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Últimas publicações do quadro “Crônicas de Ademar Rafael”

Crônica de Ademar Rafael

ANISTIA

No último quadrimestre do ano que a Lei nº 6.683, de 28.08.1979 completou quarenta e quatro anos, tomamos conhecimento que tramita no parlamento brasileiro proposta para anistiar os manifestantes que por iniciativa própria, convicção ou indução de terceiros praticaram atos fora das letras mortas da Constituição em 08.01.2023.

A lei acima citada, conhecida como Lei da Anistia, na época da sua tramitação relâmpago no governo do General Figueiredo, foi bastante questionada por nivelar os que torturaram, os pegaram em armas e os que simplesmente manifestaram opiniões contrárias ao regime. Mas, quem tinha idade para discernir o bem e o mal no final dos anos 1970 lembra das mensagens cifradas que diziam: “Ou esta lei ou nada”.

Como a regra, mesmo com suas aberrações era melhor do que o que tínhamos muitos aderiram ao projeto. No site do Senado Federal, em texto sobre os quarenta anos da Lei da Anistia podemos ler: “Foram anistiados tanto os que haviam pegado em armas contra o regime quanto os que simplesmente haviam feito críticas públicas aos militares. Graças à lei, exilados e banidos voltaram para o Brasil, clandestinos deixaram de se esconder da polícia, réus tiveram os processos nos tribunais militares anulados, presos foram libertados de presídios e delegacias.” Não há dúvidas que cada um defendeu seus interesses, graças a essa regra retomamos parte das variáveis existentes numa democracia.

O perdão é um princípio que devemos carregar conosco, contudo, no caso dos atos de 08.01.23 é necessário cautela. Anistiar pode se configurar como banalização de atos praticados ao arrepio da lei e agravar os desvios de conduta presentes em nossos dias. A cada manifestante devemos dar todo direito de defesa, julgar à luz das regras existentes e evitar colocar todos no mesmo “balaio” como a Lei da Anistia fez. Quem pratica atos ilegais deve por eles responder, minimizar o que foi feito no segundo domingo de 2023 é um risco que nossa democracia não deve correr.

Crônica de Ademar Rafael

A FESTA SUMIU?

Nós que ultrapassamos a barreiras dos sessenta anos quando falamos “No meu tempo era assim ou assado” somos chamados de saudosistas por uns ou de ultrapassados por outros. Mesmo correndo este risco quero hoje falar sobre o festa do Senhor Bom Jesus dos Remédios em Afogados da Ingazeira.

Nas décadas de 1970 e 1980 a Praça Arruda Câmara vestia roupa de gala para receber os visitantes durante as festividades que neste ano chega ao evento de número cento e noventa e cinco, isto mesmo, a 195ª festa. O Parque de Diversão era montado no meio da praça, as barracas em todo seu entorno e os habitante da localidades e visitantes criavam espaços para caminhar, paquerar, tomar sua bebida favorita e comer as delícias ofertadas pelos ambulantes ou nos pontos fixos da praça.

Não há meio de esquecermos os bailes do Aéreo Clube de Afogados da Ingazeira – ACAI, os jogaços no Paulo de Sousa Cruz e no Campo da Estação, as pastorinhas sob comando de Beto de Madalena, nosso “Beto Limonta”, as músicas tocadas na difusora e tantos outras coisas que o mundo das redes sociais teima em jogar na vala do esquecimento.

Quantos jovens da nossa querida cidade desconhecem que seus avós deram os primeiros beijos durante a “Festa de Ano”, alguns deles nas cadeiras do parque de Mané Jacó ou no salão da ACAI. No campo religioso a grande expectativa para este cronista era a homilia e Dom Francisco, o Profeta do Pajeú. Após a procissão na missão campal nosso pastor soltava o voz em defesa dos excluídos e denunciando os desmandos das autoridades sob tutela dos militares instalados na presidência de república por força do golpe de 1964.

Não temos como reativar as festividades no modelo antigo, mas, entendo ser nossa a obrigação de zelar para que não caiam no esquecimento.

Crônica de Ademar Rafael

É NATAL

Durante algum tempo fugi das comemorações natalinas por entender que a festa havia descambado para o lado do consumo esquecendo-se da sua essência. Convencido pela esposa voltei a participar do jantar em família, reservando tempo para refletir sobre o nascimento de Jesus de Cristo, a “Missa do Galo”, instituída o ano 143 pelo Papa Telésforo”, a “Coroa do Advento” e a “Guirlanda”, isto à luz do juízo de valor advindo da minha crença, sem questionar as escolhas alheias.

Farei neste texto uma síntese dos principais símbolos do Natal, começando pelo “Presépio”, criando em 1223 por São Francisco de Assis, numa gruta na cidade italiana de Greccio com intuito de demonstrar aos moradores da região como havia sido o nascimento de Cristo. Existem registros de que no Brasil o primeiro “Presépio” foi montado na cidade de Olinda-PE, no século XVII, pelo religioso Gaspar de Santo Agostinho.

