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Posts tagged as “CRÒNICA DE ADEMAR RAFAEL”

Crônica de Ademar Rafael

ATÉ QUANDO?

Em virtude de viagens a trabalho ou na condição de turista passei recentemente pelos seguintes trechos rodoviários no estado de Pernambuco: Ibimirim x Inajá; Sertânia x Pernambuquinho; Bom Nome x São José de Belmonte e Trevo BR 116 x Cedro. Classificar tais rodovias como vergonhosas é uma afronta, a palavra merece algo com o mínimo de valor para ser a ela equiparado.

Desde que voltei ao nosso querido Nordeste, há oito anos, percebo que a meta de governantes do nossa estado é tirar de circulação qualquer coisa que teime em funcionar adequadamente. É um sucateamento geral. A cada dia fica como a cantiga da perua “de pior a pior”. É a falência múltipla da gestão, os usuários de serviços públicos estão abandonados.

O fenômeno da incompetência é extensivo a outras áreas. Não tenho dúvida que no final dos anos 1960 eu e um amigo, com uma carroça de burro e um tonel de duzentos litros, fomos mais eficientes no fornecimento d’água em Jabitacá do que a COMPESA atualmente. Quem reside em Afogados da Ingazeira, com a Barragem de Brotas situada a menos de dois quilômetros, sofre com racionamento e falta do precioso liquido.

O pergunta utilizada no título desta crônica não tem resposta fácil. Se a faixa de terra entre o rio São Francisco x Serra de Teixeira – Recife x Betânia do Piauí que já foi chamada de “Leão do Norte”, nos dias atuais alterar essa nomenclatura para “Gato ferrugem do Norte” desagradará o pequeno felino da Índia.

Na embalagem que vai o veículo utilizado por mim e Messias na fornecimento d’água em Jabitacá, com a troca das rodas de pneu por rodas de ferro como dos antigos carros de bois, voltará a ser o meio de transporte em vários trajetos de Pernambuco. Veículos motorizados se tornarão impróprios para transitar nas rodovias estaduais. Repito a pergunta sem resposta visível: “ATÉ QUANDO?”

Crônica de Ademar Rafael

OTIMISMO EM BAIXA

No universo das minhas atividades profissionais ou fora dele tenho encontrado cada dia maior número de pessoas com níveis de otimismo próximo de zero. Ao investigarmos as causas nos surpreendemos. São diversos os fatores alegados e o que de fato amedronta é a falta de vontade dessas pessoas em mudar. Ou seja falta disposição para “girar a chave”.

Motivos para minar nosso otimismo temos, justificativas para manter o otimismo em alta dispomos. O que nos leva a escolher as opções do primeiro grupo? Cada uma ou cada um tem as respostas. Julgamos que a falta de otimismo é o caminho mais curto para pararmos ou andarmos em direção contrário à superação dos objetivos.

Acreditamos que otimismo em níveis altos é muito mais do que empolgação momentânea, está vários degraus acima de entusiasmo relâmpago. O otimismo precisa de um base sólida, não pode estar exposto aos impactos de ventos brandos, deve suportar tempestades, tal qual a casa construída sobre rochas, como nos ensina a bíblia sagrada.

A frase a seguir, lavrada pela cantora Ana Coralina, expressa sob nosso ponto de vista, como deve ser composta a base de sustentação do nosso otimismo. “Diga o que você pensa com esperança. Pense no que você faz com fé. Faça o que você deve fazer com amor!” Percebam que é traduzida por um conjunto ações cuja harmonia cria a espiral de sustentação.

Não duvidamos que as dificuldades são crescentes, as exigências em escalas geométricas e nossas energias com limites. Como escalar esses atores e fazer com que a peça teatral tenha um final feliz? Será que a “esperança”, a “fé” e o “amor” adicionados com boa dose de “atitude tempestiva” não representa um início. Precisamos ver que fatores motivacionais do otimismo não podem estar presentes apenas na largada ou na reta final, se faz presente em todo trajeto. Aparecendo somente em partes do caminho perde para dificuldades.

Crônica de Ademar Rafael

DOIS PILARES

Em menos de sessenta dias o Pajeú perdeu dois dos seus maiores pilares, no tocante a honradez e exemplos de vida. Em 15.11.2022 perdemos Gastão Cerquinha da Fonseca aos cem anos e em 10.01.2023 deixamos de ter Pacífico Cordeiro Pessoa aos 98 anos.

Homens horados que deram destaques às profissões que exerceram e não mediram esforços para dar às filhas e filhos além da educação no seio da família a formação das escolas convencionais. Foram durante suas vidas grandes esteios e grandes alavancas para filhas e filhos, em todos os momentos. Assumiram por inteiro o que narra o poeta Sebastião Dias em dois versos de estrofe do magnífico poema ‘Conselho ao filho adulto’: “… Aproveite a juventude ame a paz honre a virtude/Quando quiser quem lhe ajude seu velho pai está aqui”.

