Anderson Bandeira e Carol Brito – Folha de Pernambuco
A travessia do senador Fernando Bezerra Coelho do PSB para o PMDB provocou reboliço no cenário político local, como poucas vezes se viu na história recente. Porém, mais do que isso, o desembarque muda a correlação de forças entre os partidos que, eventualmente, lançarão candidatura majoritária em 2018, embaralhando o xadrez político. O objetivo é a construção de uma ampla frente de oposição ao Palácio do Campo das Princesas, formada no berço da base de apoio ao Governo Temer.
No PMDB, o ingresso de Bezerra leva a legenda a aparecer como a segunda opção concreta no campo das oposições. E para uma eventual disputa, a sigla contará com boas condições, uma vez que dispõe de um dos maiores tempo de televisão, Bezerra tem grande inserção no Sertão e já deu largada às costuras para atrair aliados na Região Metropolitana do Recife e no Agreste.
Após ingressar no partido, o agora peemedebista já admitiu que vem dialogando com siglas da base aliada do Governo. No rol de legendas que podem vir a configurar a ampla frente política que o senador vem estimulando estão o PSC e PR, além das que almejam candidatura própria, mas não descartam uma aliança com o PMDB, como o DEM, PTB e PSDB.
Em entrevista recente, o senador, que está prestes a tomar o comando do PMDB para si, deixando os atuais dirigentes – o deputado federal Jarbas Vasconcelos e o vice-governador Raul Henry – numa situação muito desconfortável – incorporou o discurso oposicionista e afirmou que há um espaço de diálogo com as forças da oposição para formar um palanque do Palácio do Planalto em Pernambuco. Neste diálogo, ele defende que o seu novo partido fique com a cabeça de chapa e que o nome do ministro Fernando Filho, que continua no PSB, seja cogitado.
“Desejamos implementar no PMDB de Pernambuco, com apoio da direção nacional, a preparação do partido para disputas majoritárias, seja no cargo de governador, seja de senador. Vamos defender nesse conjunto, um nome do PMDB na disputa de Pernambuco. É um trabalho que está sendo feito não só aqui, mas outros estados”, revelou Bezerra Coelho a uma rádio local. O dirigente deixou claro que o projeto é de oposição ao governado Paulo Câmara (PSB) e que os socialistas contribuíram para afastá-lo da Frente Popular. “Não teve ninguém que desejasse mais participar do projeto político de Paulo do que eu, todos sabem os desencontros que tivemos”, justificou.
Além do nome do PMDB, a primeira alternativa já apresentada no campo oposto é o nome do senador Armando Monteiro (PTB) que desde o processo eleitoral passado se coloca como o virtual candidato. No entanto, a dificuldade de angariar condições, como tempo de televisão – diante do afastamento do PT – levou o petebista a defender, em alguns momentos, que poderia se lançar a outros planos , a exemplo da reeleição no Senado ou até um mandato de deputado federal.
Hoje, Armando conta com o apoio do Avante, Podemos e do PRB. Ele ainda tem um bom grupo de aliados na Alepe e Câmara Federal. Apesar da boa inserção no Agreste, o pequeno leque de aliados diminue as possibilidades.
No Campo das Princesas, o embarque de FBC no PMDB representará uma grande perda, sobretudo, no tempo de TV para os planos de reeleição de Paulo, que perderá o seu maior fiador e se vê cada vez mais isolado. Nos bastidores, socialistas vêm ensaiando reaproximação com o PT, o que traria uma oxigenação, mas petistas locais têm se mostrado descontentes com as movimentações de correligionários. No diretório do partido, a defesa é pela candidatura própria. apenas com siglas da esquerda.
O DEM e o PSDB são outros partidos que, depois do ingresso dos pernambucanos Mendonça Filho e Bruno Araújo nos ministérios da Educação e Cidades, respectivamente, entraram no rol de uma postulação majoritária. Os dois partidos almejam a cabeça de chapa e têm estreitado as relações. Eles têm prefeitos em cidades estratégicas como o PSDB em Caruaru, mas, mas ainda não sinalizaram abertamente o projeto.
Em meio ao embaraço, o cientista político da UFPE, Helly Ferreira, afirmar ser muito precipitado imaginar a composição de 2018. “O cenário é muito turvo”, avalia. Ele lembra que as delações premiadas e a própria discussão em torno da disputa presidencial trarão repercussão nos estados, com resultados imprevisíveis junto à sociedade.