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Crônica de Ademar Rafael
FURTUNA E RIQUEZA
Na primeira década deste século, para atender uma demanda interna do grupo que eu trabalhava, elaborei um curso de curta duração sobre Educação Financeira. Era uma abordagem com conteúdo básico que sugeria como deve os gastar bem as nossas disponibilidades financeiras.
No curso eram apresentados conceitos sobre consumo responsável, endividamento dentro da capacidade orçamentária. Várias atividades práticas eram realizadas e cada participante saia com uma planilha para organizar suas finanças via planejamento financeiro.
Dos colegas de trabalho e demais alunos que recebiam as informações como atividade extra curricular, no caso de faculdades que atuava como professor, sempre ouvia depoimentos sobre situações que criaram dificuldades para honrar os compromissos assumidos, na esmagadora maioria para quitar aquisições fora da capacidade de pagamento.
Recentemente, Zé Carlos, meu amigo e colega aposentado do Banco do Brasil me presenteou com o livro “A psicologia financeira – Lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade”, de autoria de Morgan Housel. A aparente complexidade do título é desmistificada pelo autor em um texto leve e de fácil compreensão.
Como um olhar mais aprofundado sobre tema, ligando ao comportamento, o escritor emite avisos importantes, define conceitos e dá dicas importantes. Destaco duas ponderações inseridas no livro e que definem as palavras que formam o título desta crônica. “Fortuna é algo escondido. É receita não gasta. A única forma de acumular fortuna é não gastar o dinheiro que você tem.” – “Riqueza tem a ver com rendimento atual. Não é difícil identificar pessoas ricas. Elas com frequência se esforçam para serem notadas”. Percebam, quem tem fortuna é discreto, os ricos gostam de ostentação. Escolha o grupo que você quer fazer parte, mesmo com o pouco que tem.
Crônica de Ademar Rafael
EDUCAÇÃO PLENA
Ao lançar seu olhar para educação na Campanha da Fraternidade a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB repete neste ano de 2022 abordagens dos anos 1982 e 1998. O tema escolhido foi: “Fraternidade e Educação”, o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor”. Tais enunciados guardam perfeita coerência com a linha de pensamento deste cronista, em 14.02.22 na crônica “É o amor” falamos sobre práticas educacionais baseadas no amor.
Na revista publicada pela CNBB-NE2 a entidade chama atenção para fatos que agravam a situação indesejável da educação em nosso país. Destaca a “Agitação Social”, a ”Fadiga Pandêmica”, a “Ditadura da Tecnologia” e “Vítimas da Pandemia”. Negar que tais fatores geram impactos negativos no sistema educacional e tentar esconder um realidade palpável e perceptível a olho nu. Para fazermos escolhas capazes de mudar o rumo da educação no Brasil a CNBB indica que precisamos: “Escutar”, “Discernir”, “Agir” e “Contemplar”. É claro que por mais força que tenham estas práticas solução não virá sem a mudança de postura dos governantes, dos pais, e de todos que atuam no sistema educacional.
A título de ilustração registro um fato que presenciei durante uma visita que fiz a um amigo que coordena uma unidade escolar em Recife. O educador, durante nossa conversa, foi abordado pelo pai de um aluno sobre a necessidade de intensificar e manter regularidade nas atividades extra classe. Isto mesmo, o pai veio solicitar que as atividades para o aluno desenvolver em casa fossem feitas com regularidade e em volume capaz de manter o jovem atento às suas responsabilidades escolares.
Não tenho dúvidas que se outros pais seguissem esta linha do pensamento e com inserção do amor nas escolas poderíamos nos mover em direção ao lugar que possibilita tirar a educação do estágio atual. Ao entendermos que educação é um sistema que extrapola a sala de aula, que nasce da ação integrada da escola, da família e da comunidade avançaremos.
Crônica de Ademar Rafael
EDIERCK JOSÉ DA SILVA
O município de Carnaíba, berço do poeta e compositor Zé Dantas, deu de presente ao Pajeú – entre tantos outros -, mais um artista completo. Sem qualquer viés de bairrismo sempre o qualifiquei como nosso Leonardo da Vinci, quando acionadas as teclas relacionadas com música, escultura e pintura.
