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Crônica de Ademar Rafael
ANALFABETISMO
Muito próximo de comemorar dois séculos da sua independência o Brasil tem, entre outras, aquela que considero a sua maior dívida social: O analfabetismo crônico. Em todas as campanhas políticas o tema educação entra na pauta, depois da posse ficam os projetos para o setor jogados na última gaveta dos ricos gabinetes. A prioridade some.
Todas as tentativas fracassadas foram anunciadas como a solução definitiva para este problema que gera muitos outros. Quando o regime militar instalado em 1964 criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, por meio da Lei 5.379, de 15.12.1967, prometeu “… a alfabetização funcional e a educação continuada de adolescentes e adultos.” Muita propaganda oficial, muito dinheiro gasto e pouco resultado. Ao ser extinto em novembro de 1985 o MOBRAL deixa a cena como enorme fracasso. Segundo dados oficiais durante sua existência o Programa alfabetizou de forma superficial apenas 37,5% da meta original que era de 40 milhões de brasileiros, esbarrou em 15 milhões.
Para não correr o risco de ficar retido na malha burocrática citarei alguns outros nomes que o poder central deu aos diversos programas de alfabetização. Com a extinção do MOBRAL o Governo Sarney criou o Projeto Educar, 25.11.1985. Fernando Collor por meio da Lei 8.209,de 12.04.1990, colocou um ponto final no programa criado pelo seu antecessor. Em 2003 foi criado o Programa Brasil Alfabetizado – PBA, seu objetivo: “Promover a superação do analfabetismo entre jovens com 15 anos ou mais, adultos e idosos e contribuir para a universalização do ensino fundamental no Brasil.” O fracasso continua.
Provando que é possível a Fundação Banco do Brasil criou o Programa BB-Educar, com ele mais de 100 mil brasileiros deixaram a escuridão do analfabetismo. Porque tal programa não é replicado pelo governo. Dizem os pessimistas que não há interesse dos “donos do poder” na solução do problema. Alegam que o analfabetismo mantém a dependência. Será?
Crônica de Ademar Rafael
ALÉM DO DINHEIRO
A literatura nos brindava com uma relatório da lavra de Graciliano Ramos direcionado ao Governador de Alagoas, narrando fatos da sua gestão como Prefeito de Palmeiras dos Índios – AL (07.01.1928/10.04.1930).
Em recente viagem ao Pajeú recebi a obra “Pedro Pires Ferreira, Meu pai”, de autoria de Nevinha Pires e editado pela família, neste ano. Na publicação encontrei uma prestação de contas de mandato do eterno prefeito tabirense. A seguir alguns pontos para que determinados políticos deixem de invocar a falta de dinheiro e que com ações corretas cumpram suas obrigações. Com atitudes corretas o dinheiro deixa de ser o foco único.
Podemos aprender muito sobre humildade, honestidade, atenção, limites, prioridade, etc. com estas citações: “Se cometi faltas contrariando os princípios da democracia, do direito e da ética administrativa é porque ignorei a maneira certa e legal de proceder”; “Uma coisa não se dirá: é que eu tenha me aproveitado do poder para perseguições mesquinhas ou com ele me beneficiado para enriquecimento de meu patrimônio particular”; “Sei que não solucionei os problemas da minha terra, todavia, não os deixei relegados ao esquecimentos” e “Procurei sempre aplicar a
prática administrativa, atendendo em primeiro lugar às necessidades mais urgentes.” Vejam que o líder não culpou a falta de dinheiro, citou atos.
Com atestado da ampla visão de Pedro Pires e da sua correção transcrevo abaixo duas estrofes lidas nas festividades do seu centenário, inclusas no livro. Os autores, dois poetas de Jabitacá: José Severo Liberal – “Numa estrada vicinal/Numa passagem molhada/Numa cancela assentada/Numa escolinha rural/Na placa de um hospital/Nos aterros da ladeira/Na construção da ‘bueira’/Nas águas do cacimbão/Vá atrás que tem a mão/De Pedro Pires Ferreira.” e de Quincas Rafael – “Ele era Pedro Pires/No dia da eleição/Ele era Pedro Pires/Na hora da precisão/Foi tão extraordinário/Que qualquer adversário/Apertava sua mão.”
Crônica de Ademar Rafael
ANTÔNIO PÁDUA DE LIMA
Em que pese a filosofia da rua apontar em outras direções, gosto da afirmativa que alguns valores nós trazemos do berço. Este modelo é plenamente aplicável ao professor Antônio Grilo. Desde cedo soube aplicar e copiar os bons exemplos.
