Home » Crônicas de Ademar Rafael (Page 46)

Você está lendo: Crônicas de Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

O crime maior
Não consigo perceber um crime maior que o trafico humano. Ter a certeza que ele existe há muito tempo e não tem prazo para acabar incomoda muito, muito mesmo.
A Campanha da Fraternidade de 2014 aborda o tema “Fraternidade tráfico humano”, sob o lema “É para liberdade que Cristo nos libertou”.
O chamamento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, assim como outras campanhas na mesma direção, submete nossa atenção para um assunto que dá náuseas só em pensar. 
Tal crime existe é combatido pelas autoridades e por grupos de voluntários, mas, a força dos criminosos e os valores envolvidos superam as ações do bem.
A autora Gloria Perez na novela “Salve Jorge” abordou a questão. No folhetim as maldades da vilã Lívia Marini superaram as investidas da delegada Helô, na vida real o mal também tem sido vencedor.
Já foram instaladas Comissões Parlamentares de Inquéritos – CPI’s, sob as seguintes denominações Tráfico de Pessoas no Senado, Tráfico Humano e Tráfico de Órgãos na Câmara, contudo, como os holofotes midiáticos e os jornalistas do Brasil gostam muito mais de corrupção e escândalos financeiros do que de gente pouco destaque foi dado.
Os navios negreiros do passado foram substituídos por aviões de carreira e fretados em nossos dias, o traficado é escolhido e a operação realizada pelos grupos especializados. Nas ações o suborno manda, a omissão campeia e a brutalidade trisca no fundo do poço que o ser humano cava para ele mesmo. 
A campanha é um aviso, a solução começa somente quando a conveniência e a omissão deram lugar ao amor pelo próximo, quando o sentimento de convívio mútuo substituir a ganância e a inversão de valores. A CNBB está fazendo sua parte, se fizermos a nossa a trilha começará a ser aberta, mãos á obra.
Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DO ADEMAR RAFAEL

Imprensa investigativa ou direcionada?

Caso o livro “Deus é inocente, a imprensa não” tivesse sido escrito por alguém de fora do jornalismo o autor, com certeza, teria enfrentado uma luta desigual. Mas, como foi da lavra do jornalista Carlos Dorneles, os órgãos da imprensa nele citados pouco fizeram para desmentir os registros da magnífica obra.
Em referido livro Dorneles expõe o “servilismo” da mídia para com alguns setores políticos e religiosos e menciona não somente publicações do Brasil cita vários veículos de comunicação do mundo. Apesar do foco ser o atentado de 11.09.2011, nas torres gêmeas nos EUA, por similaridade podemos estender os casos para outros eventos.
Visando dar clareza aos escândalos políticos, econômicos e financeiros, deste pais tropical chamado Brasil, pipocam nas livrarias vários títulos. O perigo está nesta “proliferação induzida” façamos, portanto, uma viagem pelos caminhos tortuosos da investigação jornalística brasileira.
Em “O príncipe da privataria” (2013) o jornalista Palmério Dória reaquece versões de fatos ocorridos durante o governo de FHC, alguns contestados, outros levados para baixo do tapete pelo atores na época em que ocorreram. Este mesmo jornalista, em 2009, publicou “Honoráveis bandidos”, relatando peripécias do ex-presidente Sarney. Rubens Valente por meio do “Operação Banqueiro” (2013) apresenta as “estripulias” de Daniel Dantas, também dando uma reaquecida em notícias publicadas nos governos FHC e Lula. Estes três livros foram editados pela “Geração Editorial” que tem assumido o relevante papel de publicar obras geradas no lamaçal do poder, que apontam supostas irregularidades e esmiúçam vidas de políticos e empresários.
Segundo a mesma lógica, Lucas Figueiredo escreveu “O operador”, em 2006, pela Editora Record. Este livro joga luzes sobre as atividades de Marcos Valério, em relatos proibidos para menores de 25 anos. Tirar a importância das publicações é negar o esforço dos autores, a pergunta, contudo é: “Quem determina o hora da edição?
”. Defendo que liberdade de imprensa casa com  com isenção.
Ademar Rafael 

