Um dos secretários mais próximos do governador Eduardo Campos (PSB), Milton Coelho é um homem de poucas palavras. Mas quase tudo o que diz, entretanto, é interpretado como uma reprodução fiel do pensamento do líder. Afinal, os dois convivem há três décadas. Nesta entrevista ao JC, Milton comenta a conjuntura nacional, defende a prioridade do projeto nacional do PSB e alerta colegas pré-candidatos ao governo de Pernambuco a ter mais cautela nesse momento. Confira a entervista:
JORNAL DO COMMERCIO – Existe a grande indagação de quem vai comandar o projeto (nacional do PSB), se o governador Eduardo Campos ou a ex-senadora Marina Silva…
MILTON COELHO – Você está falando de pesquisas. As sondagens apontam Marina com um percentual maior do que o governador, por questões objetivas: ela já disputou uma eleição nacional, obteve 20 milhões de votos. Ela teve, portanto, o processo de exposição intensa que uma eleição presidencial proporciona, e Eduardo não. Mas quando foi feita a aliança, ela mesma tratou de deixar bem claro qual era o papel dela na aliança. Ele (Eduardo) será o candidato. Nós estamos trabalhando para construir e consolidar essa candidatura.
JC – Pode ser a chapa Eduardo-Marina?
MILTON – O que foi discutido é que isso só será discutido em março ou abril. Agora você não pode começar – e aí vai ser um ponto mais adiante que é o reflexo dessa aliança aqui em Pernambuco –, nós não podemos começar pelo fim. Não podemos começar a discussão de um projeto nacional pela chapa completa. Essa chapa vai ser resultado e produto de todos os debates, da formulação de um pensamento, de um programa de governo. Fica estabelecido como premissa de que o candidato a presidente será Eduardo Campos. Nós trabalhamos com um projeto político que não é qualquer coisa, é governar o País mais importante da América do Sul, então não podemos ter tamanho grau de improviso que nos leve a, cinco meses antes da eleição, não saber quem vai liderar o projeto. Essa é uma definição básica e já está posta de forma muito clara para a sociedade brasileira.
JC – Nós sabemos que as pesquisas orientam as tomadas de decisão do governador Eduardo Campos. O que vai acontecer se elas indicarem que Marina tem preferência de maioria dos eleitores?
MILTON – Nós trabalhamos com pesquisas, mas também com objetivos estruturados. Eles significam que o PSB e o Rede e mais forças que venham a se agregar neste projeto terão que dar o espaço para que, em determinado momento, o nosso candidato apresente nas pesquisas o resultado que dele se espera. Nós temos segurança que isso vai acontecer no tempo, e o tempo não chegou ainda.
JC – Partindo para questão local, qual o reflexo da estruturação do projeto nacional na eleição em Pernambuco?
MILTON – Tancredo disse certa ocasião que tinha aprendido na vida que o caminho ficava muito mais fácil quando a gente, ao invés de ficar contra alguém ou alguma ideia, nós posicionássemos em favor de alguém ou de alguma tese. Eu vou me posicionar em favor de uma tese. Não é simples, tão pouco irrelevante o momento político que o PSB e Pernambuco vivem. É a primeira vez na história que uma liderança política local, a partir de Pernambuco, é colocado no centro de uma discussão sucessória nacional e no momento ímpar para o País: o pós-Lula, o fechamento de um ciclo. Pernambuco está aí colocado diante desse desafio de construir a candidatura de um pernambucano para presidir o Brasil. Então, essa é a prioridade. Não devemos correr o risco de nos deixar seduzir pelos desejos individuais e inverter a ordem das coisas. Nosso momento agora deve ser de dedicação integral à tarefa complexa de estruturar o projeto integral do governador.
JC – Essa movimentação política que o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho tem feito pode comprometer?
MILTON – Estou defendendo uma tese. Estou me posicionando em tese. Nesse momento não devemos nos deixar seduzir pela aparente facilidade de disputar uma eleição com o conforto de ter um legado de governo que Eduardo Campos está deixando. Mas nós devemos nos preocupar com aquilo que é mais importante nesse instante: que é nos dedicar, todos, à complexa tarefa de organizar e acumular forças para que o projeto nacional do PSB, liderado pelo governador, seja vitorioso. Não é o momento de nomes. É um momento decisivo e que dele dependerá o sucesso ou não do nosso projeto. Nesse instante e depois de definido o projeto nacional. Veja que nós apenas iniciamos a discussão da nossa primeira aliança estratégica que é o Rede. Temos outras tarefas a cumprir para agregar as forças necessárias e vencer as eleições. E só depois, até como consequência do cumprimento dessas tarefas, devemos nos debruçar sobre a questão local. Essa discussão nacional é definidora da sucessão em Pernambuco, e não o contrário. O que nos preocupa neste instante é um certo açodamento e que já se discute abertamente até nome de vice. Eu sinto que há um certo açodamento e nós precisamos assentar os espíritos. Ter clareza do tamanho dos nossos desafios e para esses desafios que nós devemos dirigir as nossas energias.