Nos conhecemos em 1972 numa sala de aula do querido Ginásio Industrial, além das disciplinas convencionais estudamos juntos marcenaria durante o ensino básico e continuamos no curso técnico de contabilidade. Na época ele e seu irmão José Fernandes, de saudosa memória, trabalhavam na fábrica de colchoes que ficava em frente ao depósito de Zé Mariano e pertencia ao empresário Zé dos Colchões.
Muitas vezes, quando havia entregas imediatas, eles emendavam depois das aulas e varavam madrugadas. Várias vezes, entre matéria prima e maquinas, estudamos matemática para atender exigente professor Geraldo Campos e posteriormente Durval Galdino. As demais disciplinas tirávamos de letra.
Antônio Grilo sempre teve forte ligação com o esporte, bom jogador de futebol de salão. Dominava muito bem os fundamentos domínio de bola, condução de bola, passe e chute. Nunca gostou de jogador que apenas fazia cena, o famoso “rebolador”, sempre foi adepto do futebol bem jogado e com resultado prático, ou seja, com vitórias.
Na época que assumi o Barcelona foi um conselheiro perene. Foi a primeira pessoa que me falou que o futsal precisava de mudanças. O velho sistema dois x dois estagnara em função de repetência. A dinâmica que tal esporte tomou foi premeditada por Antônio Grilo, muito antes de acontecer.
Ficava indignado com o estrago que o Colégio Olavo Bilac de Sertânia fazia nos jogos estudantis regionais, ao abocanhar praticamente todas as medalhas em disputa. Sentenciava repetidamente: “Isto ocorre porque não nos preparamos, deixamos tudo para última hora. Eles ao concluírem uma competição continuam treinando firme para próxima.” Como era revestida de verdade essa observação.
Motivado a galgar situação financeira suficiente para proporcionar uma vida digna, lutou com dedicação, estudo e muita ação ocupou o lugar merecido como professor de educação física. Sua contribuição foi do tamanho do seu compromisso, sempre buscou aplicar boas práticas na orientações aos atletas que cuidou com extrema dedicação.
Amante da boa leitura e da poesia foi um amigo e admirador do meu velho pai, Quincas Rafael. Sabe avaliar muito bem o que é o desempenho de um cantador de viola numa cantoria pé de parede. Parabéns meu amigo você com sua simplicidade, respeito aos demais e competência é um exemplo a ser seguido.
Crônica de Ademar Rafael
A CORUJA
Na última semana de maio houve eleição e posse da diretoria do Afogados da Ingazeira Futebol Clube, nossa gloriosa “Coruja”. Em nosso país toda vez que ocorrem trocas de dirigentes ficam as indagações: O que virá de novo? Quais esqueletos serão tirados dos armários? E outras a gosto dos que assistem as mudanças.
No futebol todos sabem que quem ganha jogos são os jogadores, dirigente no máximo formam bons elencos. Em nosso Brasil muitas vezes os dirigentes personalizam tanto suas gestões que algumas vezes torna-os tão grandes quanto que as agremiações que dirigiram. Podemos citar os casos de Vicente Matheus no Corinthians, Francisco Horta no Fluminense e Alexandre Kalil no Atlético Mineiro. Gestões personalistas de tais dirigentes quebraram tabus e fizeram times vencedores.
No caso do time que muito honra Afogados da Ingazeira, permitam-me fazer os seguintes registros: Todos que acompanham o assunto sabem que fazer futebol no interior do Brasil é missão árdua, verdadeiro trabalho de Hércules. Neste cenário o dirigente precisa enfrentar o principal dilema que é separar o gestor do torcedor. Cabe a diretoria trabalhar, ao extremo, com planejamento. O orçamento, comas colunas receitas x despesas não pode sair de cima de mesa e das suas cabeças.
Amigos dirigentes do Afogados da Ingazeira Futebol Clube todos vocês são dotados de habilidades suficientes para ‘tocar o barco’, com gostava de dizer o famoso Ricardo Boechat. Sejam diligentes, acreditem no planejamento, formem bases regionais nos elencos e nas comissões técnicas, sejam transparentes com a imprensa e os torcedores, sejam criativos para arrecadar recursos e franciscanos para gastá-los.
Tenho confiança no trabalho de vocês, como torcedor e amigo coloco-me à disposição. O último lembrete: Fiquem atentos aos bastidores, neste campo pode até não surgirem vitorias, mas, com certeza surgem derrotas.
