primeira em 2005, que o “mercado imobiliário no qual estava apostando muito dinheiro rumava ao colapso”.

Em novembro de 2011 o site http://veja.abril.com.br/noticia/economia, publicou artigo sobre o caso da MF Global, corretora americana, atestando que “o colapso da corretora norte-americana MF Global Holdings Ltda afetou operações em várias bolsas de futuros” e decifrando as práticas irregulares.

Como pode ser visto “honrados” cidadãos americanos podiam evitar a crises que minaram economias pelo mundo, mas, a ganância e a prepotência mais uma vez deram-lhe poderes para decidir sobre causas mundiais. Não consegui apurar se nos dois casos o mercado foi avisado antes. Desconfio que não.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAEL2SEM LIMITES

Há muitos anos, um poeta amigo enviou-me um CD de um caboclo da Paraíba, chamado Jessier Quirino. De cara, descobri que o arquiteto das palavras – filho da Borborema- havia criado algo diferente das coisas até então publicadas. Os principais destaques eram: “Vou-me embora pro passado” e “Comício de beco estreito”.

Posteriormente, conheci o autor em programas televisivos e, pessoalmente, em um evento do Banco do Brasil, em Salvador (BA). Tenho, atualmente, as seguintes publicações do filho de Campina Grande: “Prosa Morena”, “Agruras da lata d’água”, “Papel de Bodega” e “Berro Novo”. O segundo tem a seguinte dedicatória, datada de abril de 2003: “Para Ademar, uma lata d’água encabrestada na nordestinidade matuta.

Esta crônica com certo atraso apresenta a leitura que faço sobre este artista nordestino que, com vocabulário extraído do cotidiano da “mututice”, encanta todos que têm acesso aos seus trabalhos.

Na orelha de “Berro Novo”, com a sua reconhecida eloquência, Bráulio Tavares, entre outras ponderações, escreve: “O que distingue o matuto (e nisso a poesia de Jessier é exemplar) é a sua capacidade fabulatória de criar historinhas do nada, e alegorias a partir dos menores acontecimentos…”. Como na obra de Quirino transbordam tais alegorias, sua riqueza cultural é sem limites.

Da mesma forma que Jorge Amado e Dias Gomes imortalizaram dizeres e personagens regionais, Jessier imortalizará suas “crias” e o linguajar que traduz o pensamento de cada um deles, disto não tenho nenhuma dúvida.

Os personagens “Mané Cabelim”, “Biu das Quenga”, “Severino Abufelado” e tantos outros quando forem levados para o cinema ou para seriados da televisão, ocuparão espaços com a mesma intensidade que “Zeca Diabo”, “Odorico Paraguaçu” e “Vadinho” ocuparam.

O diálogo “Sabatina feita com um matuto presidente de banco de feira”, inserido no livro “Prosa Morena”, é um texto tão verdadeiro e completo que deveria ser lido todos os dias nas escolas e por nossos governantes.

Tenho uma ligeira desconfiança que a prática utilizada por Jessier Quirino de juntar um CD a cada livro, foi a forma encontrada para que os analfabetos pudessem ter acesso as suas produções e é derivada do método empregado pelos vendedores de cordel que liam os folhetos nas feiras livres do Sertão.

Ler ou ouvir Jessier Quirino, é conviver com a sabedoria do sertanejo recitada em formato único, cujos detalhes são observados com uma densidade

incomum a linguagem que, de forma sutil, ultrapassa o convencional. Tudo é “cagado e cuspido paisagem do interior”.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELCICLOS DE MAVIAEL

No Sertão do Pajeú os raios da poesia caem várias vezes no mesmo lugar, Maviael Melo demonstra isto na produção o livro “Ciclos”. A obra contém diversas particularidades, uma delas é que foi escrita deitada, no formato de uma “cerca rabiada” e é protegida por uma capa mais grossa do que “papel e enrolar prego”.

Nas apresentações o poeta Esio Rafael destaca a carga cultural muito forte das pessoas nascidas nas imediações do lendário rio pernambucano; o escritor Luiz Berto afirma que o autor é um nordestino de múltiplos talentos que trata as palavras com maestria, mesmo sendo um presepeiro e o irmão Maciel Melo relata que conhece a poesia de Maviael desde a época que balançava sua rede. Tais registros entendem-se nas largas veredas do reconhecimento.

