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Doutor Aloisio Arruda e Dona Ivone Barros Arruda – O legado em família

Por: Rinaldo Remigio

Quando o fio da vida se estica através do tempo e da memória, ele não se rompe facilmente. Ele se entrelaça, se resgata em lembranças, abraça a história e nos conduz até um ponto que, se não for um ponto final, certamente se parece com um marco. O casal Aloísio Arruda e Ivone de Barros Arruda atravessaram o século XX e adentraram o XXI, plantando raízes profundas na cidade de Afogados da Ingazeira, onde as famílias se misturam e se tornam quase um só ser coletivo. “Em 29 de junho de 2010, como se o tempo quisesse honrar uma trajetória repleta de história e dedicação, “tive a oportunidade de ouvir um depoimento com a voz de Aloísio, sem a câmera a sua frente, mas com a memória viva e intacta, que ele generosamente me permitiu transcrever”, citou Fernando Pires em uma das suas publicações.

Aloísio, nascido em 29 de setembro de 1924 em Cabaceiras, Paraíba, e Ivone, que veio ao mundo em 23 de julho de 1927, em Afogados da Ingazeira, viveram um amor que não se desfez com o passar dos anos. Cada um com sua origem, mas ambos com a mesma paixão pelo sertão, por suas famílias e pela cidade que, no fundo, abraçaram com uma intensidade que só quem viveu aquele tempo poderia compreender. Aloísio, nascido na fazenda Riacho Grande, e Ivone, natural de Afogados, uniram suas vidas em um casamento celebrado em 4 de setembro de 1955, na Catedral do Senhor Bom Jesus dos Remédios. Ele com 31 anos, ela com 28, ambos repletos de sonhos, esperanças e a certeza de que o destino já havia os escolhido.

Antes de conhecer a jovem Ivone, Aloísio atravessou caminhos não tão fáceis. Seu trajeto, que começou em Cabaceiras, seguiu por Surubim, Limoeiro, Recife, até que ele se apaixonasse, finalmente, por Afogados da Ingazeira. A cidade que conheceu por meio de um amigo do Recife, o Heraldo Reis, mas que ao conhecê-la, logo se tornaria seu porto seguro. Era 1949, ele ainda jovem e com um futuro promissor pela frente, mas o sertão o chamava. Logo, ele montaria o seu consultório odontológico e passaria a tratar não só de dentes, mas de histórias, sorrisos e até de destinos.

Sua dedicação ao trabalho e à cidade era inquestionável. Mas, como toda história de amor que se preze, o seu encontro com Ivone não foi algo previsível. Ali, no calor das festas de final de ano de 1949, as mesas ao lado da igreja e o espírito natalino já indicavam que algo grande estava prestes a acontecer. Ivone, com seu jeito cativante, e Aloísio, com sua simpatia, logo se tornaram inseparáveis.

No caminho deles, nasceram seis filhos: Alexandre, Valéria, Verônica (minha colega no Colégio Normal), Aloísio meu (amigo de infância/adolescência), Isabel e Ana Tereza, formando uma família que seria marcada pela educação e pelo cuidado que ambos sempre dedicaram aos filhos, à cidade e à sociedade. O lar onde viveram, construído por dr. Herbert de Miranda Henriques, médico da cidade, foi o palco de várias histórias e vivências. A casa foi testemunha das tardes de escola, das conversas de família, dos risos e das dificuldades. A cidade também teve papel essencial na construção dessa família. Afogados, com seu jeito tranquilo, mas com uma rica vida cultural, assistiu à educação de tantos jovens através do ensino de Aloísio, que lecionou matemática e participou ativamente de instituições da cidade.

E não é só o consultório e a sala de aula que Dr. Aloísio ocupou, foi meu professor de matemática, diga-se de passagem, um excelente professor. Ele se tornou uma figura de respeito na cidade. Secretário da Prefeitura Municipal de Afogados da Ingazeira, secretário da Escola Normal Rural, diretor do ACAI e fiel da Companhia de Armazéns Gerais do Estado de Pernambuco, Doutor Aloísio soube como poucos assumir responsabilidades com a mesma dedicação que tinha ao cuidado das pessoas. Mas, o que fica na memória dos que o conheceram não é só o homem público. É o homem que amava sua terra, que gostava de um bom papo no bar de Aurélio Pires, com amigos como os médicos Dr. Hermes e Dr. Serpa, e que, nos momentos mais simples, parecia despretensioso, mas sempre com um sorriso que dizia mais do que palavras poderiam expressar.

Agora, após a partida da D. Ivone, que nos deixou em 28 de janeiro de 2018, o Dr. Aloísio seguiu seu caminho sem ela. Dez meses depois, no dia 22 de novembro de 2018, ele partiu também, deixando para trás um legado de amor, trabalho, história e família. Juntos, agora, seus corpos descansam no cemitério São Judas Tadeu, onde o tempo parece se transformar em lembrança e a saudade se torna uma presença constante nas famílias que os conheceram.

A história do Dr. Aloísio e D. Ivone é um retrato não só de um casal, mas da própria cidade de Afogados da Ingazeira. É a história de como, com amor, dedicação e trabalho, duas pessoas podem deixar uma marca indelével em suas famílias e em suas comunidades. Eles não só construíram uma família, mas também ajudaram a construir um pedaço da história de todos os que tiveram o privilégio de compartilhar com eles esse pedacinho de vida.

E é através das histórias contadas, das lições passadas e do amor que se perpetua, que eles continuam a viver, nos corações daqueles que tiveram a felicidade de cruzar seus caminhos.

*Administrador, contador, historiador e professor universitário
Fonte: Fernando Pires, Blog do Finfa e alguns amigos.

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