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

Critério de competência, o que é isto?
O híbrido modelo do Estado brasileiro impõe que governantes do sistema presidencialista exerçam suas funções como se no parlamentarismo estivessem. A regra é ampliar alianças ou não governa, tal ampliação tem como alicerce cargos, cargos e cargos.
Para atender a regra acima resta nomear, para cargos que transitam desde Ministros de Estado até Secretários Municipais, pessoas indicadas pelos partidos da base. Muitas vezes os indicados são desprovidos de qualquer valor moral e de competência técnica compatíveis com a função.
Em períodos que antecedem pleitos eleitorais sempre vemos “mudanças” nos cargos para atender interesses dos deligados, em virtude da legislação, ou para acomodar os partidos da base com a ampliação dos cargos “loteados” nos acordos.
Grande número de nomeados são políticos que perderam eleições passadas ou que precisam de visibilidade para galgar cargos em eleições futuras. Isto tem gerado um dos maiores problemas da gestão pública: a descontinuidade.
Tal sequela fica evidente quando o novo nomeado pertence aos quadros de um partido diferente do que pertencia o antecessor. São projetos abandonados em virtude de não fazer parte da linha ideológica do partido do novo mandatário.
Caso a indicação para os cargos recaia sobre profissional habilitado os partidos da base ficam órfãos e partem para oposição, impossibilitando a “governabilidade”. Isto é mito. Um projeto de interesse coletivo quando bem articulado passa, contudo, o convencimento via “loteamento” de cargos é menos desgastante.
Existe cura para este mal? Claro que existe, falta disposição politica para mudar o quadro vigente via edição de regras que normatizem a ocupação de cargos públicos por meio de concurso e com rígida inclusão de quarentena para indicados para cargos de confiança. A quarentena impediria a presença de políticos ávidos por espaço midiático para seus projetos pessoais e atrairia profissionais com aptidão para função.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA ADEMAR RAFAEL

A indústria de licenças.
Recursos de empresas privadas e de entes públicos estão sendo“levados a rodo” por uma das mais perversas indústrias instaladas no solo brasileiro: A indústria das licenças de saúde.
A legião de vampiros habita diversas cavernas. São profissionais de saúde que apresentam atestados em um emprego e tiram plantões em outros ambientes; funcionários da educação que tiram licença na escola “A” e atuam na escola “B”, muitas vezes seus substitutos são os que estão substituindo, isto é, Ademar substitui Rafael e por Rafael é substituído; encarregados de serviços gerais que “ficam doentes” no emprego com registro e trabalham como diaristas em outros locais; profissionais da área de segurança que faltam no emprego formal e fazem bicos em eventos.
O fato deriva do “jeitinho brasileiro” aliado com a fábrica de atestados. Os profissionais que atestam, quando cobrados, escondem-se por trás de uma legislação fajuta. Existem casos de atestados para doenças que acontecerão em datas futuras, sempre coincidentes com algo de interesse particular, são viagens, casamentos, formaturas, aniversários e outros. 
Os empregadores, privados e públicos, estão refém do processo e ainda correm o risco de sofrerem ações na justiça do trabalho por assédio moral se fizerem muitas perguntas, os sindicatos fazem que nada tem a ver com os desmandos dos seus filiados.
A queda da produção na indústria, sobrecarga de atividades no comércio a baixa qualidade dos serviços, motivadas pelas ausências entram no ralo de custos invisíveis e de prejuízos reais.
Os “doentes”, quando flagrados, alegam que os políticos roubam muito mais, que tudo mundo pratica a artimanha e que a “doença” de fato manifesta-se toda vez que chega ao trabalho. A criatividade das justificativas supera o imaginário, chegam a dizer: “Por que sua preocupação? Não é você que está pagando”.
Caso o prazo da licença supere o período em que o empregador é responsável pelo pagamento o custo é levado aos Institutos de Previdência e a farra com dinheiro alheio continua.
Por: Ademar Rafael 

CRÔNICA ADEMAR RAFAEL

Compra legal de votos

Nos anos 70 as eleições para deputados e senadores, os eleitores comuns não votavam em presidentes e governadores, eram mais ou menos assim: Às vésperas dos pleitos os chefes políticos locais visitavam seus correligionários com alguns candidatos e distribuíam os cartazes com foto, nome e número dos postulantes aos cargos para que fossem colados nas portas e janelas das casas.

