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Milei presidente: a Argentina continuará barata para brasileiros?

Propostas radicais do economista ultraliberal são cercadas de imprevisibilidade, algo que o investidor (que controla o câmbio) odeia. No curto prazo, peso argentino deve sofrer e manter a conversão favorável; no longo prazo, argentinos esperam estabilização da economia.

Javier Milei, novo presidente da Argentina, toma posse em dezembro para mandato de quatro anos. — Foto: Natacha Pisarenko/AP

g1 — A eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina deve trazer dias de apreensão no mercado financeiro local, com efeitos notáveis no câmbio. O peso argentino teve uma perda expressiva de valor durante a disputa, e a confirmação de que propostas ousadas do economista ultraliberal serão levadas a cabo podem agravar uma situação já difícil.

A desvalorização da moeda nacional veio acompanhada de um combo de problemas macroeconômicos, que inclui uma inflação altíssima (mais de 140% em 12 meses), falta de reservas em dólar, endividamento e aumento da pobreza. Por outro lado, criou um fenômeno turístico: uma legião (ainda maior) de turistas brasileiros no país vizinho.

Se o peso argentino vale menos, o real fica mais poderoso. O dólar blue, principal cotação paralela da moeda americana, subiu mais de 207% em 12 meses. Da casa dos 370 pesos em janeiro, chegou a 1 mil pesos pouco antes das eleições.

“O câmbio nesse patamar possibilita um upgrade nos serviços, com excelentes hotéis, restaurantes, vinhos e passeios a custos abaixo do que normalmente teriam. Isso já aconteceu outras vezes e sempre que ocorre, vemos a demanda aumentar”, diz Marina Figueiredo, presidente executiva da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa).

O cenário vantajoso de conversão de moeda consolidou Buenos Aires como um dos principais destinos turísticos dos brasileiros em 2023, diz a entidade. E a incerteza causada pelas propostas de Milei geram aversão em investidores e podem ampliar as perdas do peso argentino, em especial no início do governo.

Economistas ouvidos pelo g1 dizem que as medidas radicais propostas pelo novo presidente, como dolarizar a economia e extinguir o Banco Central, têm riscos claros para a política econômica e precisam de ampla adesão do Congresso, o que Milei ainda não demonstrou que terá.

“Milei confirma que pretende seguir com a dolarização, mas não há nada concreto, nem um plano do que deve ser feito. Isso demanda uma emenda constitucional, como foi feita no Plano Cavallo, nos anos 1990”, lembra o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.
“Precisaria de um cenário fiscal muito mais equilibrado e uma força política muito grande no Congresso para aprovar essas medidas. E ele está muito distante de ter isso”, afirma.


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