JC – Esse açodamento pode prejudicar?
MILTON – Evidente. Acho que é uma inversão de ordem e toda inversão de ordem pode trazer consequências às nossas tarefas principais. Não se trata apenas de alguém ganhar ou perder, mas se trata de pôr em risco, de comprometer o principal em detrimento de uma questão que virá como consequência. Não foi à toa que uma das atitudes políticas mais importantes que Eduardo executou em Pernambuco foi construir a chamada paz pernambucana – evitar o excesso de pequenas disputas para que o Estado estivesse unido em função de um projeto nacional. Nós que temos a responsabilidade de conduzir, junto com ele (Eduardo), esse projeto não podemos nos atrapalhar embutindo no projeto nacional, fazendo eclodir pequenas disputas locais. Seria uma inversão da ordem. Isso diante do grande desafio que nós estamos colocados? Diante do desafio de fazer pela primeira vez na história uma liderança pernambucana se tornar o condutor de um processo político nacional. Esse é o nosso desafio. Cumprida essa tarefa, a disputa Pernambucana virá como consequência. Pode dispersar energias importantes. Eduardo sabe que ao mesmo tempo que você coloca o processo fora de ordem, coloca o governador numa situação bastante delicada, que é de ter a atribuição, além de tantas outras, e fazer parecer que ele está tirando do próprio colete um nome que será ungido por decisão individual dele.
JC – A atuação de alguns atores pode colocar, então, o governador numa situação delicada. Mas ele espera que os atores diminuam (as movimentações)? Ele vai dar os sinais?
MILTON – Acho que o governador é um político experimentado e saberá como conduzir o processo – que somente a ele cabe – e dar o desfecho no momento que ele entender que está maduro para isso, que acumulou na discussão o suficiente para isso. O que pode ter como efeito colateral dessa alteração de ordem das coisas é o desfecho que pode provocar uma desarrumação das nossas forças políticas. Mas reafirmo a confiança que todos nós do PSB temos na condução do governador Eduardo Campos e que ele saberá corrigir os rumos desse processo. O ideal é que nós, seus liderados, saibamos e tenhamos a capacidade de entender qual é o nosso desafio fundamental que, reafirmo, é a estruturação do projeto nacional.
JC – Então o governador é de fato candidato à Presidência e não ao Senado como alguns ainda avaliam?
MILTON – Ele foi amadurecendo essa posição ao longo do último ano. Inicialmente tinha demonstrado dúvidas, mas as manifestações do partido e da sociedade o deixaram confortável para se colocar como candidato a presidente. Estamos fazendo a construção de um projeto, temos um legado a apresentar ao povo e um bom programa de governo está sendo pensado para atender às demandas do povo brasileiro.
JC – O fato de Eduardo, disputando a Presidência, não poder estar muito presente na eleição do Estado como ocorreu no Recife, em 2012, o obriga a escolher um candidato que tenha mais condições políticas de exercer a função?
MILTON – Sem dúvidas será uma eleição diferente. Será no Estado uma eleição atípica, já que o governador não poderá estar presente o tempo todo como ocorreria se ele não estivesse disputando uma eleição presidencial. Mas o que de mais importante Eduardo deixa é um legado que vai alavancar a candidatura de quem seja o escolhido. Ele tem um conjunto de realizações que vai representar sua importância no governo de Pernambuco, destacando as conquistas nas áreas de saúde, educação e segurança pública, para citar alguns exemplos.
JC – Procede a informação de que ele pode deixar o governo antes do prazo, talvez em janeiro?
MILTON – De jeito nenhum ele sai do governo antes do prazo legal. O governador Eduardo Campos tem o entendimento de que seu governo vai até dezembro de 2014. Até abril ele vai continuar. Quem conhece Eduardo sabe que ele tem muito apreço pela gestão e isso é o que ele vai trabalhar para preservar até o último dia do seu mandato.
Por: Bruna Serra – Sheila Borges Jornal do Comércio