Naquele tempo um retrato de um candidato pregado na casa era compromisso. Como os títulos de eleitores normalmente ficavam na casa grande o pessoal da senzala votava em quem o patrão mandava. O dinheiro era distribuído entre os chefes políticos para cobrir os custos e pagar votos dos mais exigentes.

Depois isto foi banalizado e apareceu com intensidade a boca de urna no seu formato primário: Chapa com os votos indicados e primeira parcela, a segunda parcela viria com a vitória. A legislação eleitoral e o esclarecimento dos eleitores fizeram com que esse tipo de pleito fosse perdendo fôlego, no entanto a compra de votos foi ficando sofisticada.

Nos dias atuais, além das doações e verbas do fundo partidário as campanhas são financiadas pelos próprios eleitores com os recursos das emendas parlamentares individuais e de bancada. Raríssimos gestores públicos estão fora desta teia.

Um deputado ao “colocar” uma emenda parlamentar individual para determinada região “ganha” o direito em uma parcela dos votos. No caso das emendas de bancada o contemplado com os votos a ela vinculados é apresentado na hora certa, tudo dentro dos padrões brasileiros de praticar democracia. Os compromissos são firmados antes da apresentação da emenda, caso o gestor não queira tudo bem tem outros que querem.

Para fechar a operação “toma lá dá cá” a União e os Estados manipulam a liberação dos recursos, afinal seus projetos precisam ser aprovados, nesta ciranda é possível ouvir parlamentares afirmarem que gastam pouco em seus pleitos, ou seja, tudo é pago pelo próprio eleitor. Aplausos para democracia à moda BRASIL.

Por: AdemarRafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

É muito desperdício.
Em outubro de 1985, às margens do piscoso Rio Coxim no município de São Gabriel do Oeste – Mato Grosso do Sul, enquanto comíamos um Jaú assado na brasa com direito a umas “bicadas” de Velho Barreiro o anfitrião, empresário rural descendente de alemão, falou: “Ademar, você sabe por que vocês brasileiros natos desperdiçam tanto?” Ele mesmo respondeu: “É porque vocês nunca enfrentaram a escassez de uma guerra”.
Nunca esqueci esta conversa, utilizo seu conteúdo em diálogos com clientes e alunos e a cada dia vejo como a observação está presente no cenário brasileiro, especialmente em obras públicas.
Uma semana de crônica não daria para expor todas as obras abandonadas, não iniciadas, inacabadas, concluídas sem utilização e dimensionadas equivocadamente. Os recursos jogados fora, muitas vezes de propósito, são dos contribuintes e vieram dos cofres da União, dos Estados e dos Municípios.
De norte a sul, de leste a oeste existem sangradouros de recursos públicos, é normal encontramos obras em todos os estágios que configuram desperdícios.
São viadutos, pontes, estradas, linhas férreas, escolas, hospitais e outras construções a espera de novos recursos, a indústria de aditivos segue em ritmo acelerado. As torneiras não podem parar de derramar reais nos ralos da negligência, da incompetência, da corrupção e tantos outros.
Para os gestores públicos e suas empreiteiras “amigas” nada melhor do que quatro ou cinco lotes de uma obra paralisados. Um lote em funcionamento rende menos, então para que concluir?
Existem diversos casos em que foram feitas as licitações, assinados os contratos, iniciados os trabalhos e os serviços paralisados por falta de licenças que deveriam ter sido providenciadas antes da primeira fase, outros em que as licenças venceram, os entraves burocráticos impediram o início das obras tempestivamente.

