
Letícia Casado – Colunista do UOL
O governo Lula precisa melhorar a comunicação dos projetos para a população, mas não pode “subir no salto” e considerar que a reeleição está ganha. A avaliação, feita pelo ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social), traz uma crítica ao PT, que resiste a atualizar a sua maneira de se comunicar e perde a batalha das narrativas nas redes sociais.
“Hoje a situação é mais favorável do que era em 2022. Nada de salto alto, nada está resolvido. Temos que trabalhar muito”, aponta ele, que é filiado à legenda desde 1985.
“No governo, eu percebo que a entrada do Sidônio [Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social] abriu um momento novo. No partido, a gente precisa seguir esse passo, ter alguém que entenda de comunicação. E tem muita gente lá que entende”, afirma.
Quadro antigo do PT, Dias foi governador do Piauí por quatro mandatos, senador e deputado federal, além de sido eleito vereador e deputado estadual.
Questionado se o PT parou no tempo no modo de se comunicar com a população, o ministro diz que o problema não se restringe à sigla, mas atinge todo o campo da esquerda.
“É mais grave. Não é só o PT, mas o nosso campo político. Temos lugares onde a gente já acertou”, diz ele, citando os prefeitos do Recife, João Campos (PSB), e de Teresina, Rafael Fonteles (PT). “Então, o que está acontecendo aqui que a gente não consegue multiplicar? Quando converso com a direção do partido, trato sobre isso. Não precisa fazer um estudo acadêmico.”
Ele diz que Lula “tem uma capacidade de atualização muito forte” e já entendeu a urgência em mudar a maneira como o governo envia uma mensagem à população.
98 programas de governo e popularidade em baixa
O presidente enfrenta seu pior momento dos três mandatos diante da opinião pública. Para Dias, a população desconhece o que está sendo feito justamente porque a informação não chega à ponta.
“O governo tem 98 programas. Ninguém consegue fazer o povo entender 98 programas. Mas todos têm um único objetivo: um Brasil mais desenvolvido.”
O ministro diz, ainda, que o governo não consegue rebater os detratores, e as narrativas criadas pela oposição fazem com que a população não perceba as diferenças entre as gestões Lula e Jair Bolsonaro (PL).
“Tem problemas? Sim, e certamente, se procurar, vai encontrar. Mas ninguém quer tratar sobre o que era a saúde ou a educação e o que é agora. Cria-se temas, como aborto, uma versão a cada dia. E o nosso time está engolindo essa isca.”
“Todos os dias, num país do tamanho de um continente, vai ter coisa ruim. Mas tem muita coisa boa. Como faço a linha direta com a população para que ela possa acompanhar o enredo?, questiona”
Lava Jato exigiu sobrevivência
Dias diz que a mudança na presidência do PT ocorre em um momento mais favorável ao partido e que, agora, a legenda vai poder focar em outras coisas além da sobrevivência na política.
Gleisi Hoffmann presidiu o partido entre 2017 e 2025, quando deixou o cargo para assumir a Secretaria de Relações Institucionais do governo.
“Quero aqui registrar todo o mérito para a deputada e agora ministra Gleisi. Imagina o que era comandar um dos maiores partidos do Brasil numa conjuntura em que o maior líder foi preso por um longo período em um momento de alvo de todos os ataques. Foi muito desfavorável.”
Entrega de resultado assegura reeleição
Para o ministro, as entregas que o governo vai fazer ao longo do próximo um ano e meio vão permitir ao presidente chegar mais bem avaliado à eleição de 2026. A oposição, diz ele, vai ficar no discurso, enquanto Lula terá resultados para apresentar.
“A gente tem dificuldade de demonstrar a conjuntura em que o presidente Lula assumiu: tensão na política e uma composição [no Congresso, com partidos de centro e de direita] e que não é fácil. Nosso campo não pode ter expectativa de solução simples, são todas complexas. Muito mais difícil era vencer 2022, e vencemos. Era uma ‘missão impossível’, pegando o exemplo do filme. Acho que hoje, dois anos depois, o presidente Lula tem que lembrar de outro filme: ‘Ainda Estou Aqui'”, diz, se referindo ao longa dirigido por Walter Salles, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro.
