VIVER VIVENDO
O escritor coreano Byung-Chul Han no livro “Sociedade Paliativa”, em uma abordagem que nos remete a fazer uma reflexão sobre o estilo de vida que estamos conduzindo e sobre o impacto dessa escolha em nossa caminhada, nos desafia a entender o fenômeno que nos faz abraçar a “sobrevivência individual” e nos afasta de “vivência coletiva”.
A obra traz mensagens contundentes, transcrevo a seguir fragmentos que destaquei durante a leitura: “Deve-se opor à luta pela sobrevivência o cuidado a ‘boa vida’. A sociedade dominada pela histeria da sobrevivência é uma sociedade de mortos-vivos. Estamos vivos demais para morrer e mortos demais para viver. No cuidado exclusivo com a sobrevivência nos igualamos ao vírus, esse morto vivo que apenas se multiplica, ou seja, sobrevive sem viver”.
O vírus que o escritor se refere é o vírus que causou a pandemia provocada pela COCID-19, esta ligação com “coronavírus” não é por acaso muitos humanistas acreditavam que após a pandemia a sociedade tomaria rumo diferente no tocante ao viver harmonioso e que a sociedade mundial seria contaminada com um surto empático. Nada disto aconteceu o isolamento praticado durante o período crítico da doença acelerou o processo de individualização. Neste ponto Byung-Chul Han nos coloca diante do fenômeno da comunicação social por ele qualificado como “Infocracia”, outro livro que nos convida a pensar sobre as escolhas da sociedade.
Seguindo o raciocínio do individualismo e da histeria acima especificados o famoso escritor israelense Yuval Noah Harari, autor de “Sapiens e Homo Deus”, no livro “Notas sobre a pandemia”, alerta: “O maior risco que enfrentamos não é o vírus, mas os demônios interiores da humanidade: o ódio, a ganância e a ignorância…Podemos optar por compartilhar o que temo em vez de apenas acumular para nós mesmos.” Em resumo precisamos “viver vivendo” que nada mais é do que deixar que os outros também tenham a qualidade de vida que queremos para nós.