Tais fatos atestam a veracidade da fala do empresário.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

As escolhas
A toda poderosa, como diria Clodovil Hernandes, exibiu em janeiro dois seriados em sua programação de férias cujos conteúdos foram adaptados de livros consagrados e carregados de fatos polêmicos.
O primeiro trata-se do clássico “O Tempo e o Vento” de Érico Veríssimo, adaptado inicialmente para o cinema e exibido em três capítulos. A obra tem como tema central as histórias de Ana Terra e da sua neta Bibiana.
Tais mulheres enfrentaram as condições postas, convencionadas pelos homens da época e mesmo com as escolhas amorosas fora do “quadrado” marcaram suas posições ao imprimirem um sentido de missão em suas vidas, forjado na defesa de ideais que entenderam como corretos.
A saga das gaúchas remete nossa atenção para várias reflexões sobre a dependência feminina e sobre os efeitos quando o círculo traçado é rompido. No caso, sob nossa ótica, os fins justificaram os meios, a garra da avó e da neta superaram os estragos causados com suas perigosas escolhas.
O segundo seriado, levado ao ar com o título “Amores Roubados”, adaptação livre do livro “A Emparedada da Rua Nova”, de Carneiro Vilela, destaca os envolvimentos de três mulheres: Celeste, Isabel e Antônia, com o conquistador Leandro.
Foquemos nas aventuras de mãe e filha, Isabel e Antônia. A mãe, com a carência causada por um casamento sem sal, não suportou os encantos do conquistador. A filha, do alto da sua insubordinação 
juvenil, entregou-se ao “Don Juan” do sertão com o ímpeto que conduz os amantes aos ilimitados prazeres da carne.
Em “Amores Roubados” os danos causados com as escolhas, classificadas como equivocadas pelo sistema em vigor, ficaram muito acima dos benefícios. Diferente do primeiro seriado, aqui os meios não justificaram os fins, mas, o julgamento não pode ser feito apenas das escolhas e sim deve alcançar direitos negados, 
condições impostas e outras variáveis. Com a palavra os liberais e os puritanos de plantão.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DO ADEMAR RAFAEL

Aliança da maldade
Em setembro de 2010 a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, criada pelo governo com intuído de regular o setor privatizado e que se transformou em escritório de representação das empresas que deveria fiscalizar, publicou a Resolução Normativa 414/10.
Referida norma é um presente de grego para os municípios e o assunto, mesmo passado por várias audiências públicas, deixa de convencer qualquer pessoa detentora de inteligência primitiva que não seja uma encomenda das empresas que exploram a atividade e os usuários do sistema. A Audiência Pública 49/2011, apresentou sugestões, outras ficaram no vazio.
A RN 414, alterada pela 479/12, de 12.04.12, vem acompanhada de um cronograma onde as ações de cada envolvido estão delimitadas em horizontes temporais. Neste cronograma 31.01.2014 é a data limite para os municípios concluírem a transferência dos ativos do sistema de iluminação pública e 01.03.2014 prazo para ANEEL receber relatório final da transferência dos referido ativos.
No último bimestre de 2013 alguns municípios estão ingressando com ações junto a instâncias superiores para que não sejam obrigados a recebem esse presente de “amigo da onça”.
O assunto dará mais choque que fio desencapado, ficam as seguintes indagações: Como capacitar municípios para fazer manutenção de um sistema que quem ganhou dinheiro com o fornecimento não o fez? Como o sistema sucateado pela falta de manutenção, responsabilidade das empresas distribuidoras, será recuperado pelos municípios sem estrutura de mão-de-obra e financeira? Como será feita a compensação dos custos da empreitada pelas distribuidoras que não fizeram o dever de casa?
De uma coisa tenho certeza, os usuários e os gestores públicos municipais assumirão um problema que não criaram. Os primeiros pagarão a conta e os últimos herdarão um sistema tão falido como os municípios que administram. Até quando, caro leitor, seremos pisados por quem devia nos proteger?
Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DO ADEMAR RAFAEL

