Blog da Andréia Sadi
Na reunião que tiveram a sós, na semana passada, Jair Bolsonaro e Henrique Mandetta combinaram um “modo de convivência” durante a crise do coronavírus: o presidente continua na sua linha de que o isolamento vai provocar um caos econômico, e o ministro da Saúde continua recomendando que a população siga o confinamento, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as autoridades de saúde.
Apesar do que foi acordado no despacho, Mandetta repete a aliados que sabe que o presidente não o quer mais no governo — e aguarda o melhor momento de tirá-lo já que ele não irá se adaptar ao discurso político para permanecer no governo. Mandetta repete que as pressões dos ministros do governo por remédios sem comprovação científica, por exemplo, “funciona para a política, mas não para a ciência”.
Neste domingo (12), após a entrevista que deu ao Fantástico, Mandetta confidenciou a interlocutores que “seria coerente” o presidente reagir às suas críticas. “Faz parte”, comentou a aliados, segundo o blog apurou.
O ministro tem razão a respeito da indefinição de seu cargo. Após essa reunião de aparente “trégua”, na semana passada, o presidente fez uma live dizendo que “paciente pode abandonar médico”, em um trocadilho com a fala de Mandetta de que não pede demissão porque “médico não abandona paciente”.
Sobre a fala do presidente, quando questionado por interlocutores, Mandetta responde, em tom de brincadeira: “Aquilo ali o presidente aprendeu comigo”.
Uma das principais queixas do presidente com Mandetta é a falta de previsibilidade para a reabertura do comércio. Mandetta repete que quem vai ditar o tempo que vai durar o isolamento será a doença. Diz que o Ministério da Saúde adverte, “mas a doença educa, fala mais do que o ministro”.
Para aliados do ministro e também fontes palacianas, Mandetta está forçando sua demissão. Por isso, na avaliação desses políticos, Mandetta voltou a criticar — em entrevista ao Fantástico neste domingo (12) — atitudes do presidente contrariando normas técnicas durante a pandemia.
Se for demitido, esses aliados de Mandetta acreditam que ele criará uma espécie de “gabinete paralelo”, apoiado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, de quem Mandetta é amigo.
Enquanto o presidente não decide o futuro de Mandetta, a ordem no Ministério da Saúde é seguir trabalhando.