O livro traz a marca da região ao retratar de forma esplendida o nosso jeito de produzir coisas belas. O poema “Orientações” é uma peça que pode ser apresentada em um encontro de jovens ou de avós, as lições ali assentadas servem para reflexão e mudança de pensamentos em todas as idades.

Na trilogia “Define-se, Conspira o universo e Olha o passado” o autor partindo de “eu sou”, “eu serei” e “eu era”, respectivamente, compõe versos em um jogo de palavras capazes de mexer com as folha de um dicionário a mil quilômetros de distância, coisa de “menino marrento”.

Em “Vem de todo jeito” o poeta encerra a segunda estrofe com a quadra: “O amor tá no ato de acordar/E também pela noite ele adormece/É a fé proclamada na quermesse/A oração do menino ao se deitar”. Para uma arrumação desta só cabe uma frase: “Isto vale um abraço”.

A mescla entre o sagrado e o profano remete a atenção de quem ler o livro para “ciclos intermináveis” que cabem coisas desde: “O meu MINUTO Maria/Da prece feita às seis horas/Sempre dizendo: Se oras/Serás feliz todo dia/Meu MINUTO POESIA/Seguindo sempre ao seu lado/MINUTO abençoado/O meu MINUTO feliz/Minha mãe, minha matriz/O meu MINUTO SAGRADO”, até: “Quero teu fruto gerado/Na harmonia de um verso/Numa poesia eu te acesso/Pra compassar o bailado/Quero teu corpo suado/Fogosa, doce e singela/Entre o luar da janela/Gemidos solos no ar/Eu quero em fim te amar/Pintando a nova aquarela.”.

Registra também a coletânea um punhado de inquietações com os modelos postos pelos que se julgam donos do mundo. Maviael através dos poemas “Abrindo um novo caminho”, “Estamos, não somos” e “Apesar de tudo”, convida-nos ao mundo mágico das reflexões com a sutileza extraída somente nas indignações dos poetas.

A publicação traz ao final um duelo de poesias entre Maviael Melo e Sérgio Sá, construído pelos caminhos virtuais com estilos diversos da cantoria nordestina. Os “Sete linhas”, “Galope a beira mar”, “Gabinete”, “Martelo alagoano”, “Quadrão trocado”, “Dez pés” e “Décimas” são apresentados com características de um autêntico pé-de-parede.

Novamente um neto dos Pedros Gídio e Louro eleva o nome de Iguaraci.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELGANGORRA.

Em 2000, a pedido de uma professora de português em Barreiras – Bahia, escrevi um ensaio monográfico sobre o setor agrícola no Oeste baiano.

A inspiração para o texto surgiu do ditado popular “Na briga entre o mar o rochedo quem morre é o siri”. O mar, representando o competitivo mercado de grãos, lutava bravamente pela redução de impostos, via incentivos fiscais; o rochedo, no papel do Estado defendia sua enorme carga tributária e o siri na pele do produtor pagava a conta.

Após quinze anos voltei à região e encontrei a ”mesma música” tocando. Isto é, nada mudou. As esmagadoras, os exportadores, os produtores de insumos e os especuladores (mar) continuam buscando mecanismos para redução de seus custos e aumento dos lucros; a União, o Estado e os Municípios (rochedo) afiaram suas “garras tributárias” e os agricultores (siri) permanecem assumindo os riscos e continuam reféns do sistema perverso.

Nos dias atuais, de cada dez grãos de soja produzidos no mundo cinco são consumidos pela China e nesta condição os chineses aplicam as regras do mercado mundial e pouco estão preocupados com os estragos nos bolsos dos agricultores.

As condições de pagamento e os preços dos insumos são definidos pela indústria e o preço da soja é atribuído pelos compradores, via bolsa de Chicago. Os agricultores ficam no meio, seus lucros dependem de variáveis sobre as quais eles não exercem qualquer ingerência. Enfrentam bravamente os riscos com estiagens, pragas, relações trabalhistas, escoamento, variação cambial, juros, restrições ambientais, impostos, entre outros.

