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Crônica de Ademar Rafael

CENTENÁRIO – ZÉ VICENTE DA PARAÍBA

Ontem galáxias “Cultura Popular” e da “Cantoria de Viola” se unificaram para comemorar o centenário do poeta José Vicente do Nascimento, nascido em Pocinhos – PB em 07.08.1922. Defendo a tese de que ninguém, além deles, tem a sublime capacidade de escrever sobre um poeta. Esses seres iluminados, que Zé de Cazuza definiu em livro como “Poetas encantadores”, são detentores de ilimitada capacidade de criação. Definir isto é missão impossível.

Mesmo com essas limitações não poderia deixar esta data passar em branco. O poeta Zé Vicente da Paraíba, que para nosso orgulho residiu no Pajeú em outras cidades de Pernambuco, conviveu com poetas de várias gerações em seus oitenta e cinco anos e nove meses de vida terrena. Conviveu com Antônio Marinho e a turma de atualmente honra a profissão de violeiro, como tanto honrou o filho de Pocinhos.

Quem foi ouvinte de programas radiofônicos sobre cantoria de viola nos anos 1960 a 2000 ouviu Zé Vicente da Paraíba ao vivo ou por meio das suas gravações, afinal ele tem participação ativa no LP “Violeiros” o primeiro do gênero, gravado em 1955 em inúmeros outros títulos.

Com o brilhantismo que caracteriza as suas ponderações, Bráulio Tavares no prefácio do livro de Zé Vicente da Paraíba “Fiz do choro das cordas da viola/o maior ganha-pão da minha vida”, obra organizada por José Mauro de Alencar e publicada em 2009, escreveu: “Querem ver o tamanho da Cantoria de Viola? Vejam este livro, pequena amostra da produção de um poeta que nem sequer é um dos mais famosos de sua arte. Quem conhece Zé Vicente, fora do âmbito dos admiradores da Cantoria? Muito pouca gente, embora – para dar só um exemplo – seus versos sobre a natureza tenham sido gravados por Alceu Valença, Marília Pêra, Ruy Maurity e outros. Zé Vicente, como tantos parceiros seus que figuram nestas páginas, foi em certo momento saudado como pioneiro por ter sido um dos primeiros cantadores a gravar seus versos no vinil. Vejam as ironias da História. O disco de vinil acabou. As gravadoras de discos estão acabando. O mercado fonográfico onde não cabia a Cantoria de Viola está desmoronando em câmara lenta até onde a vista alcança. Os improvisos e os poemas de Zé Vicente, preservados na memória de quem era capaz de entendê-los, ficaram, estão aqui, e serão passados adiante…” e arremata: “Zé Vicente, teu verso está escrito numa tinta que o tempo não desbota.”

Ler este livro é passear sobre nuvens carregadas de poesias. Como minúsculo aperitivo transcrevo a primeira estofe da música “O autor da natureza”, gravada por Zé Ramalho: “O que prende demais minha
atenção/É um touro raivoso numa arena/Uma pulga do jeito que é pequena/Dominar a bravura d um leão/Na picada ele muda a posição/Pra coçar-se depressa com certeza/Não se serve da unha nem da presa/Se levanta da cama e fica em pé/Tudo isso provando o quanto é/Poderosa e suprema, a natureza…” Poema feito em parceria com Passarinho do Norte.


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