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CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELGANGORRA.

Em 2000, a pedido de uma professora de português em Barreiras – Bahia, escrevi um ensaio monográfico sobre o setor agrícola no Oeste baiano.

A inspiração para o texto surgiu do ditado popular “Na briga entre o mar o rochedo quem morre é o siri”. O mar, representando o competitivo mercado de grãos, lutava bravamente pela redução de impostos, via incentivos fiscais; o rochedo, no papel do Estado defendia sua enorme carga tributária e o siri na pele do produtor pagava a conta.

Após quinze anos voltei à região e encontrei a ”mesma música” tocando. Isto é, nada mudou. As esmagadoras, os exportadores, os produtores de insumos e os especuladores (mar) continuam buscando mecanismos para redução de seus custos e aumento dos lucros; a União, o Estado e os Municípios (rochedo) afiaram suas “garras tributárias” e os agricultores (siri) permanecem assumindo os riscos e continuam reféns do sistema perverso.

Nos dias atuais, de cada dez grãos de soja produzidos no mundo cinco são consumidos pela China e nesta condição os chineses aplicam as regras do mercado mundial e pouco estão preocupados com os estragos nos bolsos dos agricultores.

As condições de pagamento e os preços dos insumos são definidos pela indústria e o preço da soja é atribuído pelos compradores, via bolsa de Chicago. Os agricultores ficam no meio, seus lucros dependem de variáveis sobre as quais eles não exercem qualquer ingerência. Enfrentam bravamente os riscos com estiagens, pragas, relações trabalhistas, escoamento, variação cambial, juros, restrições ambientais, impostos, entre outros.

As esmagadoras e as exportadoras recebem os grãos em suas unidades fabris e nos portos e com riscos infinitamente menores ganham muito dinheiro. Repassam aos agricultores todos os encargos via preço liquido pago.

Durante a minha estadia no Oeste baiano visitei uma área de soja já com os grãos formados. Enquanto contornávamos a lavoura o agricultor desceu do veículo e constatou a infestação de uma praga cujo combate teria que ser imediato sob pena de comprometer a produção.

Como em condições normais neste estágio da planta os únicos custos previstos seriam com colheita e escoamento, o ônus da aplicação do defensivo reduzirá a estreita margem de lucro. O agricultor, diferente da indústria, do comércio e do atravessador, em hipótese alguma repassa para o preço do seu produto os custos extras. Este é o mundo que habita o produtor neste país: para manter o nível de produção que garanta a margem de lucro desejada, enfrenta adversários poderosos no universo real (mar e rochedo),virtual (bolsa de Chicago e mercado de capitais) e da natureza (clima e pragas).

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ADEMARRONIPOR QUE NÃO OUVIMOS O “REFORMADOR”?

Os governantes brasileiros têm a mania de gritar em alto e bom som que construíram milhares de creches e de escolas com arquitetura de vanguarda e equipamentos de última geração. Preocupam-se com a “casca” e esquecem
totalmente o “miolo”, este sim, carente de atenção.

Prédios e computadores podem contribuir com condições de trabalho, mas isoladamente não geram conhecimentos. No entanto, como os fornecedores de bens e serviços precisam de bons contratos para financiar as campanhas
eleitorais gastos com a estrutura física ganham espaço em cada governo.

Quando mergulhamos nas vinte metas do Plano Nacional de Educação – PNE-2014/2020, encontramos as palavras “massificação” e “inclusão” diversas vezes. O texto é lindo; a prática, não tem a mesma aparência.

Martinho Lutero, nas primeiras décadas do século XVI, conforme narra o livro “Lutero & a Educação”, de José Rubens Lima Jardilino sugeriu que sua Alemanha utilizasse um sistema universalizante de escola básica que contemplasse também a preparação para o trabalho. Entendia o “reformador” que aos pais caberia a formação espiritual e o Estado seria responsável pela instalação, sustentação e controle da escola pública, gratuita para todos.