As esmagadoras e as exportadoras recebem os grãos em suas unidades fabris e nos portos e com riscos infinitamente menores ganham muito dinheiro. Repassam aos agricultores todos os encargos via preço liquido pago.

Durante a minha estadia no Oeste baiano visitei uma área de soja já com os grãos formados. Enquanto contornávamos a lavoura o agricultor desceu do veículo e constatou a infestação de uma praga cujo combate teria que ser imediato sob pena de comprometer a produção.

Como em condições normais neste estágio da planta os únicos custos previstos seriam com colheita e escoamento, o ônus da aplicação do defensivo reduzirá a estreita margem de lucro. O agricultor, diferente da indústria, do comércio e do atravessador, em hipótese alguma repassa para o preço do seu produto os custos extras. Este é o mundo que habita o produtor neste país: para manter o nível de produção que garanta a margem de lucro desejada, enfrenta adversários poderosos no universo real (mar e rochedo),virtual (bolsa de Chicago e mercado de capitais) e da natureza (clima e pragas).

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ADEMARRONIPOR QUE NÃO OUVIMOS O “REFORMADOR”?

Os governantes brasileiros têm a mania de gritar em alto e bom som que construíram milhares de creches e de escolas com arquitetura de vanguarda e equipamentos de última geração. Preocupam-se com a “casca” e esquecem
totalmente o “miolo”, este sim, carente de atenção.

Prédios e computadores podem contribuir com condições de trabalho, mas isoladamente não geram conhecimentos. No entanto, como os fornecedores de bens e serviços precisam de bons contratos para financiar as campanhas
eleitorais gastos com a estrutura física ganham espaço em cada governo.

Quando mergulhamos nas vinte metas do Plano Nacional de Educação – PNE-2014/2020, encontramos as palavras “massificação” e “inclusão” diversas vezes. O texto é lindo; a prática, não tem a mesma aparência.

Martinho Lutero, nas primeiras décadas do século XVI, conforme narra o livro “Lutero & a Educação”, de José Rubens Lima Jardilino sugeriu que sua Alemanha utilizasse um sistema universalizante de escola básica que contemplasse também a preparação para o trabalho. Entendia o “reformador” que aos pais caberia a formação espiritual e o Estado seria responsável pela instalação, sustentação e controle da escola pública, gratuita para todos.

Em 1524 escreveu Lutero aos governantes: “… o progresso de uma cidade não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros de fortificação, de casas bonitas… o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possuem muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados.” É muito triste constarmos que após 193 anos da nossa independência, fomos capazes de aprender os “modismos” da França, o “consumismo” dos Estados Unidos, mas não tivemos a capacidade de absorver os ensinamentos luteranos.

Entendemos caros leitores e leitoras que é pedir muito aos brasileiros para que de uma “lapada só” aprendam, tenham juízo e sejam honestos. Uma coisa de cada vez cria embaraços, imagine as três coisas, simultaneamente.

Se o sistema educacional que vigora em nosso país assumisse a receita de Lutero, levaríamos em torno de trinta anos para gerar uma sociedade dotada dos adjetivos recomendados pelo “reformador”, há 49 décadas. Isto, com
certeza, impediria que os procuradores e os juízes fossem as estrelas da companhia, uma vez que a corrupção perderia espaço para outros valores defensáveis.

Outro fato interessante é que em 2014 o Ministério da Educação bancou a publicação “O Sistema Nacional de Educação: diversos olhares 80 anos após o Manifesto”, ondeCélio da Cunha, Moacir Gadotti, Genuíno Bordignon e Flávia Maria de Barros Nogueira fazem referência ao “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932”, no qual Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Paschoal Lemme, Cecília Meireles apresentaram sugestões convergentes com
o pensamento de Lutero, com o jeito brasileiro de ser e as adaptações julgadas pertinentes por aqueles pensadores.

Talvez em 2032 seja o caso de publicar algo novo na comemoração de cem anos do “manifesto” e esperar, isto sabemos fazer como ninguém.

Por: Ademar Rafael