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‘Reabrir agora é suicídio’: os donos de bares e restaurantes que decidiram continuar fechados

Por Leandro Machado, BBC

Um grupo de donos de bares e restaurantes de São Paulo decidiu manter as portas dos estabelecimentos fechadas mesmo com a autorização do governo do Estado para a reabertura. Entre os motivos alegados, estão a falta de segurança para funcionários e clientes, expectativa de baixo movimento e receio de falência.

A partir de segunda-feira (6/7), a gestão do governador João Doria (PSDB) passou a autorizar que estabelecimentos do setor voltem a funcionar depois de quase quatro meses de quarentena por causa da pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

Para isso, os locais precisam seguir algumas regras, como horário fixo (das 11h às 17h), lotação de até 40% da capacidade, proibição de mesas nas calçadas e exigência de uso de termômetros e máscaras, além de distanciamento entre os clientes.

O governo classificou esse cenário — de flexibilização gradual da economia com restrições — de “amarelo”. A condição “verde” traria “abertura parcial”, e a “azul” seria o “normal controlado”.

Segundo o Ministério da Saúde, o Estado de São Paulo tinha no domingo (5/7) cerca de 320 mil infectados por coronavírus, além de pouco mais de 16 mil mortes por covid-19.

“Achamos os protocolos (de reabertura) vagos e, em alguns casos, sem sentido. Por que abrir apenas para o horário do almoço e fechar à noite? Não há nenhuma pesquisa mostrando que o coronavírus se propaga mais à noite”, diz Gabriel Pinheiro, dono da pizzaria Villa Roma, que tem duas unidades na capital: uma na região da avenida Paulista e outra no Tatuapé.

Segundo ele, a maior parte do faturamento do restaurante antes da pandemia vinha do período noturno, no jantar. O almoço, no entanto, reunia clientes que trabalham em prédios comerciais e de escritórios — hoje, em boa parte, fechados.

“Não faz sentido para nós abrir só de manhã se nossos clientes estão trabalhando em home office”, explica. “Ninguém vai sair de casa para almoçar fora nesse momento. As pessoas estão cozinhando ou pedindo por delivery.”

O empresário Gerson Higuchi, dono do restaurante Apple Wood, no bairro da Anália Franco, também tem a maior parte do seu faturamento à noite. “Quem vai vir almoçar se as pessoas não estão trabalhando nos escritórios?”, questiona.
‘Reabrir é suicídio’
Empresários ouvidos pela BBC News Brasil, que atendem hoje apenas por delivery, dizem temer que a reabertura dos restaurantes signifique um prejuízo financeiro ainda maior — e até a falência diante do aumento de gastos sem retorno no faturamento.

“Nós hoje operamos de maneira enxuta, com poucos funcionários. Suspendemos os contratos de 70% do nosso pessoal. Se reabrir, teria de trazê-los de volta sem perspectiva de que o faturamento iria aumentar novamente”, explica Gabriel Pinheiro, da pizzaria Villa Roma.

Segundo o empresário, a atual operação por delivery rende apenas 20% da arrecadação do restaurante antes da pandemia, volume que não paga nem os custos fixos de suas duas unidades, como aluguel, salários e fornecedores. “Hoje temos um prejuízo semanal de R$ 10 mil em cada pizzaria”, diz.

Já Gerson Higuchi, do Apple Wood, concorda que a reabertura do espaço criaria mais gastos sem garantia de retorno financeiro diante do movimento fraco.

“Teríamos que recontratar os funcionários, aumentar o estoque e outros gastos, além de reformular a operação sem garantia de que o movimento volte a crescer. Vi pesquisas mostrando que a grande maioria das pessoas não está disposta a sair de casa ainda”, diz ele, que durante a pandemia demitiu 17 dos antigos 20 funcionários.


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