Sobre a “Arvore de Natal” entre as diversas versões destaco a que indica seu surgimento na cidade de Riga, na região onde está hoje a Letônia, por volta de 1510. No Brasi esta tradição ganhou força no início do século passado. Acompanho a tese que sua expansão sofreu influência da chegadas dos eurupeus em nosso país.

Entre as versões acerca da “A troca de presentes” muitos registros disponíveis indicam que a entega dos presentes pelos Reis Magos é a base dessa tradição, pela vertente religiosa.

A “Ceia de Natal” foi herdada de festas da Roma Antiga para comemorar o migração da época fria para o período em que o sol trazia alegria e colheitas abundantes. Na festa romana também tem origem os “Cartões de Natal”

A origem do bom velhinho “Papai Noel” está relacionada a São Nicolau de Mira, que viveu na Turquia entre os séculos III e IV. Nos dias atuais encanta as crianças e embala as vendas do comércio.

Crônica de Ademar Rafael

DISTANTE DAS PREVISÕES

Por ter exercido cargos relacionados com análise de cenários em várias fases da minha vida, sempre que posso verifico tendências e testo previsões, visando descobrir fatos que impediram suas concretizações.

Neste sentido recorri ao livro “Desafios do século XXI”, publicado há vinte cinco anos, organizado por Ives Gandra Martins e com participação de especialistas em cada área de interesse ao Brasil e seu povo. As opiniões foram baseadas na expectativa de que os preceitos de liberdade e direitos sociais incluídos na Constituição de 1988 ajudaria nosso país na superação de metas relativas ao crescimento econômico, a fome e ao acesso à justiça.

Sobre o tema crescimento escreveu o economista Delfim Neto e abordou previsões sobre níveis de inflação, política fiscal, taxa de juros real, taxa de câmbio e contas correntes aceitáveis apenas o quesito inflação esteve dentro das previsões. Os demais continuam sugando nossas riquezas, sufocando a energia do povo brasileiro e enriquecendo os mais ricos. Os motivos passam pela ganância e pela nossa forma de fazer política, sem previsão de ajustes no curto e médio prazos.

Quanto ao assunto fome escreveu o professor Benedicto Ferri de Barros, sem dúvida é a parte que teve pior desempenho. A parte abaixo da letra de “A cantiga da perua”, de Jose Gomes Filho e Elias Soares Rodrigues,
gravada por Jackson do Pandeiro, talvez seja o que melhor define: “É de pior a pior, é de pior a pior/A cantiga da perua é uma só…” O volume das crescentes safras de grãos neste vinte e cinco anos não foi para mesas dos brasileiros, os motivos são os mesmos que inibiram o crescimento.

No tocante ao acesso à justiça o professor Roberto Rosas acertou muito pouco em suas ponderações. O acesso pleno continua restrito aos ricos. Alguns operadores do direito tentam, mas o Brasil da periferia não recebe tratamento digno em nosso sistema jurídico. Nosso país teima em seguir no sentido contrário da lógica e da justiça social, Uma pena.

Crônica de Ademar Rafael

O MESTRE SE FOI

Com a força de um lutador de box que recebe três grandes golpes em frações de segundos e não cai, participei do velório e do sepultamento do meu cunhado David Soares Santos, o Professor David. Cabe registrar que os golpes foram as mortes quase simultâneas de Sebastião Dias, Ivone Góis e do meu professor e cunhado.

Com a sensação e reação de um anestesiado, busquei controlar as emoções para filtrar as ponderações sobre o Professor David. Ouvi e li parte do que foi dito e escrito por amigas, amigas, alunas e alunos. As mensagens versavam sobre sua preocupação em formar cidadãs e cidadãos. David se portava em sala de aula e durante o tempo que atuou na Gerência Regional de Educação – GRE Alto Pajeú como um formador de lideranças futuras. A sua atuação extrapolou, em muito, a repetição de conteúdo. Foi de fato um educador.

Pela sua atuação como professor de música foi lembrado em textos, vídeos, depoimentos em redes sociais e presencialmente para este cronista, todas destacando seu compromisso com a “arte” expressada através dos sons. Julgo salutar a citação dos músicos Chagas e Edinho.O primeiro grande amigo e o segundo um aluno que em suas redes sociais publicou seu agradecimento e um vídeo contendo o último encontro entre mestre e aluno ao som de flautas, tocadas pelos dois.

Nunca integrei o contingente das pessoas que condenam as homenagens após a morte. Defendo a tese que homenagem em vida alimenta a vaidade e depois do falecimento, pela força do reconhecimento sincero, alimenta
o legado e a história do personagem. Em nome da família, o agradecimento aos nos apoiaram neste difícil momento. Destaco os comunicadores Nill Júnior e Wellington Rocha que prontamente anunciaram o falecimento do professor e aos amigos Fernando Pires e Rodrigo pelas publicações. Exemplo e legado ficaram, que os ensinamentos do Professor David sejam replicados aos quatro cantos, a geração atual precisa deles.