Pode existir outros, minhas limitações não permitiram alcançar outra pessoa que domine com propriedade estas três áreas de produção artística. Edierck é um músico que transita entre o clássico e o popular, tocou com músicos talentosos como Canhoto da Paraíba, Nenel Liberalquino e Djalma Marques; pinta quadros com características que abraçam os estilos bizantinos assim como os encontrados em obras de pintores do nível de Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti e cria esculturas em madeira e outros com estilo próprio, utilizando vasta lista de materiais. Consegue transformar o tronco de uma árvore cortada pela mão humana numa obra prima. A praça Arruda Câmara expõe algumas delas.
Mesmo com essa intensa carga de talento é uma figura desprovida de vaidades e detentor de uma educação admirável. Nunca vi Edierck levantar a voz ou agredir alguém. Com a mesma sensibilidade que aciona as cordas do violão trata as pessoas. Sua residência em Afogados da Ingazeira, além de ser um local com alta carga de energia positiva, é seu atelier e espaço para exposição de muitas das suas várias criações. Até as portas são obras de arte. Pena que pouca gente valoriza seu talento da forma que merece, muitos até ignoram esse imenso potencial.
Durante muito tempo a tela do meu computar era uma foto de um dos seus quadros. As pessoas que viam a pintura perguntavam de onde era o pintor. Quando eu falava que era um filho do Pajeú todos expressavam sua surpresa e passavam a fazer observações sobre a obra, relatando características que eu desconhecida.
Em evento realizado na “Budega com prosa”, para lançamento do livro “A mensagem e o verso”, de minha autoria em parceria com Celso Brandão,Edierck chegou de mansinho e fez um verdadeiro conserto antes das declamações. Os que tiveram o privilégio de ouvir o repertório apresentado foram para casa com leveza na alma. Foi uma verdadeira aula de cumplicidade com um projeto cultural. Onde estiver sendo realizada uma reunião que trate de cultura lá ele estará dando apoio.
Casado com a também educadíssima Olegária, pai de Edierck, Edimarck,Maíra Coracy e Erck Omar e avô de Bianca, Maria Alice e Antônio Benjamin. Dos seus descendentes conheço o primogênito Edinho, que enveredou pelo mundo da música. Esbanjando talento é uma referência em nossa região. Com densa formação acadêmica ampliou o talento que herdou do pai e como seu genitor é uma figura extremamente agradável. A galeria “Pessoas do meu sertão”, ganha muito com seu mais novo integrante. Uma das suas criações integra a Agenda-21, da ECO 92. Vida longa amigo.
Crônica de Ademar Rafael
GUERRA DE NARRATIVAS
As palavras que formam o título deste texto foram introduzidas em nosso cotidiano e são repetidas todos os dias em canais de televisão abertos e por assinatura. Tenho um conceito próprio para este fenômeno da comunicação de massas: “São versões, muitas vezes sem expressar a verdade, que assumem o lugar dos fatos”. Isto mesmo, são ponderações que se apoderam dos fatos, ligando-os aos seus propósitos.
Sem o intuito de alcançar a unanimidade quanto a sua aceitação, também tenho uma linha de pensamento sobre como surgiu este modelo. Para este cronista todo começou a tomar forma no momento que ancoras de grandes noticiários do rádio e da televisão passaram a emitir suas opiniões sobre o teor das reportagens apresentadas. Boris Casoy, com o famoso arremate: “Isto é uma vergonha” opinava sobre os fatos. Distorções, modeladas por questões ideológicas, interesses diversos vestiam referidas opiniões.
Seguindo modelos aplicados à exaustão em diversos programas sensacionalistas de grandes redes de TV aberta, blogueiros e influenciadores digitais, muitas vezes alimentadas por robôs, promovem a multiplicação das mensagens que serve de solo fecundo para fixação das narrativas nas mentes alienáveis, o estrago provocado se espalha como fogo em capim seco.
Ataques a adversários, a instituições e a países são os principais alvos da guerra das narrativas. Nos últimos anos, em todo mundo, muitos foram eleitos por força da influência que tais mensagens sobre legiões de simpatizantes e de pessoas desprovidas da capacidade de pensar.
Em 2018 o jornalista e escritor Luciano Trigo lançou o livro “Guerra de Narrativas – A crise política e a luta pelo controle do imaginário”. Esta obra traz ótimas observações sobre o tema, destacando sua proliferação
diante da polarização que reina em todos os setores da vida social, onde tudo é tratado a partir do binômio “nós” e “eles”.