Em 1524 escreveu Lutero aos governantes: “… o progresso de uma cidade não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros de fortificação, de casas bonitas… o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possuem muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados.” É muito triste constarmos que após 193 anos da nossa independência, fomos capazes de aprender os “modismos” da França, o “consumismo” dos Estados Unidos, mas não tivemos a capacidade de absorver os ensinamentos luteranos.

Entendemos caros leitores e leitoras que é pedir muito aos brasileiros para que de uma “lapada só” aprendam, tenham juízo e sejam honestos. Uma coisa de cada vez cria embaraços, imagine as três coisas, simultaneamente.

Se o sistema educacional que vigora em nosso país assumisse a receita de Lutero, levaríamos em torno de trinta anos para gerar uma sociedade dotada dos adjetivos recomendados pelo “reformador”, há 49 décadas. Isto, com
certeza, impediria que os procuradores e os juízes fossem as estrelas da companhia, uma vez que a corrupção perderia espaço para outros valores defensáveis.

Outro fato interessante é que em 2014 o Ministério da Educação bancou a publicação “O Sistema Nacional de Educação: diversos olhares 80 anos após o Manifesto”, ondeCélio da Cunha, Moacir Gadotti, Genuíno Bordignon e Flávia Maria de Barros Nogueira fazem referência ao “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932”, no qual Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Paschoal Lemme, Cecília Meireles apresentaram sugestões convergentes com
o pensamento de Lutero, com o jeito brasileiro de ser e as adaptações julgadas pertinentes por aqueles pensadores.

Talvez em 2032 seja o caso de publicar algo novo na comemoração de cem anos do “manifesto” e esperar, isto sabemos fazer como ninguém.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELEXEMPLOS A SEREM SEGUIDOS

Trabalhei no estado da Bahia, nas cidades de: Luís Eduardo Magalhães (set./1998 a mar./2001); em Serrinha (abril 2001 a abril de 2002) e em Vitória da Conquista (dez.2005 a dez./2007) e, em fevereiro-2015, retornei àquelas cidades para rever amigos e atestar o crescimento de cada uma.

Luís Eduardo Magalhães, Mimoso do Oeste na época que por lá aportei, com a força natural das fronteiras agrícolas deixou de ser o distrito de Barreiras, com menos de vinte mil habitantes, para transformar-se numa cidade com algo em torno de cem mil moradores.

A pujança da região ignora o estágio de letargia que passa o país: os obstáculos são enfrentados pelos produtores rurais com a mesma intensidade que eles são atacados pela turma de Marina Silva, com a diferença que os produtores geram alimentos e renda para o Brasil.

Serrinha, não obstante a sobra de Feira de Santana, firmou-se como cidade referência na região do sisal e por centralizar o comércio naquela parte do Sertão baiano, em janeiro último assistiu a inauguração do “Shopping Serrinha”, empreendimento sob administração da empresa Enashopp, com atuação em outras cidades do Nordeste.

Ver o crescimento sócio econômico da cidade que acolheu Vicente Barreto, autor de “Morena Tropicana”, é tão salutar quanto ouvir a música na voz de Alceu Valença. Este crescimento prova que com trabalho e foco nas particularidades regionais os nossos empreendedores merecem muito mais atenção do que os nossos governantes.

Vitória da Conquista é a mais importante cidade do Sudoeste baiano e da região Norte de Minas Gerais e tem transformado este potencial em atração de altos investimentos, com geração de saberes e renda.

Hoje, além da cultura do café, a cidade representa um grande centro educacional; tem uma das maiores ofertas de serviços médicos de média e alta complexidade do Nordeste e motivada pela localização privilegiada apresenta-se como importante eixo de integração entre as regiões Sul e Sudeste x Nordeste, com larga estrutura de logística integrada.

Nas três cidades, o setor imobiliário está em evidência e a instalação de novas plantas comerciais, industriais e residenciais sugere que a situação perdurará por alguns anos. Na visita recentemente realizada encontrei além dos amigos as cidades em melhores condições que as deixei.

