RONIPOR QUE NÃO OUVIMOS O “REFORMADOR”?
Os governantes brasileiros têm a mania de gritar em alto e bom som que construíram milhares de creches e de escolas com arquitetura de vanguarda e equipamentos de última geração. Preocupam-se com a “casca” e esquecem
totalmente o “miolo”, este sim, carente de atenção.
Prédios e computadores podem contribuir com condições de trabalho, mas isoladamente não geram conhecimentos. No entanto, como os fornecedores de bens e serviços precisam de bons contratos para financiar as campanhas
eleitorais gastos com a estrutura física ganham espaço em cada governo.
Quando mergulhamos nas vinte metas do Plano Nacional de Educação – PNE-2014/2020, encontramos as palavras “massificação” e “inclusão” diversas vezes. O texto é lindo; a prática, não tem a mesma aparência.
Martinho Lutero, nas primeiras décadas do século XVI, conforme narra o livro “Lutero & a Educação”, de José Rubens Lima Jardilino sugeriu que sua Alemanha utilizasse um sistema universalizante de escola básica que contemplasse também a preparação para o trabalho. Entendia o “reformador” que aos pais caberia a formação espiritual e o Estado seria responsável pela instalação, sustentação e controle da escola pública, gratuita para todos.
Em 1524 escreveu Lutero aos governantes: “… o progresso de uma cidade não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros de fortificação, de casas bonitas… o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possuem muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados.” É muito triste constarmos que após 193 anos da nossa independência, fomos capazes de aprender os “modismos” da França, o “consumismo” dos Estados Unidos, mas não tivemos a capacidade de absorver os ensinamentos luteranos.
Entendemos caros leitores e leitoras que é pedir muito aos brasileiros para que de uma “lapada só” aprendam, tenham juízo e sejam honestos. Uma coisa de cada vez cria embaraços, imagine as três coisas, simultaneamente.
Se o sistema educacional que vigora em nosso país assumisse a receita de Lutero, levaríamos em torno de trinta anos para gerar uma sociedade dotada dos adjetivos recomendados pelo “reformador”, há 49 décadas. Isto, com
certeza, impediria que os procuradores e os juízes fossem as estrelas da companhia, uma vez que a corrupção perderia espaço para outros valores defensáveis.
Outro fato interessante é que em 2014 o Ministério da Educação bancou a publicação “O Sistema Nacional de Educação: diversos olhares 80 anos após o Manifesto”, ondeCélio da Cunha, Moacir Gadotti, Genuíno Bordignon e Flávia Maria de Barros Nogueira fazem referência ao “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932”, no qual Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Paschoal Lemme, Cecília Meireles apresentaram sugestões convergentes com
o pensamento de Lutero, com o jeito brasileiro de ser e as adaptações julgadas pertinentes por aqueles pensadores.
Talvez em 2032 seja o caso de publicar algo novo na comemoração de cem anos do “manifesto” e esperar, isto sabemos fazer como ninguém.
Por: Ademar Rafael