Crônica de Ademar Rafael
UM SENTIDO NA VIDA
Para definir regras indutoras da nossa reflexão desta data a frase a seguir é muito útil. “Se cada um fizer sua parte o todo será construído.” Para que façamos nosso parte é necessário fazermos as escolhas certas e agir.
O festejado filósofo Mário Sérgio Cortella, ao escrever o livro “Qual é a tua obra” há quinze anos, sugere descobrimos o que queremos da vida a partir do ambiente que atuamos. Discorre com extrema habilidade sobre os temas ética, gestão e liderança. As provocações do autor nos leva para reflexões sobre as conquistas que sonhamos.
No ano passado o gestor público e professor de oratória Jean Kulcheski publica o livro “Estamos aqui para quê?”. A obra tem principal objetivo nos estimular a reflexões sobre temas que podem complicar ou facilitar a tarefa para encontrar respostas sobre o sentido da nossa vida.
Referida publicação destaca como impedir que os obstáculos a seguir indicados sejam tropeços em nossa vida. Portanto sugere: “Parar de brincar na ilusão”, “Parar de brigar por coisa pequena” e “Parar de se considerar coitadinho”. Caso estes embaraços façam parte do seu cotidiano remova-os imediatamente.
Para que a remoção ocorra em tempo hábil o autor indica que devemos nos livrar dos seguintes complicadores: “Egoísmo”, “Orgulho”, “Mágoa”, “Revolta”, “Culpa”, “Ansiedade”, “Raiva”, “Medo”, “Inveja” e “Ciúme”. Percebam que são variáveis fáceis de introduzimos em nossa vida e difíceis de nos livrar delas.
Também para removermos os entraves, Jean sugere nos abraçarmos com os seguintes facilitadores: “Caridade”, “Benevolência”, “Indulgência com a imperfeição alheia”, “Perdão”, “Paciência”, “Abnegação”, “Resignação”, “Gratidão” e “Trabalho”. O livro não é uma “receita de bolo” é sim um roteiro para identificarmos nossa OBRA. Façamos NOSSA PARTE.
Crônica de Ademar Rafael
VIDA LONGA
Se percorremos a história da humanidade, com um olhar focado na longevidade, vamos encontrar relatos relativos a porções milagrosas e outros artifícios para prolongar a vida de alguns felizardos. Nos dias atuais, com os avanços da medicina, muitas pessoas tem ultrapassado a díade de noventa anos o que era impossível no início do século passado.
Mas, por força de outros componentes, entra em cena a questões como: “Qualidade de vida”, “Viver com dignidade”, “Velhice saudável” e tantos outras. Para dar conta a estas exigências muitos recorrem a medicamentos classificados como anabolizantes, antidepressivos, estimulantes, calmantes e outros. Tais medicamentos, em sua esmagadora maioria, deixam um rastro de dependência e sequelas inarredáveis.
Como fazer essa travessia então? Existem vários caminhos. Recorrer aos serviços de nutricionista, para mudar os hábitos alimentares; utilizar as habilidades de “Personal Trainer”, para ministrar exercícios no modelo personalizado; praticar esportes sob orientação de profissional habilitado, para doar a carga diária das atividades; etc. Muitas pessoas, por motivos diversos, não dispõem de recursos financeiros e de tempo para seguir uma das hipóteses acima relacionadas e mesmo assim procurar de alguma forma encontrar meios para viver mais e gozando de saúde.
Um dos caminhos são os livros relacionados com o assunto. Um destes é “O milagre da manhã”, que foi escrito pelo americano Hal Elrod, destacado palestrante motivacional. Para ter uma vida produtiva e que nos leve a longevidade o autor sugere uma série de atividades na primeira hora da manhã, as quais podem ser executadas sem custos financeiros e muitos benefícios. Destaco, sem intenção de reduzir a importância de outras sugestões registradas no livro: A prática da meditação, da leitura, da escrita e do exercício físico. Tudo com muita perseverança e assiduidade. Portanto, antes de recorrermos a medicamentos vamos adotar medidas saudáveis como as indicadas pelo escritor?
