No Sertão do Pajeú os raios da poesia caem várias vezes no mesmo lugar, Maviael Melo demonstra isto na produção o livro “Ciclos”. A obra contém diversas particularidades, uma delas é que foi escrita deitada, no formato de uma “cerca rabiada” e é protegida por uma capa mais grossa do que “papel e enrolar prego”.
Nas apresentações o poeta Esio Rafael destaca a carga cultural muito forte das pessoas nascidas nas imediações do lendário rio pernambucano; o escritor Luiz Berto afirma que o autor é um nordestino de múltiplos talentos que trata as palavras com maestria, mesmo sendo um presepeiro e o irmão Maciel Melo relata que conhece a poesia de Maviael desde a época que balançava sua rede. Tais registros entendem-se nas largas veredas do reconhecimento.
O livro traz a marca da região ao retratar de forma esplendida o nosso jeito de produzir coisas belas. O poema “Orientações” é uma peça que pode ser apresentada em um encontro de jovens ou de avós, as lições ali assentadas servem para reflexão e mudança de pensamentos em todas as idades.
Na trilogia “Define-se, Conspira o universo e Olha o passado” o autor partindo de “eu sou”, “eu serei” e “eu era”, respectivamente, compõe versos em um jogo de palavras capazes de mexer com as folha de um dicionário a mil quilômetros de distância, coisa de “menino marrento”.
Em “Vem de todo jeito” o poeta encerra a segunda estrofe com a quadra: “O amor tá no ato de acordar/E também pela noite ele adormece/É a fé proclamada na quermesse/A oração do menino ao se deitar”. Para uma arrumação desta só cabe uma frase: “Isto vale um abraço”.
A mescla entre o sagrado e o profano remete a atenção de quem ler o livro para “ciclos intermináveis” que cabem coisas desde: “O meu MINUTO Maria/Da prece feita às seis horas/Sempre dizendo: Se oras/Serás feliz todo dia/Meu MINUTO POESIA/Seguindo sempre ao seu lado/MINUTO abençoado/O meu MINUTO feliz/Minha mãe, minha matriz/O meu MINUTO SAGRADO”, até: “Quero teu fruto gerado/Na harmonia de um verso/Numa poesia eu te acesso/Pra compassar o bailado/Quero teu corpo suado/Fogosa, doce e singela/Entre o luar da janela/Gemidos solos no ar/Eu quero em fim te amar/Pintando a nova aquarela.”.
Registra também a coletânea um punhado de inquietações com os modelos postos pelos que se julgam donos do mundo. Maviael através dos poemas “Abrindo um novo caminho”, “Estamos, não somos” e “Apesar de tudo”, convida-nos ao mundo mágico das reflexões com a sutileza extraída somente nas indignações dos poetas.
A publicação traz ao final um duelo de poesias entre Maviael Melo e Sérgio Sá, construído pelos caminhos virtuais com estilos diversos da cantoria nordestina. Os “Sete linhas”, “Galope a beira mar”, “Gabinete”, “Martelo alagoano”, “Quadrão trocado”, “Dez pés” e “Décimas” são apresentados com características de um autêntico pé-de-parede.
Novamente um neto dos Pedros Gídio e Louro eleva o nome de Iguaraci.
Por: Ademar Rafael