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Armando sobre excessos nas manifestações em PE: “frouxidão que reflete postura do governante”

O ex-senador Armando Monteiro (PSDB) falou sobre a violência ocorrida no último sábado (29), durante as manifestações no centro da capital pernambucana. Em entrevista à CBN Recife, ele também criticou a polarização do debate no País entre ‘Lula x Bolsonaro’, lamentou o vínculo eleitoral que o Governo Bolsonaro tenta criar com o ambiente militar, o equívoco no discurso do pré-candidato Ciro Gomes (PDT), e destacou a importância de Tasso Jereissati como nome a ser apresentado pelo PSDB para a Presidência da República.

Leia trechos da entrevista:

Sobre a violência nos protestos em Pernambuco

Me parece uma frouxidão na cadeia de comando, que de resto reflete um pouco a postura do nosso governante. E aí, houve excessos, que são absolutamente inaceitáveis, e diante deles o que nos cabe é exigir, junto com a sociedade toda de Pernambuco, que os policiais sejam punidos exemplarmente.

Só tem Lula e só tem Bolsonaro?

Não. Eu acho que há ainda um quadro polarizado, evidentemente, que se dá pela compreensão de que há dois polos que já estão colocados claramente, o presidente Bolsonaro, por razões óbvias, e o ex-presidente Lula, que reabilitado que foi para participar do processo eleitoral, é hoje a figura que representa o campo de oposição ao Bolsonaro.

Mas eu estou pessoalmente empenhado no sentido de que se possa construir no Brasil um outro caminho. Eu acho que a experiência atual, evidentemente, não aconselha a reeleição do presidente Bolsonaro, pelas razões que todos nós conhecemos, e por outro lado eu acho que o ex-presidente Lula, ainda que reconhecendo o seu legado, particularmente em relação a algumas conquistas daqui da região, e a uma ação importante do ponto de vista de alguns programas sociais que foram implantados no Brasil, ele já teve a oportunidade de servir ao País.

Agora, nós temos de buscar um caminho novo, que possa nos permitir ter uma melhor compreensão dos desafios que se colocam no futuro. Acho que é um tempo desafiador esse que teremos, e creio que não seja bom olhar isso pelo retrovisor. Acho que é tempo de tentar construir um caminho novo, e nesse sentido eu desejo que o Brasil possa construir esse caminho.

As reformas tributária e administrativa travaram?

Eu acho que sim. A janela vai ficando cada vez mais estreita. Nós temos um ano Legislativo já curto, em função de tudo o que aconteceu, em função do problema da pandemia, e acho que a própria CPI de alguma maneira se reflete no andamento do trabalho legislativo. Mas me parece que em relação a estes dois temas, o Governo nunca deu um sinal muito claro, na minha opinião, de que ele queria efetivamente avançar, por exemplo, no tema da Reforma Tributária. Temos neste momento uma rara conjugação de fatores positivos que poderiam nos conduzir a ela. Eu acho que temos uma percepção ampliada na sociedade de que o sistema atual é disfuncional, é caótico, é complexo.

O Congresso deu mostras de que tem uma disposição reformista. Houve um amadurecimento no debate e todas as propostas convergem para uma mesma matriz, que é a de um IVA, um IVA de nova geração. Veja que as PECs que estão no Congresso têm mais ou menos a mesma matriz. Mas o que faltou, desde o primeiro instante, é uma clareza da direção que o Governo Federal deveria, ou pretenderia, conduzir esse assunto.

Arremedo de reforma

Reconheçamos, não se faz reforma tributária se o Governo Federal não se engajar firmemente. E agora, ao que parece, muito mais para jogar para o público, o que o Governo está oferecendo é um arremedo de reforma. É uma reforma minimalista, que não merece sequer esse nome.   E a reforma administrativa, que está tramitando na Comissão de Justiça da Câmara, é uma reforma de pequeno alcance também, é uma reforma que está longe de enfrentar as questões que efetivamente correspondem a essa necessidade de reformar o Estado brasileiro.

E aí devo dizer que passei a ficar muito pessimista com relação à possibilidade de que estas duas reformas, que são tão importantes, possam efetivamente avançar este ano. Estamos lutando, evidentemente, não me sinto ainda como alguém que desistiu, mas acho que há setores do Congresso que desejam ainda garantir o avanço destas reformas, mas sinto que o Governo perdeu o timing. Agora, devo reconhecer também, para dar esse crédito ao Congresso Nacional, que algumas matérias muito importantes foram aprovadas ultimamente, dentro da agenda microeconômica. Temas como a lei de licitação, lei de falências, lei do gás, o marco de saneamento, que está proporcionando por exemplo um novo ciclo de investimentos importantes nesta área e, porque não dizer, a autonomia do Banco Central.

Bolsonaro e o discurso militarista

Há um quadro de grande apreensão com essa situação a que chegamos. E eu lembraria a fala do presidente Bolsonaro em São Gabriel, no Amazonas, que me pareceu gravíssima também, onde ele afirmava uma posição, como se dissesse ‘olha, vocês são devedores, eu digo em relação aos Comandos Militares, porque neste meu governo tem mais militar do que nos governos da ‘Revolução’.  É como se você dissesse, ‘vocês estão me devendo’.

O centro político, Ciro e Tasso como nome do PSDB

Deixo a minha esperança de que este centro, que está aparentemente ainda fragmentado, possa se reunir em torno de uma discussão sobre um projeto, sobre uma agenda renovada para o País. Qual é a dificuldade do Ciro? A dificuldade do Ciro é que ele já se coloca como candidato. Então é uma posição difícil, porque quando você vai dialogar mais amplamente, e ele ao que parece quer ampliar o seu diálogo, ele faz no sentido de dizer ‘olha, eu ofereço a minha candidatura a vocês’. Então fica algo difícil.

Acho também que o Ciro perdeu, e vai perder, na medida em que tem algumas posturas mais recentes, que parecem claramente atender a uma orientação do novo marketing. Então eu tenho a minha preocupação de tentarmos construir um entendimento neste campo. Reconheço que o governador Eduardo Leite é um jovem político, um político promissor, mas eu me inclino, se a solução vier do PSDB, eu me inclinaria por uma figura com a qual eu convivi, e admiro muito, que é o nosso senador Tasso Jereissati. Tem uma visão de País, conhece o Brasil, esse é um ponto importante, é um homem do Nordeste. Então eu desejaria muito que ao final o senador Tasso pudesse merecer o apoio destas forças que estão ao centro.


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