A rotina de cuidar do lar e das crianças ou ser diarista em casa de família não existe mais para dezenas de mulheres do Sertão de Itaparica. Muitas trocaram o trabalho doméstico por uma atividade até bem pouco tempo de exclusividade masculina, a piscicultura, e mudaram suas vidas. Apoiadas pelo ProRural, as piscicultoras conquistaram o mercado de Tilápia na região e chegam a produzir até 17 toneladas do peixe por mês.
Em Jatobá, a rotina da Associação São Sebastião do Sítio Umburana (ASSSU), o primeiro projeto a receber financiamento do Banco Mundial da ordem de R$ 236 mil, não é fácil. Para cuidar dos 60 tanques de rede cheios do pescado as mulheres precisam pegar no pesado, mas a compensação vem nos ganhos financeiros e de auto-estima do grupo. A maior parte das mulheres não tinha renda ou recebia uma média de R$ 50,00/semana fazendo faxina ou sendo babás. Hoje, as mulheres chegam a ganhar dois salários mínimos por mês, mais do que a maioria dos maridos consegue tirar de remuneração.
“A conquista do espaço foi difícil, porque a mulher era vista como mão de obra secundária na piscicultura e fazia apenas o trabalho manual como a retirada das vísceras. Nós mostramos que somos capazes de despescar 3 mil quilos em até uma hora e meia, enquanto alguns grupos de homens não fazem nem a metade disso. Aqui, quando uma não consegue pegar sozinha o saco de 25kg de ração pegamos de duas, mas não desistimos”. Comenta a presidente da ASSUR, Alexandra Gerônimo da Silva.Segundo a associada Eleonilde da Cruz a mudança na vida das mulheres piscicultoras foi além da rotina diária e do quanto ganham, muitas não acreditavam nem nelas mesmas. Elas passaram a se valorizar, serem valorizadas e já conseguem ver uma mudança cultural nas relações de gênero. “Depois que muitas passaram a vir para o projeto em escala de 24h de trabalho por 24h de descanso, os maridos começaram a cuidar das tarefas domésticas, coisa que nunca fizeram”.
Quando estão reunidas elas tratam dos assuntos administrativos, mas já não se descuidam de si próprias. Com muito bom-humor falam sobre assuntos como saúde, moda, beleza, política e estão sempre cuidando umas das outras. “Aqui não aprendemos apenas sobre piscicultura, mas, principalmente, sobre a vida e o que somos capazes de fazer com ela. Finaliza Eleonilde”