Tive o privilégio de conhecê-los e com eles conviver por muitos anos. Serão sempre referências para tocar em frente. Baltazar Gracián, que nasceu na Espanha em 1601, aos escrever sobre reputação disse: “…Nunca esqueça: a reputação fundada na verdadeira substância e profundidade é a única perene.” Não tenho dúvida que a reputação destes dois grandes sertanejos seguiram os critérios defendidos pelo professor espanhol.

Este espaço publicou texto que Luíza Tadeu dedicou ao seu querido pai, em homenagem a um dos seus aniversários: “PACÍFICO CORDEIRO PESSOA: Pacífico de sossegado, brando, tranquilo, amigo da paz, apaziguador – Cordeiro de manso, sereno e calmo – Pessoa de persona grata, personalidade diplomática e conduta moral reconhecida.” Serve também para Gastão.

Nunca época em que o honra é trocada por dinheiro, poder e status; que biografias são rasgadas pelas mãos severas dos desvios de conduta e que as verdades são negadas homens com o caráter de Seu Gastão e Seu Pacífico fazem muita falta. Que saibamos honrar seus legados.

Crônica de Ademar Rafael

JOIA RARA

Na segunda semana desta ano, para escapar no noticiário sobre as práticas de “manifestantes” em Brasília no dia 08.01.2023, estava vasculhando uma estante com livros antigos na casa da minha irmão e deparei-me com o livro “Lendas e mitos de Brasil”, de autoria de Theobaldo Miranda Santos.

Lembrei na hora deste autor que li na juventude durante o tempo do ensino básico. Imediatamente comecei o folhear o livro e a leitura ocorreu automaticamente. Que preciosidade, uma joia rara.

Com linguagem aderente com nosso território na época que foi publicado, na década de 1985, o conteúdo apresenta histórias fabulosas sobre nosso país em cinquenta e cinco textos divididos entre regiões assim mencionadas: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste. Na mesma ordem de cada grupamento vou destacar três personagens: Boto, Japim e Iara; Zumbi, Caipora e Lobisomem; Paraguaçu, Chico Rei e Anhangá; Saci, Neguinho do Pastoreio e Boitatá e Anhanguera, Potira e Mula sem cabeça.

Concluída a leitura, que representou um retorno às nossas origens, nossas histórias contadas por nossos pais e avós, vieram duas grandes certezas: Como estamos rasgando o que temos de melhor, em nome de interesses nada defensáveis e como a boa escrita está sendo substituída por textos imprestáveis como história.

Nossa sociedade abicou do nosso passado em favor de seriados disponíveis em aparelhos de telefonia móvel e/outros aplicativos. Sabem tudo da Coreia, e sabem zero dos personagens que fazem nosso universo de lendas e mitos.

Ler o escritor de Campos de Goytacazes foi o maior presente que dei a mim mesmo neste início de ano. De fato, nada substitui o que é bom, o tempo não deprecia o valor de uma obra bem escrita. Por último fica uma indagação: O que nos leva a desprezar o que temos de melhor?

Crônica de Ademar Rafael

REVANCHISMO É POUCO

Muitas vezes amigas e amigos se assustam e discordam, até com certa veemência, quando digo que esse pedaço de chão chamado Brasil está muito distante do que representa uma nação. Apresentam dados extraídos do juízo de valor de cada uma ou cada um, mesmo assim sigo com minha percepção. Cada vez que há uma mudança do governo, seja no âmbito municipal, estadual ou federal minha tese ganha musculatura.

O que assistimos justifica o título desta crônica. A caça às bruxas verificadas em cada início de mandatos no executivo e legislativo prova que não se trata somente de revanchismo. Governar com aliados é uma coisa, o que vemos é algo muito superior. Se fosse apenas a materialização do que é entendido como revanchismo, “ação de quem deseja vingança”, teríamos que condenar. Quando ultrapassa essa barreira nos remete para tese que assegura: “Não somos uma nação”.

Quando buscamos sinônimos para a palavra vingança encontramos, entre outros o seguinte: “Desforra, retaliação, revanche, represália, revide, troco, desagravo, vindita…” Esta última palavra significa: “Ação de se vingar, pena ou sanção que se pauta na lei, ação de reparar uma ofensa sendo que o ofendido age de forma igual à pessoa que o ofendeu, etc.”

Sem forçar muito a barra vamos encontrar residindo na mesma casa que reside a vindita a sua irmã gêmea vendeta, que em italiano é vendetta. É aquela mesmo dos enredos dos filmes sobre a máfia siciliana. A definição a seguir foi adaptada de arquivo disponível na rede mundial de computadores. “Vendeta é, nos casos extemos, entendida como uma rixa de sangue; uma guerra de clãs, guerra de gangues ou guerra privada; uma discussão ou luta de longa duração, muitas vezes entre grupos sociais de pessoas, especialmente famílias ou clãs.”

Os atos praticados pelos nossos governantes está mais aproximado do enunciado sobre vendeta do que de revanchismo. Respeito quem discorda.