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Missas e cultos presenciais!

O debate não é teológico e muito menos religioso. Ou se desejarem, o inverso. Ele está eivado da mais baixa politização do momento, com todas as nuances mórbidas de assalto a um tema, longe de ser oportuno ou essencial para o STF ou para o país. Enquanto Constantinopla cai, os clérigos e o próprio imperador, discutem o sexo dos anjos. Foi assim há 1600 anos atrás e se repete nesta república, a cada dia mais, embananada. Em desprezando a ciência desde o primeiro momento da pandemia, nada nos deveria escandalizar, vindo deste governo. Já ridicularizaram a máscara e o álcool gel, tentaram impor o kit covid como tratamento precoce, vociferaram contra o isolamento social, buscaram desmoralizar prefeitos e governadores, negaram a validade e a consequente necessidade da vacina, perderam a oportunidade de adquiri-las no tempo certo e agora, defendem como fanáticos religiosos, a abertura de templos para celebrações presenciais! O vírus agradece! Ninguém se engane! As citações bíblicas, a pretensa defesa da liberdade de culto, a pose como agentes de Deus contra o demónio, revela simplesmente a mediocridade perversa do governo que temos, movido por uma ideologia do atraso em todas as dimensões. Bolsonaro é um jogador de xadrez! Não tem nada de louco, como os seus defensores o tentam justificar! Não existe uma peça movida sem cálculo. Porém, com uma grande peculiaridade! Enquanto que num jogo de verdade, horas e dias são gastos buscando a vitória e o prêmio, com este presidente, cada jogada é um passo rumo ao abismo, à morte, à desconstrução do país, à falência de uma nação! Necropolítica pura! Aliás, sem surpresas! Isso foi, digamos, promessa eleitoral! “Não ficará pedra sobre pedra”! O mesmo, por outras palavras!

Pastores, pastoras, padres e bispos, assanhados, se regozijam com esta defesa governamental dos seus direitos de abertura! Ingenuidade? Não creio! Interesses. Em alguns casos, escusos; na maioria, acredito, enfoques teológicos equivocados. A presencialidade em qualquer religião me parece essencial. Não tenho dúvidas. No caso da cristã, o mistério é celebrado e vivido temporal e comunitariamente. Mas essa verdade fica por aqui. Em 2021, no Março e Abril mais mortíferos da pandemia, o quinto mandamento, associado aos preceitos científicos, congela as convicções mais genuínas dos religiosos e dá lugar a atitudes verdadeiramente sui generis, de qualquer religião que se preze: a vida acima de tudo! Não existem concessões! Prescinde-se de qualquer defesa das teses anteriores, mesmo se levada a cabo pelo Advogado Geral da União ou pelo Procurador Geral da República! Aliás, num estado laico, essa teatralidade é no mínimo, esdrúxula!

Entendo, portanto, que abrir ou não templos, não seja mais uma questão religiosa em sentido amplo ou restrito! É pura questão sanitária. Na peste negra, o papa da época, implantou lockdwon no Vaticano! Francisco fez o mesmo em 2020 e 2021. Na Europa, Conferências Episcopais se anteciparam a governantes, fechando suas portas. O bom senso parece ter ditado as atitudes de quem revelou plena consciência da gravidade do atual momento. Embora pesem prejuízos financeiros, pergunta-se a guizo de provocação, qual o país ou a instituição que os não teve! Os pentecostais estão deveras sentindo mais. Entendo, portanto, o seu grito que vem geralmente associado a uma compreensão literal da Bíblia. Não quero aqui fazer outros juízos sobre a partidarização política da maioria deles, que não só ajudou a eleger o atual governo, como parece lhe dar sustentação. Por outro lado, dos católicos em geral, da hierarquia, eu esperava algo diferente. Talvez alguém me negue a legitimidade desse “esperar”, mas confesso, que pela nossa história e reflexão teológica, em milhares de grupos de reflexão, ano após ano, uma atitude de vanguarda, se antecipando no fechamento dos templos, teria sido um baita de um testemunho! Afinal, é disto que a Páscoa nos fala! Testemunhos de Cristo ressuscitado!

A ausência de clarividência do atual momento político, por parte de muita gente dentro da nossa Igreja, é preocupante. A cumplicidade ativa ou sublimada com o atual governo, é dilacerante e escandalosa! A não compreensão das ideias maquiavélicas que povoam a mente de gente em Brasília, demonstra falta de assessoria ou arrogância nefasta. O Brasil vive o pior momento da sua história republicana. Recuamos em tudo. É, contudo, nos milhões de famintos que melhor se evidencia o desastre atual. O sangue dos justos brada ao céu. Os Lázaros debaixo da mesa nos julgarão. A denúncia e o enfrentamento dos que devoram a vida dos irmãos não é mais uma opção! São quase 700 mil mãos que nos apontam!

Pe. Manuel Joaquim R. dos Santos – Arquidiocese Londrina


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