Em mais de 30 anos de existência, o PT se caracterizou como um partido de cunho popular, de esquerda, e com fundamentações socialistas. Agora, com dez anos governando o Brasil, a legenda se fragmentou. Enquanto em âmbito nacional, a sigla consegue atingir altos índices de aprovação, no cenário local alguns dos novos protagonistas da legenda têm pensamentos diferentes da “velha guarda”, o que acaba levando a conflitos internos, desconstruindo a imagem de um partido “coletivo”. Alguns especialistas dizem que o Partido dos Trabalhadores ainda está ligado à imagem do ex-presidente Lula, e que o Processo de Eleições Diretas (PED) da sigla, deste ano, pode servir para dar um novo caminho à legenda.
Com mais de dez anos à frente da Presidência da República, o PT já é o partido que perdura mais tempo no Palácio do Planalto na história do período democrático do Brasil. A legenda surgiu no começo da década de 80, no fim do período militar, e pregava um discurso contra o conservadorismo e apoio aos movimentos sociais. Com a chegada ao maior cargo majoritário do País, a sigla teve que mudar suas estratégias políticas flexibilizando o compromisso de fazer alianças, diminuindo assim o espaço entre os membros das suas alas radicais.
No papel, o PT pode ser dito como socialista, mas com a aproximação ao mercado econômico, e em um caminho moderado na política interna e externa, a legenda teve que se readaptar ao novo cenário democrático nacional. No próximo dia 20, o partido vai realizar um grande evento para comemorar os dez anos na Presidência da República. Com as presenças do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da presidente Dilma Rousseff (PT) e vários membros da executiva nacional, o partido deve anunciar e discutir propostas sobre o seu projeto democrático.
Para o ex-ministro da Casa Civil e um dos fundadores do partido, José Dirceu (PT), nesses dez anos à frente do Governo Federal, a legenda conseguiu alcançar seus principais objetivos. “O combate à pobreza, a diminuição da desigualdade social, a retomada da soberania do Brasil na política externa, as mudanças na política macro-econômica, crescendo sem entrar em recessão, tudo isso conseguimos alcançar”, destacou. O petista também comentou que o partido não se afastou dos movimentos sociais e está tentando fazer reformas, dentro da medida que o programa do Governo pode atender. “Nesse período, geramos 17 milhões de empregos no País. É uma grande revolução social, e isso tem seu impacto no campo e em outros grupos menos favorecidos”, afirmou.
Dirceu também comentou o episódio do mensalão (esquema de compra de votos de parlamentares no Governo Lula) que afetou a imagem do PT no âmbito social e político. Ele foi considerado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como um dos protagonistas do esquema e condenado a sete anos e onze meses de prisão por corrupção ativa relativa a pagamento de propina a parlamentares. Para o petista, mesmo com as acusações, o PT não pode interromper seus projetos. “Vamos nos defender com solidariedade e apoio. No final, a Justiça vai vir à tona. Cada um vai responder pelos seus atos. Não há provas sobre essas acusações de corrupção e desvio de dinheiro público. Por isso, o PT tem que seguir em frente”, defendeu-se.
De acordo com um dos membros do diretório nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar, o PT, a longo prazo, ainda pode ser considerado socialista. “A curto prazo, temos a democratização da informação; a médio prazo, as reformas estruturais, como a reforma política, tributária e agrária; e no longo prazo, na reorganização completa, ainda almejamos o socialismo”, explicou.