Ao escrever “O nordeste que deu certo” há mais de vinte anos, o nosso conterrâneo Magno Martins destacou fenômenos similares, pena que muitos continuam com a ilusão que no Nordeste só tem fome e analfabetismo.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ademarBELO PRESENTE

Sou defensor do modelo cooperativo para superar dificuldades e particularidades de setores desprovidos de mecanismos próprios, como é o caso da agricultura familiar. Por isto em 2008, quando deixei o emprego no Banco do Brasil, passei a atuar no projeto da COOPASUP –Cooperativa Mista Agropecuária dos Pequenos Agricultores do Sudoeste da Bahia – instalada em maio de 2005. No primeiro momento a atuação foi em forma de estágio obrigatório do curso de Administração; depois, como consultor.

Referido projeto, narrado de forma detalhada no livro “Negócios Solidários em Cadeias Produtivas – Protagonismo Coletivo e Desenvolvimento Sustentável”, de autoria do pesquisador Luiz Eduardo Parreiras, teve como principal objetivo trazer alento para os produtores de mandioca, oriundos de Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da região,vinculados aoMST – Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, CPT – Comissão Pastoral da Terra e MPA–Movimentos dos Pequenos Agricultores.

Em sua fase embrionária, o projeto contou com participação ativa da Fundação Banco do Brasil, EMBRAPA, SEBRAE, UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, ASA – Articulação do Semiárido, Prefeituras e Agências do Banco do Brasil entes outras entidades públicas e privadas. Boa parte destas instituições estão atuando na empreitada até os dias atuais.

Foram muitas batalhas cerradas com organizações públicas e privadas que não viam o projeto com bons olhos, com a desconfiança dos fomentadores de recursos e com o ineditismo do empreendimento que interferia na cadeia produtiva da mandioca, nas etapas de escolha das mudas, preparo de solo, plantio, colheita e produção de fécula de mandioca em indústria a ser instalada e administrada pela COOPASUB.

O importante é que a persistência venceu. As dificuldades foram insuficientes para reduzir a garra das pessoas envolvidas com o empreendimento, com destaque para Izaltiene e Luiz, produtores rurais que largaram suas atividades e dedicaram-se integralmente às atividades da Cooperativa, sempre contando com as orientações do baiano Dácio e de outros brasileiros, prepostos das organizações acima mencionadas, com vocação para as causas sociais.

Em fevereiro último retornei à região de Vitória da Conquista e ao ver a planta industrial instalada no Povoado de Corta Lote, às margens da Rodovia BR-116, vibrei com a conquista dos cooperados. Quem duvidou da capacidade deles errou na avaliação. Foi, de fato, um grande presente para este entusiasta. Os impactos negativos sobre a atividade, promovidos pela longa estiagem, não impediram a produção da indústria nos anos 2011, 2012, 2013 e 2014. Fico sem entender porque exemplos como este da COOPASUB não entram na pauta do noticiário dos grandes jornais e das redes de televisão aberta.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ademarJORRO DE MENTIRAS

Toda vez que a grande mídia produz manchetes sobre o mercado afirmando que ele “aceitou ou não aceitou” tal medida, pode ter certeza que tem um especulador ou um grupo de especuladores bancando o noticiário.

Ao indicar o nome de Aldemir Bendine para presidente da Petrobrás, a Presidente Dilma viu pipocar notícias sobre o desencanto do mercado e dos investidores com a escolha do executivo, oriundo do Bando do Brasil.

Bendine assumiu a presidência do maior banco do país em um momento de extrema dificuldade para a instituição. Seu antecessor bateu de frente com o Palácio do Planalto, ao negar-se atender determinação do Presidente Lula de que para enfrentar a crise mundial e incentivar o consumo no Brasil, insistia na aplicação da perigosa receita: oferta abundante de crédito e redução dos juros.

Em meio às críticas, o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, estrela do governo tucano à época das privatizações, afirmou: “Neste momento o que a Petrobrás menos precisa é de quem entende de petróleo, o problema é financeiro e um homem de finanças pode ser a solução”.

A fragilidade atual do governo forneceu o ambiente propício para as criticas e os especuladores financiaram o movimento, mas, em outros momentos, pessoas estranhas ao mundo do petróleo ocuparam a presidência da estatal.

