A Associação Municipalista de Pernambuco convida a todos para a Missa de Sétimo Dia de José Coimbra Patriota Filho, presidente de honra da Amupe. A cerimônia acontecerá nesta, terça-feira, 24 de setembro, a partir das 19h, na Igreja Matriz de Casa Forte – Rua Gerônimo de Albuquerque, 256, Recife – PE
JOSÉ COIMBRA PATRIOTA
(Por Manoel Quirino)
Pernambuco perde um político brilhante e um ser humano vocacionado, que construiu sua carreira política na defesa do interesse coletivo.
Mas quem era José Coimbra Patriota, o deputado Afogadense que partiu precocemente deixando saudade e um legado surpreendente?
Zé Patriota nasceu Pajeú há sessenta e três anos e não saiu do Pajeú nem o Pajeú saiu dele, um sertanejo resiliente, teimoso.
Estudante inteligente e dedicado aos estudos, descobriu na juventude o dom da liderança e da oratória e assim iniciou sua vida política no movimento estudantil e na defesa do interesse coletivo.
Na igreja se aventurava como ator na encenação da Paixão de Cristo e onde houvesse uma causa de interesse do povo, ele se fazia presente.
Do movimento estudantil aos movimentos sociais e sindical e nesse contexto a política partidária tornou-se uma vereda inevitável.
Na política lidava com o povo com humildade, franqueza, desprendimento e elegância e na câmara de vereadores tornou-se admirado e respeitado pelos adversários.
Líder estudantil, sindical, vereador, vice-prefeito, prefeito, líder do movimento municipalista, secretário de estado e deputado estadual – um sertanejo potente.
Viveu e morreu no Pajeú e resistiu à seca, à aridez e às tentações de oportunidades do progresso alheio, mas não se curvou e não se acovardou nem fugiu de sua missão – a política praticada com amor, respeito e ética.
Era um “Patriota”, no sentido literal, verdadeiro e ético da palavra, e levou mais de trinta anos de aprendizado e luta continua e consistente para consolidar sua liderança e seu legado político.
Não misturou religião e política e não abdicou dos preceitos cristãos, que pressupõem amar a Deus e ao próximo como a si mesmo e praticar a verdade e o bem com humildade e sabedoria, e na sua jornada épica não usou a política para fazer fortuna e tampouco fez a política da fortuna, porque seu eleitorado se consolidou pelo trabalho de décadas.
Zé Patriota era um sertanejo resiliente e resistente à adversidade, como a caatinga, com a qual se confundia, com sua capacidade de superação e de ressignificação da vida.
A caatinga resiste a escassez de chuva, não se intimida com as intempéries, descarta a folhagem no verão para conservar a seiva e adormece na estiagem para se proteger do sol escaldante e sobreviver.
A caatinga se preserva no “verão” sertanejo, a mais longa “estação” do ano na região, mas na primeira chuva “molhadeira” desperta da letargia necessária para preservação da flora e renasce revigorada e exuberante.
Do cenário triste e seco do período de estiagem, de repente na manhã ensolarada de um dia qualquer que sucede à trovoada inesperada, a caatinga amanhece viçosa, verdejante e florida, para alegria do sertanejo e das espécies que habitam o ecossistema, surpreendendo com sua capacidade de superação e com a beleza rara do bioma único no planeta.
No coração da caatinga e na noite fresca do primeiro dia de chuva de verão, o sertanejo adormece com a cantiga de sapos, cuja sinfonia no ritmo da natureza revela um fenômeno quase inexplicável de resistência da flora e da fauna e o que se vê é uma reunião de anfíbios que surgem do nada ou não se sabe de onde, num coro sincronizado e encantador.
E o concerto de sapos naquela sinfonia eletrizante da noite fresca da primeira chuva lembra o movimento estudantil, sindical e político e lembra a verdadeira política, a política da harmonia e da preservação da ordem, cuja consequência é o bem-estar do povo, justiça social e cidadania.
E para romantizar o fenômeno, no terceiro dia depois daquela chuva inesperada, a vegetação encanta com sua beleza exuberante e a copa da jurema preta e branca, com flores exóticas que exalam um cheiro puro e doce, lembra o véu de noiva sertaneja no dia de seu enlace matrimonial, num processo natural de união e amor pela preservação da espécie humana.
Zé Patriota era como a própria Caatinga, forte como o tronco do angico e elegante e respeitado como o mandacaru, que encanta por sua aparência destoante da vegetação adormecida na estiagem e intimida por seus espinhos fortes e pontiagudos, mas que na trovoada oferece a mais bela e rara flor da natureza.
Zé Patriota era a voz do trovão que precede a chuva no sertão e a chuva que molha a terra, alegra o sertanejo e anuncia “inverno”, esperança, fartura e vida.
Zé Patriota era a correnteza do Rio Pajeú, cujas águas surgem tímidas no município de Brejinho e descem serpenteando pela caatinga da microrregião, para desaguar no Rio São Francisco em Itacuruba, com destino ao oceano e ao infinito, depois de produzir alegria e fatura no Sertão.
Zé Patriota era a sombra do Juazeiro, a árvore símbolo do sertão, cujas raízes penetram o solo duro e seco, circulam a rocha ou perfuram suas fendas em busca de água nas profundezas do subsolo, para se manter verde durante a seca e produzir a mais aconchegante e confortável sombra sertaneja, a sombra que propicia conforto, felicidade e até romances duradouros e eternos.
Em outras palavras, Zé Patriota nasceu no Pajeú, resistiu às intempéries e a tentações de toda natureza e como a natureza no Sertão, não se omitiu nem fugiu de sua missão de vida: viver a política como instrumento de justiça e não como fonte de poder e riqueza material.
Aqui abro um parêntese para reflexão sobre a jornada desse sertanejo e conterrâneo, para uma manifestação humilde e singela sobre o que penso da política e do futuro, um futuro nebuloso e preocupante.
Zé Patriota levou mais de trinta anos de trabalho de base, de contato com o povo e de aprendizado, para consolidar seu legado, o que é digno de registro e de reflexão.
Zé Patriota resistiu a quase tudo, mas não resistiu ao câncer e, a despeito de todo conhecimento e do apoio e estrutura familiar, Zé não teve tempo suficiente de cuidar da própria saúde, porque sua causa era maior do que seu próprio bem-estar e do bem-estar de sua família.
Sua partida, portanto, não pode ser em vão e seu legado deve ser objeto reflexão e de inspiração dos futuros políticos da região, para que todos compreendam que a política não é ambiente de discórdia, de ódio, de mentiras e de projeto de poder.
Sua partida e seu legado devem ser objeto de reflexão dos eleitores, jovens e adultos, para que todos compreendam que a política é o mais importante instrumento de patrocínio da educação, da saúde, do bem-estar social, da democracia e da preservação do meio ambiente e do ecossistema.
Por fim, um agradecimento especial pelo acolhimento de uma célula de minha família num momento de dificuldade quase extrema, cujo ato solidário e humanista contribuiu para o sucesso educacional e acadêmico da família acolhida, que faz história na educação e na vida pública, fortalecendo um legado familiar de superação e de dedicação aos estudos e ao serviço público.
Missão cumprida, Zé Patriota. Descanse em paz.
Manoel Quirino, Eu em 100 anos não teria feito um discursos melhor para representar José Patriota, você buscou a essência dele Obrigado