Crônica de Ademar Rafael
NOSSAS PRIORIDADES
Pela escassez de recursos, o brasileiro comum sabe como poucos escolher prioridades, todo mês precisa fazer sua relação do que vai comprar, do que vai pagar e do que vai deixar “para depois”. O poder público no Brasil, assim entendido a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, também por falta de dinheiro elege SUAS prioridades. A palavra “suas” está em caixa alta para demonstrar que a prioridade escolhida atende interesses do poder e dos amigos do poder. O que interessa ao bem comum passa muito longe. Ontem, hoje e sempre.
Está decidido que no curto prazo não haverá o censo do IBGE, historicamente realizado a cada dez anos. Serve, segundo dados do site do Instituto para o poder público ter “… subsídio para formular e avaliar políticas públicas, bem como para planejar ações de impacto sobre a sociedade. São informações que podem auxiliar o processo de tomada de decisão e gerar benefícios a toda a coletividade.” Como pode ser atestado, por meio das informações do censo o governo define políticas pulicas.
Oficialmente a não realização do levantamento domiciliar de 2020 foi em função da pandemia, foi prorrogado para 2021. Pelo mesmo motivo e pela falta de dinheiro foi novamente suspenso. Seu custo gira em torno de R$ 2,0 bilhões e geraria empregos para mais de 200 mil brasileiros. Se olharmos superficialmente o orçamento da união teremos elementos para afirmar que o problema não é falta de recursos e sim de prioridades. Nosso olhar alcançou somente as rubricas orçamentárias abaixo.
Com VERBA PUBLICITÁRIA o governo federal nos últimos quatro anos gastou R$ 1,54 bilhões (2017 R$ 507 milhões – 2018 R$ 430 milhões – 2019 – R$ 312 milhões e 2020 R$ 294 milhões). Com o FUNDO PARTIDÁRIO o gasto foi de R$ 4,908 bilhões no mesmo período (2017 R$ 721 milhões – 2018 R$ 1,716 bilhões – 2019 R$ 437 milhões e 2020 R$ 2,034 bilhões). A este último valor se faz necessário somar R$ 1,28 bilhões relativo ao custo da eleição de 2020, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral.
Crônica de Ademar Rafael
A MÚSICA
Convivi com pessoas que se não estivessem ouvindo uma música não tinham inspiração para produzir com a intensidade que seus cargos exigiam, o som ambiente as moviam. Tinha três grupos: Os dos fones de ouvido; os dos radinhos de pilhas e os do som ambiente.
Todos nós, com as exceções que em tudo há, tem uma ou algumas músicas de preferência. Eu, particularmente, tenho muitas. Uma coisa é certa, sem os exageros do vício, gosto de ouvir músicas. Isto herdei do meu pai desde o tempo que ouvia Rádio Pajeú, as músicas tocada no programa o “Terreiro da Fazenda”. Para abrandar as tensões do momento atual, vamos ouvir música e tirar reflexões positivas nas mensagens nelas impressas. As preferência precisam ser respeitadas, entendo que música não tem pátria.
A irmã Diana Milena Devia Burbano, EP, no artigo “Silêncio sinfônico”, publicado na Revista Arautos do Evangelho de fevereiro-2021, magnificamente escreveu: “Dentre as variadas manifestações artísticas que as civilizações foram desenvolvendo ao longo do História, a música foi, desde logo, uma das mais eloquentes. Com efeito, a variedade de sons, quando bem harmonizados, é capaz de manifestar aquilo que só se percebe com o coração e muitas vezes não é transmissível por palavras. São certos sentimentos e imponderáveis que só existem nas região mais recônditas da alma humana.” Em templos religiosos desde o século VI as músicas auxiliam no alívio dos nosso medos.
A maravilhosa Roberta Miranda nos diz na letra da “Majestade o Sabiá”: “Ah! Tô indo agora prum lugar todinho meu/Quero uma rede preguiçosa pra deitar/Em minha volta, sinfonia de pardais/Cantando para a majestade, o sabiá. A majestade, o sabiá.” Existirá musica melhor?
A música tem importância muito além do que imaginamos, em várias bacias leiteiras a música é utilizada durantes as ordenhas. Garantem os pecuaristas que relaxadas as matrizes bovinas produzem mais leite.