O presidente Médici nomeou para Petrobrás o General Ernesto Beckmann. Geisel, que enfrentou a famosa crise do petróleo no início da década de 1970, saiu-se tão bem que foi escolhido para assumir a presidência da República, em 15.03.1974.O Príncipe FHC foi mais além e entre outros nomeou para estatal do petróleo, economista e banqueiro Francisco Roberto André Gros e –pasmem- o francês, nascido em Paris em 1949, Henri Philippe Reichstul graduado em economia e administração de empresas.

Como pode ser percebido, a balela “aceitação do mercado e dos acionistas” não encontra lógica no mundo real; advém do mundo da especulação. O problema transita ainda no universo petrolífero que é controlado pela turma do turbante das arábias, sob olhar inerte da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo, tão manipulada quanto a ONU – Organização das Nações Unidas.

Os reais problemas da Petrobrás são a falta de vergonha dos controladores dos mais importantes processos da estatal e as obrigações assumidas por força da Lei 9.478/97, a chamada Lei do Petróleo, que acoberta a remessa de lucros gerados na imensa riqueza do petróleo para especuladores internacionais. A convivência de tal regra com a Lei das Licitações a 8.666/93, é complicada. É o mesmo que engessar um pé e disputar uma corrida de cem metros com o jamaicano Usain Bolt. Burocracia e competitividade para andar juntas criam arestas e nas arestas os corruptos e corruptores deram as cartas.

O novo presidente da Petrobrás deveria suspender todas as verbas publicitárias da empresa, uma vez que, a mesma mídia que sangra a estatal com gordas cotas, escreve contra seus interesses jogo duplo sacana e imoral.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELOUTRA CIDADE?

Sem qualquer resquício de dúvida, Afogados da Ingazeira é uma cidade com poucas características da cidade que deixamos em janeiro de 1982. Comprovamos esta tese ao visitarmos a “Princesa do Pajeú”, em janeiro.

Hoje, Afogados dispõe de farta oferta de serviços médicos e odontológicos, seu comercio é diversificado e existem lojas caracterizadas com “layout” de vanguarda, inclusive algumas franquias.

É saudosismo sem sentido buscar hoje o que deixamos há três décadas. É possível que os gostos atuais sejam diferentes dos “nossos”, no entanto, a leitura correta é saber que estamos em outra época; as ofertas surgem de acordo com as necessidades, é a evolução natural. Para alguns, evolução para baixo, que não é o nosso caso. Citamos nesta abordagem dois eventos realizados durante e período que estivemos na cidade:

Nos dias 09 a 11.01.15 houve a “Afogareta” ou “Arerê”, carnaval fora de época, que segue à risca o jeito baiano de fazer festas de rua. Podemos até não concordar com a “qualidade musical”, mas, daí dizermos que não é uma grande manifestação popular, a distância fica do tamanho da animação dos foliões.

De 15 a 18.01.15, a cidade recebeu os “Dragões do asfalto” no 14º Encontro de Motociclistas. Neste evento, além da exposição das máquinas, destacamos a contagiante animação dos motoqueiros. O fato de uma das atrações musicais ter apresentado um autêntico forró pé-de-serra deu ao encontro um gosto de “sertão nordestino”. Se a Rota 66 é musicada com ritmos americanos nada mais justo que no sertão do Pajeú tocarmos nosso forró de raiz.

Esta é cidade do século XXI, precisamos nos adaptar a ela. Criticar sua forma e seu conteúdo é malhar em ferro frio. Cabe, no entanto, um lembrete para reflexão. Mariana, artesã de mão cheia e torcedora símbolo do Barcelona de Magno Martins, ao ver a festa do centenário de Lourival Batista, nos dias 02 a 06.01.15, em São José do Egito, fez o seguinte comentário: “Ademar quando Afogados da Ingazeira fará algo parecido para em favor de figuras ilustres que aqui nasceram?”.

