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Ana Arraes: uma peça nova no velho xadrez político pernambucano

Da editoria de Política JC Online

O desabafo que a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes direcionou na última semana ao seu neto, o deputado federal João Campos (PSB), mostrou ao Estado que fraturas aparentemente fechadas na família Arraes-Campos seguem abertas e incomodando os membros do clã. Na ocasião, a mãe do ex-governador Eduardo Campos e filha do também ex-governador Miguel Arraes não descartou candidatar-se ao governo do Estado em 2022 e cravou: “a origem política é minha. O nascedouro é meu”, colocando em segundo plano o próprio João, a sobrinha Marília Arraes (PT) e até o filho caçula, Antônio Campos (Pode), a quem a ministra tentava defender de críticas do neto.

Mas o que muda no xadrez político pernambucano com o retorno dessa personagem? Segundo o cientista político Arthur Leandro, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ainda é cedo para fazer projeções nesse sentido. O docente diz, contudo, que as declarações de Ana Arraes apenas mostram o aprofundamento de uma crise que nasceu após a morte de Eduardo, em 2014, quando vários membros da família iniciaram uma disputa pelo espólio do socialista.

O analista frisa ainda que, apesar de tentar apropriar-se da herança política de Arraes e Eduardo, a ministra tem tanta tradição política quanto o filho, o neto e a sobrinha. “Ana Arraes veio disputar uma eleição tardiamente (em 2006 foi eleita para o primeiro mandato na Câmara dos Deputados). Ela se lança candidata no momento em que Eduardo já era uma figura conhecida, ele já era o herdeiro de Arraes. Então, embora ela se coloque como a origem do clã, em grande medida ela é filha de Eduardo. Foi o lançamento das pretensões inclusive presidenciais de Eduardo Campos que sustentaram eleitoralmente o nome de Ana Arraes. Ela foi para o TCU como a mãe de Eduardo. Portanto ela seria uma figura nova do ponto de vista de uma disputa majoritária”, explicou.

Professor da Asces-Unita, o cientista político Vanuccio Pimentel destaca, também, que, caso a ministra queira levar a cabo sua candidatura ao governo de Pernambuco em 2022, provavelmente terá que encontrar uma sigla que apoie o seu projeto, pois deve não encontrar espaço no PSB, partido ao qual esteve ligada até 2011, quando assumiu o cargo no TCU.

“Os Campos têm uma influência muito grande nesse jogo interno do PSB, muito maior do que qualquer outra liderança, inclusive no caso de Ana Arraes. Uma coisa é o legado político, outra coisa é a disputa no PSB. Essa luta (no partido) não existe, ela já está ganha pelos herdeiros de Eduardo. Eles têm um peso muito grande e um apoio interno muito significativo”, detalhou Pimentel.

ELEITORES
Sobre os impactos que clãs políticos porventura ainda exerçam sobre o eleitorado, os analistas consultados pelo JC declararam opiniões distintas sobre o tema. Para o cientista Antônio Lucena, por exemplo, desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ficou claro que o eleitor brasileiro está diferente. “O eleitorado não tolera mais certas coisas (o voto em alguém apenas pela sua origem familiar). O problema é que, em Pernambuco, uma oligarquia familiar conseguiu se consolidar no poder, e agora tudo vai depender das alternativas que serão apresentadas nas eleições. Na eleição passada, a população já indicou que queria uma mudança, mas a estratégia da oposição foi ruim. O principal candidato foi Armando (Monteiro – PTB), muito ligado a setores considerados retrógrados pela sociedade, e o resultado é que as pessoas preferiram apostar naquilo que já conheciam”, disse Lucena.

Ernani Carvalho, professor de ciência política da UFPE, por sua vez, preferiu ter cautela ao analisar o cenário. “Herdar tradição política é muito comum, mas herdar com sucesso é uma coisa completamente diferente, tem que ter talento, capacidade de interagir com aquele meio. A política é um mercado aberto, e, se ela (Ana) entra nesse mercado tentando avocar para si uma tradição familiar, vai disputar com outras pessoas. Isso não vai ser fácil”, cravou o docente.


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