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Em evento do PL, Bolsonaro diz que disputa política no país não é da esquerda contra a direita, mas do ‘bem contra o mal’

Por Guilherme Mazui e Alexandro Martello, g1 — Brasília

O presidente Jair Bolsonaro discursou na manhã deste domingo (27) no encontro nacional do partido dele, o PL. Bolsonaro afirmou que a disputa política no país não é da esquerda contra a direita, mas do “bem contra o mal”.

“O nosso inimigo não é externo, é interno. Não é luta da esquerda contra a direita. É luta do bem contra o mal”, disse o presidente.

O PL informou que a finalidade do encontro nacional da sigla era estimular a filiação de novos membros. O receio do PL era que o ato pudesse ser apontado na Justiça como campanha eleitoral antecipada. Mas Bolsonaro disse ao longo da semana passada que seria um evento de lançamento da sua pré-candidatura à reeleição.

Oficialmente, ao longo dos discursos, não houve menção direta à pré-candidatura.

Em uma fala de cerca de 28 minutos, Bolsonaro relembrou sua trajetória como candidato vitorioso em 2018 e exaltou ações do governo. Em determinado momento do discurso, ele disse esperar sair da Presidência da República só “bem lá na frente”.

“O que nós queremos, juntamente com muitos que estão aqui, é deixar e entregar o comando deste país lá na frente, bem lá na frente, por um critério democrático, transparente. [Entregar] o país bem melhor do que recebi em 2019”, afirmou Bolsonaro.

Atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas, Bolsonaro, sem provas, desacreditou os levantamentos: “Uma pesquisa mentirosa publicada mil vezes, não fará um presidente da República.”

Na abertura do evento, em uma fala breve, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto tratou Bolsonaro como “futuro presidente pelo segundo mandato”.

“Quero cumprimentar nosso presidente e nosso futuro presidente pelo segundo mandato”, disse Valdemar.

Aceno para eleitores fiéis
Em seu discurso, Bolsonaro repetiu ideias e princípios que agradam aos seus eleitores mais fiéis e que fazem parte do bolsonarismo radical.

Ele lembrou seu voto a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na ocasião, Bolsonaro homenageou o general Carlos Brilhante Ustra, que comandou a repressão durante a ditadura militar. No período em que Ustra chefiou o DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, foram registrados, de acordo com o relatório final da Comissão da Verdade, ao menos 45 mortes e desaparecimentos forçados.

“Eu não podia deixar um velho amigo, que lutou por democracia, que teve sua reputação quase destruída, sem deixar de ser citado naquele momento”, afirmou Bolsonaro.

O presidente também ressaltou suas ações ao longo do mandato que facilitaram para a população civil o acesso a armas de fogo e à munição. O presidente repetiu seu argumento de que a sociedade armada evita golpes por parte dos governos. Especialistas em segurança apontam que, na verdade, mais armas em circulação aumentam a violência.

“Geralmente as ditaduras começam dentro do Executivo. Eu nunca vi o legislativo dar golpe, o Judiciário dar o golpe. E primeiro se desarma a população de bem. O nosso governo age na contramão disso. Não tem nada para acusar o governo de que nos estaríamos buscando censurar o nosso povo ou censurar a mídia brasileira”, disse Bolsonaro.

O presidente afirmou ainda que, para defender a liberdade e a democracia, tomará decisões “contra quem quer que seja”. Ele não deu detalhes sobre ao que estava se referindo especificamente. Ele disse ainda que conta com um “exército” formado pelos seus apoiadores.

“Para defender a nossa liberdade, para defender a nossa democracia, eu tomarei a decisão contra quem quer que seja. E a certeza do sucesso é que eu tenho um exército ao meu lado. E esse exército é composto de cada um de vocês”, completou.

Mais uma vez, sem apresentar provas, o presidente levantou suspeitas sobre o sistema de contagem de votos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele disse que não consegue entender como Dilma teve “tanto voto dentro do TSE” em 2014.

“O que me motivou a buscar aquele objetivo [concorrer nas eleições de 2018] foi uma reeleição de uma pessoa que não tinha qualquer carisma, que a gente não consegue entender como teve dentro do TSE tanto voto”, declarou Bolsonaro.

Em razão de ataques repetidos e sem provas às urnas eletrônicas, Bolsonaro é alvo de investigações na Justiça. Ele já afirmou, em uma de suas lives, que não tem provas para apresentar. Especialistas e autoridades reforçam que as urnas são seguras e que o voto é aditável.

Corrupção
Bolsonaro também falou de corrupção. Na última semana, o governo viu explodir uma crise no Ministério da Educação, com a divulgação de um áudio do ministro Milton Ribeiro dizendo que, a pedido de Bolsonaro, repassa verbas da pasta para municípios escolhidos por pastores. Surgiram também denúncias de que, em troca da verba do MEC, os pastores cobravam propina dos municípios. A Polícia Federal iniciou investigações.

Em seu discurso, Bolsonaro não mencionou o caso especificamente. Ele reclamou que o “sistema”, “pessoas conhecidas” e “setores da imprensa” buscam “qualquer coisa, qualquer gota d’água, para transformar em uma tsunami”.

Num momento em que o governo sofre pressão para demitir Ribeiro, Bolsonaro disse que todos humanos erram e merecem uma segunda chance.

“Todos sabem como nos portamos, três anos e três meses em paz nessas questões [de corrupção]. Se aparecer [corrupção no governo], nós colaboraremos para que os fatos sejam elucidados. Todos nós somos humanos, podemos errar. Quem nunca errou e está nessa plataforma no momento? E podemos ter, e devemos ter uma segunda chance para voltarmos a ser é úteis para a sociedade”, argumentou Bolsonaro.

Acompanhado de ministros
Mais cedo, ao chegar ao evento, Bolsonaro foi recebido por apoiadores, que tiraram fotos com o presidente. Ele estava acompanhado de ministros, entre eles: Ciro Nogueira (Casa Civil), Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Tereza Cristina (Agricultura), Fábio Faria (Comunicações), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), João Roma (Cidadania) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

Os ministros também subiram ao palco com Bolsonaro, junto com alguns parlamentares e a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Tarcísio, Roma e Tereza Cristina fizeram breves discursos antes do presidente.

O presidente do PL anunciou que dois ministros do governo se filiaram ao partido: João Roma (Cidadania) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia). Eles devem concorrer nas eleições.


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