A hora da verdade
Na seara da economia nacional existem vários pensamentos antagônicos. O pessoal de FGV pensa diferente do pessoal do UNICAMP, que pensa de forma contrária do pessoal da USP e assim por diante.
No entanto, para apontar fatos que motivaram os anos ruins da economia brasileira vários economistas andam no mesmo sentido ao afirmarem que a interferência equivocada do governo nos juros e no câmbio e o consumo bancado pela oferta irresponsável de crédito são os principais motivadores do “pibinho” e de outras mazelas.
Na primeira hipótese a baixa exagerada dos juros e a política cambial deram asas para que o mercado “que tudo regula” apresentasse a sua caixinha de maldades. O binômio juros e câmbio quando mal administrado é prato cheio para os especuladores e prato seco para as economias expostas aos riscos.
O movimento da taxa de juros para baixo e a demora na elevação trouxe muito mais custos que benefícios. A equipe econômica sabe que errou, não assume porque estão lendo a cartilha de Ricúpero: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde.” Como a conta é bancada pela população, via tesouro, para que assumir erros? No câmbio falhas similares. 
A dupla consumo e crédito têm feito vários estragos. O nível de endividamento está chegando ao pico e a inflação, em vários momentos, subiu junto. Para inflação o governo utiliza o único remédio: subida dos juros. Quanto ao endividamento a equipe econômica faz de conta que não existe. 
Tudo se encaminha para que neste ano de eleição o governo cozinhe o galo em fogo brando até agosto e de acordo com as tendências da época aplique medidas que gerem votos. A nação é detalhe quando uma vitória eleitoral está em risco. Assim tem sido e assim será. Um país complexo como o Brasil ao não dispor de um planejamento de longo prazo e ficar refém de planos partidários nunca chegará o centro, será eternamente uma nação periférica.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

O discurso e a prática
É comum vermos autoridades fazerem votos de pobreza em público e conviverem com excessos de mordomias no ciclo familiar e entre amigos. As figuras abaixo optaram pela rota da coerência entre o discurso e a prática.
Frei Damião, italiano que virou nordestino, agia da forma que pregava. Na minha infância várias vezes assisti Tia Lula, sua anfitriã em Jabitacá, ordenando que fossem retirados todos os móveis do quarto onde ele permaneceria durante as missões. De forma brilhante Geraldo Amâncio e Ivanildo Vila Nova assim o definiram: “Só a religião ama/não quer saber de dinheiro/um tijolo é o travesseiro/o cimento é sua cama/ele sofre e não reclama/uma tábua é seu colchão/quando ele almoça é um pão/quando janta é um café/o mensageiro da fé/é nosso Frei Damião.” 
Ao ser ordenado Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia – MT, às margens do Rio Araguaia, o espanhol Dom Pedro Casaldáliga trocou a mitra por um chapéu de palha, o báculo por um remo de pau Brasil e o anel episcopal por um anel de tucum. Enfrentou tudo e muito mais de forma altiva vivendo em um local cercado pela simplicidade e sem qualquer vestígio de luxo. Sua identificação com a luta em defesa dos povos da região faz dele um nativo da faixa de terra que liga o Cerrado à Amazônia Legal.
O Papa Francisco rejeitou a suntuosidade dos aposentos oficiais, dispensou o trono papal, recusou a estola bordada a ouro em seus trajes e seguiu calçando o velho e surrado sapato preto que usava em missões nas comunidades carentes – na sua Argentina -, abriu mão do crucifixo cravejado de pedras preciosas e não quis o anel de ouro. Tem dado demonstração que os gestos acima estão longe de uma jogada de marketing, são marcas que coloca em prática de forma espontânea e compatível com seu austero discurso.
Muitas autoridades do Brasil e do mundo pregam uma coisa e fazem outra. Alguns mudam tanto que pedem que esqueçam o que escreveram. A coerência entre a fala e os atos dos três religiosos acima poderia inspirar seus pares, membros de várias congregações que mandam fazer o que não fazem.

Por: Ademar Rafael