Por: Maciel Melo
Um sonho mal-assombrado interrompeu o sono mal dormido de uma noite que parecia não ter fim.
Era um beco sem saída, repleto de zumbis encapuzados, vestidos de branco, de tochas em punho, acendendo uma fogueira sobre o corpo de um mendigo.
Era um lugar fantasmagórico. Os grunhidos em coro relembravam um filme no qual os integrantes de uma “sociedade secreta” queimavam negros e incendiavam tribos, aterrorizando as noites do Tennessee, no sudeste americano.
Haviam trovões; o céu estrondava, raios de fogo rasgavam o horizonte e os ventos uivavam, formando um funil humano em frente às ruínas de um castelo, onde um rei mal coroado cuspia palavras de ódio, assanhando a ira dos tufões.
Era o breu de uma nação perdida no tempo e no espaço, e a bateria que alimentava a última luz do fim do túnel, estava por uma peinha de nada, apenas penumbrava a teimosia de algumas almas birrentas, que não desistem nunca de procurar uma porta de saída.
Mas o pesadelo saiu do sonho para a realidade. Tudo está deserto, já não se vê mais pipas colorindo o céu dos inocentes, nem carrinhos de rolimãs arranhando o cimento das calçadas dos (Seu Lungas), das cidades do interior.
Não sei se é melhor ficar dormindo e ter pesadelos, ou acordar e ter que ouvir os gritos de uma repressão, ecoando bem no meio de uma pandemia.