Crônica de Ademar Rafael
ANTÔNIO BEZERRA DA SILVA
Numa época que uma das atrações do futebol era os esbarrões entre atacantes marrentos e zagueiros truculentos em nossa região se destacava um defensor que, pelo seu porte físico, fugia das disputas corporais com muito êxito e muita competência. Pelo nome acima muitos não identificarão, mas seu disser Serra Pau todos da época lembrarão do eficiente defensor, que atuou nos principais times de Afogados da Ingazeira, em diferentes épocas.
Não há um time de nossa cidade que durante sua brilhante carreira Serra Pau não tenha atuado. Uma das suas características principais era que ele mantinha a regularidade em qualquer jogo, em qualquer campo e por qualquer time. Jogava futebol como divertimento, se sentia bem acabando com a alegria de muitos atacantes. Exímio roubador de bolas, foi o zagueiro mais parecido com um volante que vi atuar no futebol de nossa região. Sabia sair jogando e tratava a bola muito bem e não dava pancadas para vencer seus embates.
Mesmo conhecendo boa parte da sua trajetória eu estava equivocado com um detalhe. Para mim ele jamais teria sido expulso. Recentemente ao perguntar para ele ouvi o seguinte resposta: “Fui expulso poucas vezes, todas por reclamação.” Este fato comprova que foi um zagueiro que jogava na bola. Para isto utilizou duas das características dos bons defensores: Colocação e tempo de bola. Com elas eles poucas vezes errou um bote, vi muitas partidas em que literalmente Serra Pau anulou seus as ações dos adversários de forma implacável.
Um outro ponto que merece destaque na vida de Serra Pau é a forma educada que ele trata as pessoas. Da época do menino doido por futebol dos anos 1970 até os dias atuais nas vezes que puxei conversa com ele foi atendido como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo. Com esta forma atenciosa ele atende todos que procuram sua barraca ao lado da Palácio Episcopal. Se em minha vida, profissional principalmente, eu tivesse utilizado essa característica que sobra em Serra Pau teria evitado muitos problemas. Minha impetuosidade e falta de educação criaram-me problemas. Poderia ter aprendido mais com o refinado jogador.
Para mim três outras escolhas de Serra Pau, que nos servem muito nos dias atuais, merecem ser aqui destacadas. A primeira trabalhe com afinco e reclame menos, faca sua parte; a segunda deixe que os outros digam suas qualidades e a terceira não critique ninguém, se puder ajudar ajude. Como pode ser observado esses valores fazem parte da vida dos reais vencedores. Aqui cabe um destaque: “Vencer não é somente ter muito dinheiro, é ter uma vida digna respeitando os outros e ocupando os espaços que a vida lhe reservou.”
No mundo das aparências que coloca foto da primeira páginas que grita, esperneia e agride, pessoas como Serra Pau merecem muito mais, por isto fará parte da galeria “Pessoas do meu Sertão”, por direito. Obrigado amigo.
Crônica de Ademar Rafael
CAVALHEIRO DE SELA E DE LETRAS
O título acima pertence a livro idealizado pelo genro Assis e lançado pela família de grande personalidade do nosso Pajeú: José Rafael Nunes. Agropecuarista, ex vereador e ex prefeito de Iguaracy.
Entre a variáveis que utilizo para avaliação de um homem público estão: Valores morais, sensibilidade, coerência, um legado e ação. Em todos estes quesitos Zé Rafael é aprovado com louvor. Os três primeiros ele carrega consigo desde cedo os dois últimos estão registrados no livro com clareza. Para este cronista a maior obra de Zé Rafael não ocorreu como gestor público e sim como cooperado e dirigente da Cooperativa de Energia, Comunicação e Desenvolvimento do Alto Pajeú – CERALPA. Em referida entidade ele construiu, com muita ação, um legado que o tempo não apagará, ficará na memória das pessoas justas.
Desde criança tenho Zé Rafael como referência. Além da convivência em Jabitacá estudei em Iguaracy durante parte do período que foi prefeito. Lembro que nos eventos os seu discursos eram esperados não pela mensagem de enfrentamento, tão em moda nos dias atuais pelo mundo e sim pelo conteúdo, pela perfeita ligação entre o que estava sendo dito e por ele era praticado. Nada era fictício, havia realidade em cada mensagem.
Outra coisa que destaco em Zé Rafael é que ao me transformar em adulto, com pensamento político à esquerda da esquerda, em nossas diversas conversas ele nunca tentou me dar lição. Eu sabia que transitamos em correntes diferentes, sem que isto fosse uma barreira.
