Nunca antes na história desse País …
A matéria de hoje traz como “pano de fundo” um editorial econômico escrito por Thais Herédia, colunista da Globo News, especialista em Economia e Politica. Aquela frase cunhada pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva é perfeita para descrever muitas situações no Brasil – pena que para o lado negativo. “Nunca antes da história desse país” tivemos um presidente da República denunciado no exercício do cargo, nunca tivemos uma recessão como a que passamos nos últimos três anos, nunca tivemos tantos empresários e políticos na cadeia, nunca testemunhamos tamanho esquema de corrupção envolvendo todos os grandes partidos nacionais – todos, sem exceção, inclusive o próprio Lula que está denunciado em seis investigações.
Num paradoxo também nunca visto, “nunca antes na história desse país” vivemos sob uma conjunção de fatores econômicos como o atual. Temos uma economia extremamente frágil, com destruição de fontes geradoras de riqueza provocada pela maior recessão do século, um desemprego recorde na era da moeda estabilizada e, ao mesmo tempo, inflação convergindo para abaixo da meta oficial depois de 7 anos na banda de cima, abrindo espaço para uma redução dos juros de forma mais permanente e sustentável. A correlação entre a recessão e a queda da inflação é alta, já que a primeira abala a demanda e não pressiona a oferta. Mas ela deveria perder força diante do quadro fiscal absolutamente desequilibrado e com potencial explosivo. Temos um Estado que pode caminhar para insolvência se não houver uma profunda reforma do sistema previdenciário, com revisões radicais de direitos concentradores de renda,
aberrações que favorecem fraudes e distorções atuariais.
Voltando ao paradoxo, “nunca antes na história desse país” tivemos uma crise aguda na política sem enfrentar risco externa na mesma intensidade. O Brasil já “quebrou” ou “quase quebrou” algumas vezes no passado e o gatilho foi sempre o risco externo. A fuga inevitável de investidores elevava a taxa de câmbio a níveis insustentáveis, ameaçando empresas endividadas em dólar e também o setor público – a Petrobras serve de exemplo, já que tem dívida altíssima em moeda estrangeira.
Desta vez, como “nunca antes”, estamos enfrentando o caos interno com um baú lotado de reservas internacionais, cerca de US$ 375 bilhões, uma balança comercial positiva e em alta, e um déficit em conta corrente baixíssimo, que não impõe ameaça alguma à saúde financeira do setor privado ou público. Claro que o reequilíbrio da economia internacional, a recuperação dos preços das commodities – especialmente durante a nossa super safra agrícola – a volta da demanda Argentina pelos nossos industrializados, estão fazendo toda diferença na construção deste quadro. Mesmo assim ainda preocupa.
“Nunca antes na história desse país” tivemos uma condescendência tão forte do mercado financeiro com Brasília. Mesmo diante do circo pegando fogo, os ativos seguem minimamente estáveis. Quem responde por isso é também um fator inédito no Brasil. A formação de uma equipe econômica de excelências reconhecidas publicamente não só por sua competência, mas por sua credibilidade. A visão unificada sobre as necessidades do país e as formas de endereça-las – que se equivalem à dos representantes e gestores do mercado – é outra fonte de equilíbrio. Enquanto esta equipe estiver lá, este “nunca antes” vai prevalecer.
O que não dá para saber ainda é quanto vai nos custar este caminhão de ineditismos – tão graves para política e para as instituições nacionais e tão positivas para os fundamentos da economia. Enquanto o país sangrar diariamente diante da barbárie de Brasília, vai ser impossível calcular o tamanho da conta. Mas ela chegará, como sempre na história deste País.
Danizete Siqueira de Lima – Afogados da Ingazeira-PE – julho de 2017