Superação é a palavra de ordem
Endossando as palavras de um editorial que lemos recentemente, caso não surja um fato novo que o impeça de governar, o atual presidente tem cerca de dois anos para cuidar dos problemas acumulados em mais de uma década. É como se fosse um governo de meio mandato que tem de se superar sem perda de tempo. Começando pela revisão do modelo de repartição de poder consagrado na aliança entre o PT, o PMDB e demais siglas. Um modelo pernicioso, cuja fórmula em muito contribuiu para o impeachment da ex-presidente Dilma. Não existe a menor dúvida de que as bases da governabilidade daqui para frente devem ser outras, assim como a relação entre os poderes. A fragilização dos laços entre Executivo, Legislativo e Judiciário no governo Dilma foi uma das causas da crise política que deixou Brasília, por mais de um ano, em estado de letargia. Se não conseguir escapar do modelo viciado, Temer não terá condições de viabilizar as reformas e mudanças que a nação espera.
As primeiras palavras de Temer como presidente foram de reconhecimento dos desafios. O que é bom. A situação delicada em que o país se encontra não pede panos quentes. Para gerar empregos, recompor as finanças, recuperar a gestão e os serviços prestados pelo Estado, e restabelecer a confiança na população e no mercado, trazendo de volta os investimentos, Temer não pode querer “dourar a pílula”.
Muito há que ser feito e, nesse meio, nem tudo deverá agradar a todos. A transparência das propostas necessita deixar claro os propósitos, onde se quer chegar e quais os custos. Polêmicas surgirão, e terão que ser devidamente encaradas, não apenas pelo novo governo, mas principalmente pelo Congresso, além da representação da população, como governadores, prefeitos e parlamentares estaduais e municipais. A superação, nesse instante, é uma meta nacional, e não apenas do governo Temer.
O peso da responsabilidade é enorme, proporcional ao tamanho das questões que demandam respostas urgentes. A aprovação de um teto para os gastos públicos, limitando o reajuste à inflação do ano anterior, será um sinal de seriedade da disposição do novo governo. Em suma: só se gastará um centavo a mais se houver arrecadação para isso. Dessa forma, ficariam para trás as mágicas orçamentárias e a irresponsabilidade fiscal. O outro passo, não menos importante, será a reforma da Previdência – (que representa mais de 40% das despesas da União – o controle dos gastos permitiria a redução da dívida pública, que ameaça bater na casa de 50% do PIB em 2017.
As prioridades evidenciam a dimensão dos desafios: arrumar a administração decomposta pelo aparelhamento político, pela corrupção e pelo desleixo, e alavancar a economia para produzir resultados concretos para a população. Pode ser muito bonito como está no papel, mas, haveremos de convir, não há outra saída. Para vencer as múltiplas crises, o governo Temer terá que se desdobrar, mantendo o foco nas metas estabelecidas, além de superar as provocações políticas que continuarão como único propósito de tentar barrar o seu caminho.
Danizete Siqueira de Lima – Afogados da Ingazeira – PE – outubro de 2016.