Coluna Cena Política – Igor Maciel
Um auxiliar ligado ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), relatou à coluna uma conversa recente que teve com o gestor e que dá a dimensão dos projetos futuros dele.
Segundo essa fonte, João não deveria ser candidato ao governo em 2026 e as justificativas são muito sensatas do ponto de vista político.
A primeira: “não há motivo para pressa”.
Tem tempo
Campos é ainda bem jovem e, se for reeleito na prefeitura da capital em 2024, poderá dizer que já venceu duas eleições majoritárias robustas.
Para ter uma ideia do que isso significa, Jarbas Vasconcelos (MDB) tem seu currículo exaltado por ter conseguido vencer seis eleições majoritárias (duas vezes na Prefeitura, duas no Governo e duas no Senado).
Pois quando Jarbas foi eleito pela segunda vez na prefeitura já tinha mais de 50 anos. João, se eleito, estará com 30 anos.
Paciência
É um feito impressionante para alguém que aproveitou uma herança, sim, mas teve que se fazer político num ambiente que já não tinha o pai em atividade e sem a oportunidade de “carregar malas” para aprender com os mais velhos. Algo que Eduardo Campos teve com o avô Miguel Arraes.
É o primeiro motivo para João não ser candidato em 2026: ele ainda tem muito tempo para isso.
Eleição dura
O segundo motivo é a estratégia da oportunidade. Se tem tanto tempo ainda, por qual motivo João Campos largaria a prefeitura na metade do segundo mandato para disputar uma eleição estadual contra a atual governadora que irá, provavelmente, ser candidata à reeleição, sentada na cadeira, com todos os recursos à disposição?
Estratégia
Eleições contra ocupantes de cargo são sempre muito mais difíceis. Campos estaria largando o mandato no meio para dar um tiro no escuro, enfrentando a busca por voto com uma estrutura infinitamente menor que a adversária. Não seria muito inteligente. E João é, sim, muito inteligente. Quem achar que não, pode se surpreender.
Legado
O terceiro motivo, que surgiu nessa conversa com uma fonte ligada ao prefeito, é da construção de legado. Campos conseguiu algo inédito para a gestão do Recife. Depois de organizar as contas da prefeitura, conquistou um empréstimo de R$ 2 bilhões para investimentos na cidade.
O valor é equivalente a um terço do orçamento anual da cidade. Pode parecer que não, mas gastar dinheiro da forma correta na gestão pública não é fácil e é demorado. Não dá pra usar tudo até a próxima eleição estadual.
Vitrine
Se esse dinheiro pode operar tantas transformações na cidade, representar um grande legado e uma vistosa vitrine, por que abrir mão disso entregando a gestão a um vice para se lançar numa aventura em 2026.
O melhor é terminar o mandato na prefeitura, fazer um sucessor, passar o ano seguinte percorrendo o estado para fortalecer bases e carregando debaixo do braço o exemplo do Recife.
Em 2030 a disputa já será mais tranquila. E Campos nem terá ainda 40 anos.
Fator Raquel
Em todos esses motivos apresentados, é preciso dizer que tudo pode ficar ainda mais difícil se a popularidade de Raquel se mantiver em níveis razoáveis até 2026.
Com a arrumação da casa e com os R$ 3,4 bilhões num empréstimo que a governadora também conseguiu este ano, a aposta nos bastidores é que ela vai crescer e pode fazer um governo vistoso também.
Se for assim, João candidato a governador precisa ficar apenas para 2030 mesmo. E faz todo sentido.