Crônica de Ademar Rafael
ALEXANDRE JOSÉ LIRA DE MORAIS
Defendo com unhas e dentes que a cultura popular não aceita desaforo de tecnocratas e de falsos intelectuais. Quando este tipo de gente tenta manipular a cultura em favor dos seus interesses ou limitá-la ao que diz sua cartilha ideológica a rebeldia é automática. Com intensidade maior que a tentativa de domá-la a cultura assume as peraltices do “Saci Pererê”, quebras as argolas e ganha a rua.
O cineasta Rosemberg Cariry, no começo da década de 1980, publicou “Cultura insubmissa: Estudos e reportagens”. Neste livro um inconformado Rosemberg chama atenção para muitos elementos entrelaçados entre a cultura e a consciência popular e clama apoio para sua tese da “cultura de resistência”.
Na junção do que escrevi inicialmente com as teses do livro acima citado encontro o incansável trabalho de Alexandre Morais. Desde cedo ele busca e encontra a essência da cultura popular nos diálogos com o mundo, a feira livre e a praça pública são seus laboratórios.
Em virtude de longo tempo que fiquei distante do Pajeú não convivi com Alexandre como gostaria. Conheci seu trabalho inicialmente através do site www.culturaecoisaetal.com.br por indicação de colega do Banco do Brasil, poetisa Scheila Patriota. Em referido espaço comecei a ver o nível do trabalho em defesa da cultura. Estando em Afogados da Ingazeira, durante as festas natalinas de um determinado ano, vi um cartaz do evento “Pajeú em Poesia” no dia 25.12. na hora eu pensei: “Esse ‘cabra’ é doido. Como fazer um evento cultural nesta data. Possivelmente irá ele e outras duas ou três pessoas.” Como foi bom ter me enganado. Cheguei ao local que estava cheio de apologistas, poetas, escritores, cantores, músicos, etc. Se pessoas fosse algo comparável com artigos a feira de Caruaru agora tinha um concorrente. Fiquei até o final e tenho gravado na memória muito do que vi naquele evento.
É impossível controlar a criatividade, a inquietude e o senso de coletividade que brota da mente de Alexandre Morais. Comparo com a cena de um turbilhão escapando de uma cachoeira. Recentemente o seu Projeto “Palco Pajeú” teve um eco no meio cultural muito superior ao do grito de Tarzan nos matinês do meu tempo de jovem.
Numa mesa de glosas, em um recital, numa banca vendendo cordéis, em um filme ou numa palestra a performance de Alexandre Morais é digna de altos elogios pela cultura que irradia. Seus projetos junto a poetas da região, seu apoio ao neófitos, sua preocupação com a inserção da poesias nas escolas nos obriga sonhar com Alexandre Morais nas feiras livres e nas praças multiplicando a cultura. Não pare meu irmão, precisamos muito do seu talento. Como referência que és, o Instituto Quincas Rafael terá um espaço reservado para você idealizar como será utilizado.
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Pelo Exemplo
O consultor internacional sobre liderança, John Adair, no livro “Estratégias de liderança de Confúcio”, entre outras muitas sinalizações indica que a melhor maneira de liderar é pelo exemplo. Cita a convergência entre pensamento do sábio chinês, que atesta: “Governar é corrigir. Se o senhor der o exemplo ao ser correto, quem ousaria a ser
incorreto” e a frase atribuída a Albert Schweitzer, teólogo, filósofo, médico e músico alemão, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1952, que faleceu em 1965, com noventa anos: “Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros, é a única”. Esta ponderação atesta que a lógica de liderar pelo exemplo atravessa séculos, sem perder sua essência.
Esta linha de pensamento me incomodava na época que assumi os primeiros cargos de direção no Banco do Brasil. Com alto grau de miopia eu pensava: “Não tenho que me basear em nada ou ninguém para fazer o que é certo”. Não sabia eu, na minha lógica de principiante, que o exemplo seria a caminho para que não caísse em tentações. Ao me convencer da veracidade deste posicionamento tentei aplicar à exaustão. Permitam-me afirmar que os resultados foram os melhores possíveis. Quem testar, tenho absoluta certeza, chegará aos objetivos com menos esforço e descobrirá que os espanhóis têm razão ao afirmar: “Você se torna aquilo que faz.”
Em sua obra, Adair sugere que para liderar pelo exemplo o líder precisa: ”Ter entusiasmo – Ter integridade – Ser firme, exigente e justo – Ser caloroso e Ser humilde.” Por experiência própria e comprovação em várias oportunidades, atesto que tais qualidades são luzes que iluminam os caminhos dos que lideram pelo exemplo.