A neta de Guaxinim tem razão. A “Princesa do Pajeú” é descuidada com seus filhos. Poucos, na geração atual, sabem quem foi Guardiato Veras, Possidônio Gomes, Bernardo Ferreira, Dinamérico Lopes, etc. Jamais poderemos permitir que as gerações futuras não saibam que Deinha, Maria Dapaz e Yane Marques gravaram e continuam gravando, no caso das “meninas”, o nome de Afogados da Ingazeira no cenário mundial.

Neste sentido temos que evoluir. Às figuras citadas podem ser adicionados outros afogadenses cujos feitos merecem destaque.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ademarTRISTE ENREDO

Em 1982 conheci a Escola do Sítio Forte, localizada na praia do mesmo nome na Ilha Grande, município de Angra dos Reis no Estado do Rio de Janeiro. Nos anos 80 referida escola que também atendia crianças das praias vizinhas, chegou a contar com trezentos alunos.

As tias Celma, Cidoca, Erlei, Fátima e Maria do Carmo fixaram residência na comunidade, trocaram experiências e deram atenção aos alunos em tempo integral. A especulação imobiliária e os novos tempos expulsaram os nativos das diversas praias da Ilha Grande para o continente e as professoras também tomaram outros rumos uma vez que os alunos foram ficando raros.

Em janeiro deste ano retornei ao local e deparei-me com a mesma escola que conheci cheia de crianças com somente dez alunos e uma única professora. Por saber que este fato tem ocorrido na esmagadora maioria das escolas rurais do Brasil outro fato chamou minha atenção. Na escola reformada em 2004 foram introduzidas grades em todas as portas e janelas.

Conversando com a antiga zeladora ouvi que o reforço exagerado foi motivado pelas seguidas invasões que a escola sofreu. Isto é, uma escola sendo seguidas vezes invadida na calada da noite e os objetos de valor sendo subtraídos por meliantes.

Como admitir que um ambiente onde é prestado um serviço de alta relevância para comunidade seja assaltado rotineiramente? Sabemos que a escola é a principal concorrente dos bandidos. Crianças tempestivamente instruídas resistem às convocações do mundo cão. Talvez isto motive a desconstrução do ambiente escolar por parte dos criminosos. Quanto maior o número de crianças fora da escola, maior o contingente disponível para o crime.

Mesmo atendendo os alunos somente com ensino básico a Escola Municipal Sítio Forte, que nasceu Estadual, cumpriu sua missão. Alunos daquela unidade galgaram posições de destaque no continente e os que resistiram às tentações externas saíram do analfabetismo nos bancos da instituição. Pena que o ambiente favorável, criado por ações de Brizola e Darci Ribeiro, não tenha perspectivas de volta. As atividades desenvolvidas nos anos 80 são consideradas ultrapassadas pelos modelos atuais. Enquanto isto o ensino segue rumo ao fundo do poço.

Presente na caravana a Professora Marli que participou da instalação da escola, no final dos anos 70. Os olhos da educadora brilharam ao ver a escola. Uma angústia silenciosa alcança todos e tem origem na certeza de que para ensinar é necessário empatia entre educador e comunidade. Isto, presente em passado recente, sumiu. O cuidado com a escola e a educação geradora de conhecimento a partir dos valores locais deixou de ser realidade.

Por: Ademar Rafael

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RAFAELCORRUPÇÃO, DESDE E ATÉ QUANDO?

Sempre que acontecem prisões de políticos ou de empresários envolvidos com corrupção a pergunta acima nos persegue.

O livro “Ética e vergonha na cara”, dos pensadores Clóvis de Barros Filho e Mario Sergio Cortella, apresenta-nos grande elenco de respostas para referida indagação. Apresentam os autores um leque de fundamentos para melhor Compreendermos esse nocivo fenômeno social que se alastra nas organizações públicas e privadas, com maior ênfase para o primeiro setor, contudo, no segundo setor o mal vem se alastrando com força total. Indica-nos a obra que existem remédios.

Para acharmos o “desde quando” é mergulharmos nos quinhentos e quinze anos da história do Brasil. O “até quando” é um caminho longo, construído pelas futuras gerações. A geração atual está tão contaminada que o combate ao mal pode matar, também, o portador da moléstia.