Não é uma obra para ficar em estantes e gavetas é para ser debatida em nossas escolas, tem mensagens a serem seguidas. Fica um conselho para Assis, filhas, filhos e Dona Lula a companheira inseparável: Enviem um exemplar do livro para que seja inserido nos anais das Câmaras Municipais de Iguaracy, Afogados da Ingazeira, Monteiro e Caruaru na Assembleia Legislativa de Pernambuco, Câmara e Senado Federal.
Crônica de Ademar Rafael
GAMA
O título acima não é dedicado ao time do Distrito Federal nem a letra do alfabeto grego, refere-se a Geração Amazon, Magalu e Americanas – GAMA. Nosso propósito é falar sobre as pessoas inseridas no mundo das três grandes empresas que operam no do varejo brasileiro e disputam quem entrega uma mercadoria em menor tempo.
Portanto, vamos falar sobre pressa. Este fenômeno que está transformando a sociedade em uma legião robôs. Desculpem o exagero, mas é assim que tenho percebido. Recentemente fiquei trinta dias fora da minha residência em João Pessoa, passei por Pernambuco, Ceará e São Paulo. Nesta viagem pude perceber quanto nós estamos movidos por uma pressa exagerada.
Vamos a um exemplo básico: Muitos ao entrarem em um elevador acionam o botão do andar para onde estão indo e na sequência um botão que fecha a porta mais rápido como se essa diferença de frações de segundos fizesse alguma diferença. Estas e outras escolhas podem, levadas para outras práticas do cotidiano, indicar o modo de vida das pessoas.
Sou de uma época que a falarmos com alguém que viria consertar algo em nossa residência perguntávamos: Que dia você vem? Hoje a pergunta é: Quanto tempo você gasta para chegar? Aqui cabe um esclarecimento. Esta palavra “tempo” está no lugar de “minutos” e nas entrelinhas está dizendo “horas” são uma eternidade.
A disputa de tempo entre as empresas acima para ganhar a preferência dos clientes que utilizam vias eletrônicas disponíveis é salutar para o mercado delas. Inserir essa velocidade em nossa prática diária, expondo ao limite seres humanos que carecem de tempo para pensar, decidir e agir é, para este cronista, um caminho de muito risco. Quem pensa diferente tem meu respeito. Fica a indagação: Vale a pena essa correia toda? Responda para você mesmo, a vida é sua e as sequelas também.
Crônica de Ademar Rafael
ISCAS EM EXCESSO
O consagrado escritor indiano George Orwell, autor de “1984” e “Revolução dos bichos”, com texto primoroso em “A planta de ferro” narra a luta do poeta Gordon Comstock, ao declarar guerra ao “deus” dinheiro.
A narrativa se desenrola detalhando as angustias do fracassado livreiro e poeta que, submerso em mundo de carência financeira e afetiva, encontra no dinheiro todas as causas para seu insucesso e sua vida miserável.
Da história situada nos primeiros anos da década de 1930 quando trazida para nossa época encontra muita similaridades com o desencanto de jovens e o desalento de desempregados que enxergam na falta do dinheiro todas as causas dos seus problemas.
É impossível desvincularmos o dinheiro das nossas necessidades em um mundo onde o consumismo impera e cria regras. Dando crédito para percepções diferentes, entendemos que sermos escravos do “deus” tira toda nossa capacidade de percebermos quantas oportunidades temos para sobreviver em um mundo de cooperação que também existe, mas que fugimos dele.
As iscas em excesso contidas no infinito volume de informações disponíveis e as indicações de receitas infalíveis para obtenção do sucesso desejado tem, ao nosso juízo de valor, direcionado todos para uma guerra sem fim. Valores são invertidos, fins que justificam os meios desenvolvidos com práticas desprovidas de ética e bom senso.
O sentido de missão e os rituais presentes nos momento de semeadura são variáveis ignoradas nos dias atuais. Abdicar de meios honestos para obtenção de dinheiro suficiente para uma vida digna ou ser escravo de tal bem são posicionamentos que não levam ninguém ao porto seguro.
Precisamos resolver essa equação e não há receita pronta. O mundo sem dinheiro é utopia, o mundo escravo dele é dependência perigosa.