Validando as ponderações acima atesto que nas vezes que pude liderar pelo exemplo, em diversos cargos que exerci no setor público e privado, fui seguido pela equipe sem muito esforço. Nos momentos que fracassei neste sentido as dúvidas surgiram e o desempenho foi inferior ao alcançado nas situações em que o exemplo foi percebido pelos liderados.
Crônica de Ademar Rafael
DEUSES E DEUSAS ATUAIS
De pronto, avisamos que este texto não tem viés de doutrinação ou cunho religioso, trata-se de alguns registros para reflexão sobre nosso posicionamento nos dias atuais.
Registros bíblicos, citações em diversos livros e filmes épicos apresentam relatos das punições que recebiam os que pertenciam a outro credo e negavam-se a cumprir rituais para os deuses locais. Os escravos, estrangeiros e obedientes a outros seres supremos sofreram duras penas ao se negarem prestar os cultos exigidos pelas autoridades.
Apenas como ilustração, sem detalhamentos, vamos mencionar três deuses/deusas em três países, na antiguidade. Egito: Rá-Atum, Osíris e Set; Babilônia: Marduk, Apsu e Tiamat e Roma: Apolo, Baco e Ceres.
Sob nosso ponto de vista o que mudou dos tempos há muito idos para nosso tempo é que no passado as pessoas eram obrigadas a adorar deuses ou deusas que não tinham devoção e nos dias atuais espontaneamente direcionamos nossas energias para os deuses e deusas.
Uma pergunta que cabe. Ademar, quais são estes deuses e estas deusas? Minha bússola, resumidamente, aponta para seguintes direções: Poder, Dinheiro, Carros, Imóveis, Beleza e Redes Sociais.
Agora é minha vez de devolver uma indagação. Quais desses ou dessas você tem feito sacrifícios e de forma doentia tem prestados cultos? É possível que estejamos dedicando nossa atenção para mais de um/uma, simultaneamente. Isto tem sido regra no mundo do consumismo e da pressa para ter, em lugar de ser.
Eu com minhas fraquezas, com meus medos e minhas limitações tenho tentado reduzir a dependência com tais divindades. Não tem sido fácil. Você caro leitor e cara leitora passa por isto? Vamos refletir e agir?
Crônica de Ademar Rafael
OS TROPEIROS
Os consumidores que hoje fazem compras pelo comércio eletrônico e recebem os produtos em casa jamais podem esquecer quem fazia este serviço em condições adversas: Os tropeiros. O livro “Tropeiros – Viajantes e aventureiros”, de Cândida Vilares e Vera Vilhena, assim os define: “…a lendária figura do tropeiro, que unificou o Brasil com suas tropas de mulas levando, pelos caminhos da época, mercadorias, novidades e costumes…”. Este foi o formato utilizado pelos tropeiros nos sertões do Brasil.
No sul eram eles que conduziam as boiadas. Esta pratica foi estendida para Minas Gerais, Goiás e região do Pantanal, onde recebem o nome de comitivas. Para o estilo gaúcho, transcrevo uma das estrofes de “Tropeiro Velho” da autoria de Teixeirinha: “Sentado à beira do fogo/Sentindo o peso da idade/Tão triste o velho tropeiro/Quase morto de saudade/Oitenta anos nas costas/Sempre lidou com boiadas/Mas nunca em suas andanças/Deixou um boi na estrada…”. As músicas “Menino da Porteira”, de Luiz Raymundo e Teddy Vieira de Azevedo, “Chico Mineiro”, de Francisco Ribeiro Barbosa e Joao Salvador Perez e “Comitiva Esperança”, de Almir Sater, destalham a atividade no sudeste e centro oeste.
Em nosso nordeste não encontro melhor texto para definir os tropeiros do que esta estrofe da música “Tropeiros da Borborema”, autoria de Raimundo Asfora e Rosil Cavalcante, gravada por diversos intérpretes e eternizada por Luzi Gonzaga: “Estala relho marvado/Recordar hoje é meu tema/Quero é rever os antigos tropeiros da Borborema – São tropas de burros que vêm do sertão/Trazendo seus fardos de pele e algodão/O passo moroso só a fome galopa/Pois tudo atropela os passos da tropa/O duro chicote cortando seus lombos/Os cascos feridos nas pedras aos tombos/A sede e a poeira o sol que desaba/Ó longo caminho que nunca se acaba!…”
A “Amazon” e o “Magalu” nos levas aos produtos, os tropeiros nos leva à história, vamos viver na comodidade e preservar o “TROPEIRISMO”.