Na história encontramos fatos e dados descritos a seguir, o futuro fica para o momento oportuno, transitar por ele é missão de alto risco.

O pesquisador francês Auguste de Saint-Hilaire, que furtava plantas, insetos e passarinhos em nosso país e enviava para pesquisas na França, nas primeiras décadas do século dezenove, escreveu sobre os negócios públicos no Brasil: “O espírito de inveja e intriga, mais veemente do que em qualquer outro lugar, interpõe-se a tudo quanto se faz, tudo perpetua e favorece o tratante e
desencoraja o homem honesto”. Para o francês a base naquela época era a “intriga e a inveja”, com o tempo outras variáveis foram sendo inseridas para sustentar o ambiente corrupto presente em nossos dias. A lista é infinita.

Trajetória da “menina” corrupção no Brasil: Brasil Colônia, chegou do velho mundo e adaptou-se rapidamente; Império, ganhou jeito de moça e transitou da senzala à casa grande com desenvoltura; República Café com Leite, nadou de braçadas; Governos Getúlio, JK e Jango, virou normalista, rebelou-se e saiu do controle; Governo Sarney, graduou-se; GovErno Collor, fez mestrado; Governo e FHC fez doutorado, ganhou asas (reeleição) e nadadeiras (privatização); Governos Lula e Dilma, massificou-se e foi dos mares (Petrobrás) aos ares (Infraero). Nas ditaduras de Vargas e de 1964 e no Governo Dutra, ninguém viu, um olho estava tapado pelo medo e o outro pela censura. Nos Governos Jânio e Itamar foi para debaixo do tapete, em função de raquítico combate.

Os exemplos tirados com penalidades recentemente aplicadas, mesmo de forma tímida para os moralistas de plantão, construirão um universo com menor espaço para corruptos e corruptores. Tudo dependerá das escolhas das gerações futuras. Nossos netos terão uma nação com alto grau de imunidade às práticas corruptas, assim espero.

Por: Ademar Rafael

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RAFAELTALENTO E AUTENTICIDADE, CÁ DENTRO DA NOSSA PORTA.

O espetáculo musical “A arte de Amália Rodrigues por Maria Dapaz e Mahatma Costa”, realizado no domingo 18.01.2015, entrou para história do centenário Teatro Santa Isabel, na capital pernambucana.

O texto de apresentação do evento, registrado no folder “21º Janeiro de grandes espetáculos”, registra duas definições dadas pela imprensa europeia para Maria Dapaz: “Uma voz de fogo vinda do Brasil” e “Um continente inteiro na voz”. Estas avaliações merecidas legitimam nossa menina para trazer do além-mar a rica obra da eterna musa do fado e reproduzi-la ao seu modo.

Nossa poetisa e cantora maior na abertura do show declarou-se fascinada pela obra da cantora portuguesa, desde sua infância, e afirmou: “Este trabalho não é uma caricatura de uma obra consagrada é uma adaptação com meu jeito e
com meu sotaque”.

Somente artistas com gabarito de uma Fernanda Montenegro ou de uma Marília Pera podem assumir uma responsabilidade desta. Com este espetáculo Maria Dapaz nivela-se à consagrada dupla. Os perfeitos arranjos em parceira com Mahatma Costa elevam o valor da obra reproduzida com o cheiro do Pajeú.

O Teatro Santa Isabel foi perfumado pelas rosas de “Júlia Florista”. Beto do Bandolim e Tonfil juntaram-se a Maria Dapaz e a Mahatma Costa para interpretarem “Só nós dois é que sabemos”, a interpretação hipnotizou o público no primeiro momento e no encerramento do espetáculo. O quarteto pernambucano fez o público vibrar e aplaudir de pé momentos raros de perfeição musical.

No repertório também foram incluídas, entre outras, as músicas: “Tudo isto é fado”, “Cheira a Lisboa”, “Coimbra”, “Nem as paredes confesso”, “Tiro liro liro”, “Canção do mar”, “Ai Mouraria” e “Foi Deus”. Não tenho dúvida que Amália Rodrigues vibrou com as versões apresentadas por Maria Dapaz, a energia que imperou no ambiente sustenta esta tese.

