FRANCISCO DAS CHAGAS ALBUQUERQUE
Por: Ademar Rafael
Durante a época que participei de banca selecionadora de comissionados nas agências do Banco do Brasil, atuei com um colega que afirmava taxativamente: “Ademar, dentro da subjetividades que nos é delegada levo muito em consideração a inteligência musical de um candidato. Nunca encontrei uma pessoa dotada de sensibilidade para música que não seja flexível quanto a adaptação a mudanças e brando na relação pessoal.” Eu, por não ter argumento que negasse o critério do colega, seguia seu raciocínio e garanto que erramos muito pouco em nossa escolhas que eram calcadas em testes objetivos e desenvoltura nas entrevistas.
O critério de seleção indicado no parágrafo inicial ao ser aplicado no amigo Chagas atesta que a tese defendida por Vivi, músico da cidade de Angical na Bahia, está correta. Poucas pessoas conheci que tenha enfrentado tantas mudanças impostas em sua vida com tanta capacidade de superação, a lucidez advinda da memória musical com certeza ajudou.
A sua capacidade de aprender e as habilidades musicais extrapolam qualquer estudo sobre autodidatas. Toca, como poucos, uma dezena de instrumentos de sopro, cordas e teclados. Merecidamente muitos o chamam de maestro. Desde muito cedo, na carreira solo ou nas diversas bandas e orquestras tem dado contribuição excepcional para cultura regional com seu talento e sua extrema disponibilidade em realizar eventos culturais. Com parceiros de Afogados da Ingazeira ou liderando grupo de músicos regionais merece destaque os “concertos” realizados em locais públicos durante a época de natal. Certa vez, durante uma apresentação de Chagas e seus convidados em frente à loja de Horácio Pires, ouvi um visitante dizer: “Quantas cidades no Brasil podem contar com show deste gratuitamente?” Ele mesmo respondeu; “Muito poucas”.
Talvez por confiar em sua massa crítica e manter de pé suas convicções, Chagas é percebido, equivocadamente, como uma pessoa dura em seus propósitos. Quem dele se aproxima com isenção e sem julgamentos prévios descobre o cidadão que ele de fato é. Uma das maiores virtudes de Chagas, sob meu ponto de vista, é sua honestidade. Ele a pratica não com o viés do politicamente correto. O faz por carregar dentro de si conceitos inalienáveis. A ele se você entregar um feixe de lenha e for buscar dez anos depois pode ter certeza que não faltará um graveto. Assim foi em todos os cargos e as funções que exerceu no âmbito público ou privado. Saiu pela porta de frente. Deixando espaço para voltar.
Sempre que nos encontramos temos muito a conversar diante da compatibilidade de ideias e de valores que julgamos inegociáveis. Para alimentar nossa amizade a estes pontos convergentes é adicionada a admiração que Chagas tinha pelo poeta Quincas Rafael, com quem regularmente conversava na calçada da Casa de Pedra, durante o tempo que esteve trabalhando em Jabitacá. Siga nos encantando com sua arte, você meu irmão Chagas é caro para uma legião de amigos.