Quando encerrar a turnê em nosso país o público fará uma releitura do talento de Maria Dapaz e os parceiros de palco ganharão a visibilidade merecida uma vez que a idealizadora reconhece a importância deles em suas intervenções durante o show, dando ênfase ao trabalho de equipe.

Ao ganhar o mundo, especialmente a Europa, o espetáculo criará um ambiente fértil para comemoração do centenário de Amália Rodrigues, em julho de 2020.

Até lá os amantes de obras musicais merecedoras de aplausos vibrarão com Maria Dapaz, Mahatma Costa e convidados pelos palcos da vida. Segundo a amiga Leni, nós que tivemos o privilégio de está presente no show de 18.01.2015, temos motivos para agradecer a Deus pelo talento dos músicos e da equipe de produção.

Por: Ademar Rafael

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RAFAELCEM ANOS DE LOURO

Por “encanto” e pela “poesia”, foram montadas em São José do Egito três tendas. Uma representada pela “Bodega Jó Patriota”, outra personalizada no Palco Zá Marinho” e a última materializada pelo Instituto Lourival Batista.

Não por acaso situaram a primeira ao sul em homenagem ao lendário Rio Pajeú, a segunda ao norte trazendo Itapetim para o eixo da festa e a terceira ao oeste na casa em que Louro e Helena recebiam os amigos.

A área sob o tripé imaginário, formado por “pernas” saídas de cada tenda, fez jorrar durante cinco dias, poesia, cultura e manifestação espontânea de uma plateia onde intelectual e iletrado conviveram em perfeita harmonia. Naquele ambiente sobrou paz a poesia afasta a disputa e o individualismo.

Três fatores, no entanto, merecem maior destaque. O primeiro: a forma que as pessoas subiam para ao palco para virar artista e dele desciam para virar plateia. Foi possível ver os netos de Lourival (Greg, Miguel e Tonfil) descerem do palco para aplaudir Maciel Melo e Xangai, tendo sido antes aplaudidos por eles. Da mesma forma Bráulio Tavares após aplaudir Louro Branco e Mocinha da Passira subiu ao palco para ser aplaudido pelos famosos cantadores. O segundo: o caráter de não exclusividade. A festa foi pelo centenário de Louro, mas, nela coube, de forma exemplar, homenagens para Jó Patriota, nos recitais de Noé; para João Furiba nos improvisos de Louro Branco e Mocinha e para João Paraibano, nos sete linhas de Diomedes Mariano e Valdir Teles e na mesa de glosas. O terceiro: o formato da festa. Foi dado vez e voz ao povo. A máxima que a rua é o “maior templo do povo” foi levada a termo sem restrições. Em uma das suas intervenções Antônio Marinho afirmou: “Quando esta festa deixar de ser a manifestação do povo perderá seu sentido. Deixará de ser a festa para Lourival Batista”.

louro11A missa em versos e a vigília poética foram inovações que deram motivos para ratificarmos o pensamento de que o poder de criação dos filhos do Pajeú é ilimitado é singular e plural. As fagulhas poéticas formadas no ambiente foram capazes de furar as nuvens na noite do dia 04 de janeiro. Os pingos da chuva misturaram-se com os fragmentos das rimas e formaram uma matéria inseparável. Densa como o obra do Rei dos Trocadilhos.

Os cantadores Diomedes Mariano, Moacir Laurentino, Severino Feitosa, Valdir Teles e Zé Cardoso fertilizaram o roçado do qual Louro, com poucos, soube extrair matéria prima para sua rica produção poética.

Zé Carlos de Neco Piancó após aplaudir a dupla Dedé Monteiro e Chico Pedrosa desabafou: “Nós não sabemos de nada”. A verdade dessa afirmativa corrobora com a tese de que a produção dos poetas da nossa região é coisa de outro mundo. Que venham as festas 101 (06.01.2015) e 200 (06.01.2116).

Por: Ademar Rafael